segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O pós-modernismo


Definitivamente não quero entrar no mérito matemático da política. Façamos de conta que, em política, o bem-estar da polis é a única coisa que interessa, aliás, uma das mais importantes, pois também há um momento, na política, em que optar pelo mais digno, honesto e (ou pelo menos) humanista, é a escolha correta.
Mas o que dizer do candidato Gabeira estar isolado no Rio? Apenas o “Menino Maluquinho” o quis apoiar (por razões óbvias). No entanto, o que dizer do Gabeira em primeiro lugar, nas pesquisas de intenção de voto (dá para confiar nas pesquisas?), sem o apoio da esquerda, da direita, do centro ou da igreja? Alguma coisa está mudando para melhor neste meu Estado.
A pergunta, contudo, é esta: o que faz o PT apoiando o Paes? Uma cadeira? Uma Secretaria na prefeitura? Vale a pena expor a pele à queimaduras difíceis de cicatrizar por uma mísera Secretaria ou coisa que valha? Vale a pena estar inserido num sistema brutal onde o capitalismo selvagem disfarçou-se de socialismo barato e, em nome de um torpe e sem-vergonha assistencialismo, governará apenas para uma classe social? Apenas para uma raça ideológica (a que quer matar porque, afinal, sai mais barato que educar)?
Paes é o legítimo representante do neo-liberalismo peemedebista. Gabeira, se não é lá essas coisas, pelo menos possui alguma história de comprometimento e engajamento sócio-político. O que a Jandira faz apoiando Paes? Molon? Gabeira não deveria ser o representante natural da esquerda neste segundo turno? Se não o é, seria o Paes? O Paes? Não acredito. Se houvesse coerência, ou a esquerda não apoiaria ninguém ou pediria a anulação do voto (como já o fez em épocas menos politiqueiras).
Esqueçamos por um instante que a política não é feita da matemática pindorama e picareta e, definitivamente, perguntemo-nos: o que faz a esquerda apoiando o Paes? Existe esquerda? Aliás, o que faz a direita apoiando o Gabeira? Eleição paradoxal? Isto existe em política?
Meus amigos, em se tratando de política, o paradoxo é a relação mais coerente que existe.
Aliás, meus amigos, dando a cara a tapa, ouso dizer que esta não é a síndrome principal da perda de identidade que, aos poucos, entranha no iluminismo político. Mas é, antes de tudo, a comprovação básica de que a política é pós-moderna.

12 comentários:

Cris disse...

Posso discordar de você, professor? A política não é pós-moderna; É surrealista.

Ótima semana pra você.

Roy Frenkiel disse...

Infelizmente, Marcelo, meu prato esta cheio com as eleicoes dos Estados Unidos, e nao acompanho nem mesmo as eleicoes municipais de Sao Paulo. No entanto, ja que namoro uma mineira pra la de bacana, sei de algumas anedotas Belorizontinas. E, lendo o que escreves, entendo que realmente algo esteja mudando no Brasil. O surreal sempre existira, isso nao eh novidade, nem mesmo ilogico. O que nos, como pessoas, como individuos, devemos fazer, eh continuar estudando, criticando, e concretizando.

abrax

RF

Loba disse...

Vou pegar carona no comentario do Royzito que namora uma bhztina pra falar não apenas do meu espanto como da minha indignação pelas alianças da (que já não sei se se pode chamar de) esquerda. Menino, PCdoB se aliando a PMDB, PT se aliando a PSDB. Aí a gente esquece a legenda e vai em busca de diferenciais nos candidatos. E descobre que talvez seja melhor praticar o que sempre se foi contra: o voto nulo!
Mas no Rio eu seria Gabeira - antes eu seria Jandira.
Beijo

Moacy Cirne disse...

Só espero que Gabeira não leve para o seu palanque carioca a natalense Micarla (eleita prefeita da capital do meu Estado, igualmente do PV), a expressão mais completa, em nossa terra, de uma verdadeira "analfabeta política" (mas muito da esperta!), apadrinhada por José Agripino "Rabo de Palha" Maia. Um abraço.

Anônimo disse...

A política partidária não é pós-moderna não, Marcelo. É simplesmente nojenta.

Você lembra a recomendação do voto nulo (que já foi uma estratégia - legítima, diga-se de passagem - usada pela esquerda, inclusive pelo PT). Qual cacique do PC do B ou do PT vai ter essa coragem agora, quando todos - eu disse todos - só querem saber da sua "boquinha"?

Estou perto, bem perto de desistir da participação eleitoral daqui por diante.

Um abraço, Marcelo. E ótima discussão levada aqui.

Jens disse...

Oi Marcelo.
Respondendo a tua pergunta - Gabeira não deveria ser o representante natural da esquerda neste segundo turno? Não, faz horas que se bandeou para o lado do PDSB, do PPS e outros demônios. Não é um fenômeno novo - esquerdistas, na maturidade, repousarem docemente nos braços acolhedores da direita raivosa. Ele pode estar sozinho no RJ, mas em Sampa tem o apoio entusiasmado do Serra. O Eduardo Paes é outro que eu não permitiria cuidar do Zeca, o meu microtoy com alma de pitbull, quanto mais governar uma cidade. Que o PT o esteja apoiando, é lamentável, para o PT carioca. Diante do cenário no Rio, o voto nulo não é uma opção. É um dever cívico.
Um abraço combativo.

Anônimo disse...

É Marcelo, política é muito complicado de entender. Eu sou PTista há 10 anos desde quando comecei a votar, mas ultimamente já não consigo mais entender o qual é a do PT? Graças a Deus aqui no Sul a Maria do Rosário (representante do PT) é uma excelente pessoa e candidata, mas provavelmete não vá ganhar, por pouca diferença, mas acho que não.
Enquanto ao PT apoiar Paes? "Viver ultrapassa qualquer entendimento" Clarice Lispector....srsrsrs

Bjão querido!

Renato Couto disse...

Um jornal, colocou a foto do Vladimir Palmeira, solto graças a ação guerrilheira, entre outros, do Gabeira, abraçando (des)envergonhadamente o Eduardo Paes, com o título: Você pagou com traição...

o refúgio disse...

Marcelo, você falou uma coisa interessante, "a política é pós-moderna"... Na verdade não acho que a política seja essencialmente pós-moderna, mas está se tornando essa coisa sem identidade que caracteriza a pós-modernidade que, se por um lado é interessante por estar aberta às diferenças por outro se perde por não ter a coragem de falar a verdade...
Ah, a elegância é Marcelo Carvalho!

Vais disse...
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Vais disse...
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Vais disse...
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