segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Cotidiano

A eleição acabou? O dólar subiu? Quantos morreram?
O jogo do Flamengo é amanhã?
Será que esse tempo maluco vai dar chance pro sol?
Colocou a cerveja no gelo? Comprou a carne que eu pedi?
O presidente falou reticências? O governador disse exclamação? E o prefeito? Foi eleito com quantos votos?
O vereador do vizinho ganhou? Tomara que não! Se fodeu? Que bom!
Você vai falar de sexo comigo?
Você vai dizer que a vida é atabalhoada?
Você vai dizer que eu não faço sentido?
Vai dizer que é conversa fiada?
A eleição acabou? O dólar subiu? E a bolsa?
Joga fora o jornal, desliga a tevê, olha para mim:
A vida não vai mudar em porra nenhuma.
Quem continua a produzir é a gente,
os mesmos de sempre.
Ousaria dizer que:
A miséria não cabe no poema.
Como não deveria caber o político que vive da miséria alheia, que se elege à luz da ignorância e degradação humanas.
Mas, como já afirmou o Gullar:
O poema, senhores,
não fede nem cheira.
E eu também não.

Um comentário:

Jens disse...

Beleza de poema, Marcelo. A vida continua ou como você mesmo diz: "Quem continua a produzir é a gente, os mesmos de sempre." Se eles não roubarem, já está ótimo.
Um abraço.