quinta-feira, 5 de junho de 2008

Biocombustíveis e alimentos


As mãos invisíveis por trás da notícia
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Monteiro Lobato, mais do que um grande escritor, foi um dos pioneiros do petróleo brasileiro. Lutou para que o Brasil pesquisasse e produzisse petróleo. E, por isso, foi preso duas vezes pela ditadura de Getúlio Vargas.
Petróleo é isso: grandes empresas (as Sete Irmãs, que hoje já não são sete) fazendo pressões para que o petróleo apareça quando é conveniente e onde seja conveniente; e que permaneça insubstituível. O carro a vapor Stanley, que chegou a fazer sucesso, acabou depois de alguns acidentes (que também ocorreram com carros a gasolina) – e de pesada campanha de imprensa contra os perigos que oferecia. Henry Ford, em 1916, quis mudar o combustível do modelo T de gasolina para álcool, que considerava melhor e mais limpo. Convenceram-no a desistir. Quando o presidente mexicano Lázaro Cárdenas nacionalizou o petróleo, as Irmãs abriram os diques, para que o mar invadisse a área dos poços.
E, com todo o material histórico à mão, nossa imprensa ainda entra na história da falta de alimentos por causa dos biocombustíveis!
OK, há setores da Igreja Católica que condenam os biocombustíveis porque exigem grandes extensões de terra, há quem critique os biocombustíveis porque ajudam a manter a primazia do transporte individual, há quem condene especificamente a cana-de-açúcar por causa das queimadas ou por considerar inaceitáveis as condições de trabalho impostas por determinados usineiros. São posições de princípio que merecem respeito. Mas os meios de comunicação deveriam ser mais sofisticados: a indústria do petróleo, como a do cigarro, trabalha debaixo do pano para que ninguém abale seu predomínio.
Quem acusou a produção de álcool pelo preço em alta dos alimentos? Sim: o FMI e o Banco Mundial – que nunca, antes, se preocuparam com qualquer assunto diferente de moeda e financiamentos. E a União Européia, que não tem condições de produzir álcool, mas é sede de várias das Sete Irmãs.
Na imprensa brasileira, apenas Antônio Machado de Barros, em sua coluna no Correio Braziliense, foi buscar os fundamentos da guerra aos biocombustíveis. Mostrou que a Grocery Manufacturers Association, que reúne a indústria de alimentos e bebidas dos Estados Unidos, contratou uma empresa de lobby, a Glover Park, de Washington, para ligar a imagem da lei americana que abre caminho aos biocombustíveis "à fome global, às demissões na indústria de alimentação e à inflação". Para isso, pode contratar especialistas – cientistas que, para a opinião pública, figuram não como funcionários da indústria, mas parecem imparciais.
Vale a pena entrar fundo no assunto, buscar pautas nas publicações internacionais, fazer reportagens . Ou alguém acha que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo vai aceitar pacificamente a redução do valor de sua riqueza?

Um comentário:

Loba disse...

Também acho que vale a pena insistr, persistir no assunto.
Eu não sei se estou visitando poucos blogs jornalísticos ou o assunto não chamou a atenção devida,mas o seu é o primeiro onde li sobre. (só escrevo besteirol, mas gosto de ler o que é interessante! )
Um beijo professor!
ah... tb sou das Letras ( embora eu viva desvirtuando-as! rs...)