Tive uma oportunidade linda de beber
(claro, álcool e tabaco não podiam faltar. Hoje já dispenso o tabaco, mas a
cerveja continua parceira) com um sujeito absolutamente reflexivo, camarada e
generoso. De família abastada e “fazendeira”, lá do Centro-Oeste, com
influência política enorme, decidiu debandar cá para o Rio de Janeiro, para a
política e para a “subversão”. Virou “esquerdista” e ateísta, para o horror do
pai religioso e oligárquico. Veio para o município de Belford Roxo, Baixada
Fluminense, exercer a função de dentista em posto público, atendia a todos,
inclusive aos portadores do HIV (numa época em que poucos faziam), candidato a
prefeito, semeador de ideias que refletiam a igualdade social, a justiça para
todos. Queria um mundo melhor. Só isso.
Gostava dos botecos e de um belo
conhaque, belas cervejas, um bom papo, uma simpatia contagiante. Era torcedor
do Vasco da Gama (pois era humano, logo, imperfeito) e tinha um riso que me
lembrava uma personagem dos desenhos animados dos anos 80.
Não penso que poderia ter aprofundado a amizade, não fico lamentando
isso. É quase uma violência perder-me nesse tipo de pensamento e deixar de lado
o mais importante: num mundo onde todos querem o seu lugar na poltrona do
Personalité, onde a exposição e a ostentação viraram dois amantes queridos e
reverenciados, onde ser feliz é ser financeiramente bem sucedido, conhecê-lo
foi surpreendente, e isso me basta.
A gente pensa que, por termos origem e vivermos nos subúrbios, nas
cidades-dormitórios, com preocupações patéticas como a conta do IPTU, do IPVA,
da luz, não teremos – ou teremos pouquíssimas – possibilidades de vislumbrar gigantes. De
vê-los de perto, conversar com eles. Pensamos isso porque, na nossa mente
limitada, olhamos para cima e esquecemos da verdadeira grandeza de um gigante:
estar entre gente como a gente, ao invés de sentar em tronos.
Digo isso porque algumas vezes na minha pouca vida temporal encontrei-os no
meu cotidiano e só os percebi esplendorosos quando parei de olhar para eles e
percebi o que eles haviam mudado em mim. Bem, hoje faz um ano que um deles
parou de existir fisicamente. Dá saudade, mas a gente vai resistindo à tentação,
o correto nesses momentos é dar um pulo da cadeira, encher o peito e gritar:
presente!
Um comentário:
Lindo e emocionante, Marcelo! Exatamente isso!
João Pedro! Presente!
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