sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Sob a Pele


            Não, não foi fácil. Quando terminou o filme, senti um certo desconforto e irritação. Achava ter perdido o meu precioso tempo. Filme lento com ênfase nas situações evolutivas de aprendizagem, cálculo ou conflito do alienígena Johansson.
            Não, não foi fácil, mas depois veio aquele incômodo que me norteou por algum tempo depois da projeção. Sensação de ter perdido alguma coisa, alguma chave que deixava cair entre a dúvida do tédio e a incerteza da obra produzida.
            Não, meus amigos, Sob a Pele (Under the Skin) não é um filme com a deusa Scarlett Johansson nua. É, antes, o oposto disso. A nudez ali não tem sintonia com o erotismo. Há muito mais sensualidade e pornografia no seu andar sedutor, conduzindo as suas “presas” para o inevitável destino, aliado ao seu olhar hipnotizador e sorriso de esfinge Mona Lisa, do que o seu corpo despido. O corpo, quando confrontado no espelho, serve, apenas, para a amálgama entre a imagem e o alienígena. É o outro cultuando a nós, tentando ser-nos, como uma celebridade que, no olimpo, precisa dos mortais para poder existir. Copula com eles. É a atração da estrela e o seu povo.
            E depois de andar no nosso meio e se alimentar de nós mesmos, eis que o processo evolutivo o impulsiona para a trágica humanização. E é quando, justamente, aprende a nos amar que, confrontada no espelho, encontra a morte pelas mãos desumanas e cheias de instinto.
           Sob a Pele é sobre a nossa sociedade cultuadora, sobre nossos espelhos e sobre o outro (que caminha sobre a água) que nós queríamos ser (ou confrontar).
            Bom ou ruim, causa reflexão. Só não sei se vi um filmaço.


Under the Skin – 2013 – Direção: Jonathan Glazer


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