quinta-feira, 3 de março de 2011

Lavínia, linda Lavínia!

Cheguei antes do carnaval. Era para falar da Mangueira, minha Escola 1ª, minha paixão infantil. Era para falar da festa da carne, da cerveja gelada, da picanha na brasa, da praia que amanhece rosada e da ressaca humana. Eu queria falar de sexo, do gozo com careta – intenso, suado, petrolífero. Era pra falar do PIB brasileiro e dos 7,5 crescidos, mas...

Cheguei antes do carnaval pra falar um pouco da Lavínia. Linda Lavínia, Lavínia de Lavínias livres. 06 anos. Morta com o cadarço do próprio tênis. A assassina: a amante do pai de Lavínia, Linda Lavínia. Pensei, ao ler a notícia, tratar-se de uma revisão da peça teatral do Chico e do Pontes, mas percebi, não sem alguma náusea, que a notícia era crua, sem vida, não-literária. Não era Chico. Não era o Marcelo lendo a notícia, era o rinoceronte de Clarice. Era Drummond soletrando o mundo, sabendo que o perdia. Era o vômito da sociedade pequena, do humano miserável. Lavínia é o espelho de João Hélio.

Cheguei antes do carnaval, mas não sou nenhum Fausto Wolff, portanto, ficarei com as palavras do meu amigo e, também, blogueiro, Flávio L. Mesquita:

A Medéia dos tempos modernos é fruto de uma vida marcada pela miséria caótica que nos reduz a pó.

Desgraçadamente, não há Jasão, argonauta ou velo de ouro, mas sim, uma dependência doentia de uma amante que, ao fim de sua empreitada, pretendia fugir com R$ 2 mil............................................................................
Essa mesma miséria que nos choca por sua crueza e falta de humanidade.
Infelizmente, a tragédia suburbana dos jornais não tem nada de poética.

5 comentários:

pirata zine disse...

a beleza de seu texto - pq legítimo, como só um pai poderia compor - é o que doma os meus monstros que, mediante tais tragédia, imploram pra sair.
baita abraço, Professor xará!

BirdBardo Blogger disse...

Isso é um fruto de uma sociedade competitiva e individualista aonde o essencial é o que é fútil.

dade amorim disse...

Às vezes dá vontade de sumir, fugir do convívio com as pessoas. Porque, afinal, é gente que pratica esses atos estúpidos e monstruosos. São monstros, vá lá, mas nós convivemos com eles e é assustador. E nossos filhos, nossos netos, as pessoas que amamos, correm esse risco também.
Sei não, qualquer dia desses subo a montanha e fico lá em cima, longe de tudo e de todos.

Marcelo querido, o Coluna do Meio está saindo de cartaz por várias razões. A principal é falta de tempo pra tudo, alguma coisa tem que parar. Mas você nem imagina como tem sido bom ver gente boa como você e outros amigos da rede deixarem lá sua solidariedade e simpatia. O Umbigo continua, ao menos por enquanto, e o blog de poemas é o que está me ocupando mais, por conta de uns trabalhinhos e de um livro em preparo.

Ui, acho que falei demais.
Obrigada por tudo, e não some não, viu?

Beijo.

Roy Frenkiel disse...

Nessa feiura advogo feiura. Assassinato publico dessa amante, pelas maos da mae da menina, se existe.

Jens disse...

Oi Marcelo.
Faltam adjetivos para qualificar este assassinato. Revoltante, monstruoso? Tudo isto e muito mais. A impressão que tenho é que a nossa sociedade está passando por uma insana epidemia que se traduz em violência por motivos frívolos, onde a vida humana vale cada vez menos.
O assassinato de Lavínia é um dos símbolos deste horror, mas, temo, não será a gota que fará transbordar o copo da indulgência popular com ações desta natureza hedionda.
Já passou da hora de promover uma reforma ampla do Código Penal, estalecendo punições implacáveis para os criminosos.
No entanto, creio que isto só acontecerá a partir da organização autônoma da sociedade, visto que a classe política é podre, mais interessada em saquear os cofres públicos em benefício próprio e de apaniguados, e o Judiciário igualmente cheira mal, protetor que é em relação aos tubarões do crime e indiferente quanto à arraia miúda.
Do jeito que está, a legislação é um estímulo para a bandidagem, seja ela de colarinho branco ou pé de chinelo.
Lamentavelmente, outras Lavínias virão e os Daniels Dantas tão cedo não nos deixarão. É a peste.

Abraço.