Vamos ser francos: era inevitável e, para muitos, salutar o que aconteceu no Rio de Janeiro. Obviamente, o marketing midiático e político que denominaram os acontecimentos, chamando-os de “Guerra ao terror (isso não te lembra alguma coisa de igual falácia?)” ou “o confronto do bem (Estado) contra o mal (traficantes)” soou ridículo, apesar de transmitir os olhares e sentimentos de muitíssimos cariocas e fluminenses (maioria, diria).
Nada contra o Estado fazer valer a sua autoridade e tomar o que é seu. Na favela (ou comunidade, ou seja lá que nome em voga colocaram para favela, puro eufemismo) ou no condomínio de luxo da Zona Sul do Rio, quem manda é o Estado, ou deveria ser. O problema é que o Estado não manda em porra nenhuma, nem no condomínio (onde a classe dominante – que domina o país – dorme), muito menos nas comunidades carentes (onde dormem os massacrados, os fodidos e, é claro, os bandidos). O Estado há muito se conformou com as suas máquinas corruptas e superestimadas que, há muito, fingem trabalhar direito e/ou honestamente. A polícia, por exemplo, sempre conviveu com o “poder paralelo” e dele tirou (tira!) proveito ao máximo. Alguém consegue adivinhar quantos funcionários e políticos estão descontentes com a operação no Rio? Ou melhor: será que a operação não exterminará uma facção em prol de outra? Será que tudo foi culpa de um bilhetinho que um advogado-bandido pegou no presídio e repassou às favelas ou pura omissão de um Estado que, sabendo da ordem, deixou a bomba estourar para tirar um melhor proveito disso: invasão sem contestações ou críticas? Quanto dos erros humanos foi colocado na conta do diabo só porque o chifrudinho estava na bola da vez? Perguntas, perguntas e nenhuma resposta. Tenho muitas teorias da conspiração e, quer saber? Depois da Guerra do Iraque, não descarto hipótese alguma. Sabem Por quê? Digo, pois.
A partir do ano que vem acontecerá o Rock’n’Rio 4, Copa das Confederações, Copa do Mundo, Olimpíadas... O caos aconteceu justamente no limite-tempo chave para que tudo pudesse ser tomado, ocupado e infringido de forma rápida, cabal e sem muitas críticas, muita análise. Aliás, se tudo correr como o planejado, este governador estará automaticamente apto a se candidatar à Presidência do Brasil. Lindo, não? Mas coincidência?
Não sou a favor da pena de morte, mas devo confessar que não reconheço traficante como gente. Estuprador, então. Logo, é preciso digitar a minha parte de culpa: não sinto nada por um bandido morto. A questão é: quem os criou e por que existem as favelas? Eis algo em que a sociedade se mostra despreparada para reconhecer: ela criou a favela (quando afastou os pobres dos ricos – começo da desigualdade e construção da ponte imaginária) e, agora, mata os seus filhos (criados quando o Estado não se faz presente).
Não, não sou ingênuo, o tráfico de drogas não acabará (mercado de bilhões de cifras) e bandidos não farão faculdades por causa das UPPs. Espero apenas que, depois da euforia, busquemos a história verdadeira, investiguemos os fatos concretos e subentendidos e, mais importante, tenhamos o mínimo de decência para explodir a ponte invisível.
3 comentários:
Fiz uma análise parecida sobre a ocupação em meu blog Prof. espero que comente depois. Infelizmente o eufemismo sobrepôs a qualquer crítica nessa "ocupação" para vigiar e punir o pobre e fudido.
Oi Marcelo.
Pertinente a ligação com os acontecimentos culturais e esportivos que vão se realizar num futuro próximo. Possivelmente, estão limpando o terreno, a exemplo do que fizeram por ocasião do Pan. Seja como for, é louvável a ação do Estado, ainda que tardia, no combate a criminalidade. Este movimento deve ter continuidade com igual determinação no enfrentamento da corrupção policial (a propósito, integrantes das forças da ordem roubaram 31 mil reais que um morador do Complexo do Alemão havia recebido de indenização trabalhista). Agora, depois da polícia e do exército, é hora do Poder Público marcar presença na comunidade (ou favela) com serviços básicos de educação, saneamento e saúde, entre outros, capaz3es de proporcionar um mínimo de dignidade que aquelas pessoas nunca tiveram. Caso contrário, tudo terá sido mise en scène para inglês ver.
Ah, sim: a Globo correu na frente. Um dia depois da ocupação do território os vendedores da Net Combo aportaram na favela. Numa tarde venderam 200 assinaturas de tevê a cabo. Como sempre, "eles" não perdem nunca.
Um abraço.
Marcelo, o prof. Claudio Beato, do Núcleo de Estudos da Violência, aqui da UFMG, observou algo interessante. A economia do tráfico tal como se mantém já não tem muito futuro (o tráfico continuará, obviamente, mas será necessária outra organização). Aí vem um trecho da sua postagem que me chamou atenção:
"A polícia, por exemplo, sempre conviveu com o “poder paralelo” e dele tirou (tira!) proveito ao máximo. Alguém consegue adivinhar quantos funcionários e políticos estão descontentes com a operação no Rio? Ou melhor: será que a operação não exterminará uma facção em prol de outra?"
Essa outra facção seriam as milícias, não?
Eu não tenho dados sobre a situação do RJ e não vivo aí, mas desconfio que a situação não é muito diferente do que ocorre em outros grandes centros (como BH): os órgãos de segurança
não são confiáveis! Acho que estão altamente contaminados por corrupção (com dinheiro da própria criminalidade, óbvio), o que acaba comprometendo qualquer ação do Estado (seja ou não filmada pela mídia).
Não tenho nenhum otimismo com relação a esse tema.
Um abraço.
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