segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Horoborus

E chagamos ao começo de mais uma jornada política. Um ciclo se fecha e outro se inicia. É o horoborus de todos nós, o fim e o começo, a regeneração. Mas não foi um parto fácil, nem foi uma campanha no qual o respeito às instituições e à integridade humana tenham sido minimamente respeitados. Abusos de ambos os lados e exaltações torpes foram postos em prática. Pena. Pena?

Bem, de certa forma... Foi bom.

Bom? Fiquei maluco? Não.

A jogada suja e o cinismo que certos veículos de comunicação impetraram ao longo da campanha presidencial é o retrato grosseiro de que tanto os donos desses veículos quanto os verdadeiros interessados pela rasteira e covarde manipulação da notícia ainda não sabem conviver com a democracia, nem nasceram para respeitar o desejo autêntico dos “pequenos”. Contudo, ao contrário de 1989, um veículo fantástico correu junto e contra as famílias oligarcas e fez, ao seu modo, uma diferença incontestável: a internet – último reduto utópico da democracia, guardiã da verdadeira liberdade. A internet revelou, no meio do asfalto, que havia homens lendo jornais e decifrando a vida sabendo que a perdem.

Para cada frase tendenciosa que o Sr. Homer Simpson vomitava, via teleprompter, escrita pelo único ser que não acredita no racismo brasileiro, Sr. é ali o cigarro Camel, 10 frases contrárias eram escritas na internet. Eram os sítios, os blogues, as redes de relacionamento, todos reproduzindo ou expelindo a verdade e a mentira. Era a guerra suja repercutindo, mas de maneira equilibrada, como deve ser (não a guerra, mas o equilíbrio). Os “blogues sujos” fizeram muita diferença.

Portanto, o lodo publicitário da campanha revelou, sim, algo positivo. Pena mesmo foi termos debatido religiosidade e aborto ao invés de projetos de construção e solidificação de um Estado (que precisa ser laico!). Pena termos perdido a chance de debater e refletir com sobriedade.

Após esta eleição, alguns danos podem vir a se materializar. O mais importante (e perigoso, diga-se de passagem) é a destruição da credibilidade de vários veículos de comunicação. O caso da bolinha de papel é um exemplo claro. A Globo viu algo mais. Outros, não viram mais nada além da bolinha. Mas esta foi a questão? Não. Visto por todos os lados, foi um desastre a manutenção do caso. O que era reprovável (a violência, o confronto) ficou como objeto secundário. Nem vou aqui entrar no mérito da própria manipulação da violência e sobre como é fácil colocar 3 ou 4 animais no meio da multidão a fim de desencadear a violência. Digamos que o confronto foi entre partidários legítimos do governo e da oposição, quem viu mais de 2 telejornais horas depois pode comprovar o quanto uma notícia pode se desmembrar e repercutir de formas diferentes. As edições da notícia alcançaram níveis de ilusionismo. Cômico, se não fosse trágico. E a bolinha de papel? Virou assunto recorde no twitter, samba da Portela e alimento de comediantes.

Não afirmo que a internet mudou os rumos da eleição. Seria irresponsabilidade minha escrever tal coisa, mas contribuiu para que o equilíbrio e a voz discordante viessem à tona. Isto é um avanço, um sonho e a certeza de que a história do jornalismo começa a ser reescrita no Brasil: o dia em que a maior emissora de televisão brasileira virou apenas um canal de televisão.


4 comentários:

o refúgio disse...

é isso aí, querido. e vamo que vamo...
beijo

Jens disse...

Interessantíssimo o artigo professor Marcelo. No futuro, os historiadores se encarregarão de apurar com mais precisão o papel da internet na eleição. Como você, não me atrevo a dizer se a web foi fundamental na definição do resultado do pleito. Mas alguma coisa, definitivamente, mudou no reino de Macunaíma. O império formado pelas quatro famílias midiáticas sofreu fissuras. A extensão delas, o tempo dirá.

Um abraço.

Renato Couto disse...

A análise do Jens é de fina sintonia. Se o velho Leonel, fosse ainda vivo e estivesse no páreo, faria um estrago daqueles (no bom sentido, assumo pois, meu Brizolismo)...

BirdBardo Blogger disse...

Eu precisei fazer uma tomografia depois que a globou manipulou o víde e Carlos nascimento no SBT se propôs a José Serra a "negar" o vídeo no qual demonstra em 11 minutos a farsa Global. Não adianta a Fátima Bernardes fazer beicinho e as tias responderem boa noite a Will Bonner, acabou-se! Depois da internet não existe monopólio da "opnião"