“Por que eu? Minha irmã era, é muito mais bonita”. E ela nunca
entendeu bem o porquê da escolha ou a movimentação dos astros.
“Porque você brilha quando sorri com os lábios fechados, lábios
carnudos e bem feitos, com os olhos grandes de jabuticaba e
lindamente sedutores. Porque você explode quando gargalha, quando
ajeita os cabelos rebeldes”. E ele gostava da voz rouca, do jeito
triste de ficar séria, da facilidade em dizer foda-se.
Depois que ficaram, outras coisas e momentos incorporaram-se
naturalmente àquela especulação. Ele tinha fascínio pelo formato
do seu rosto, pelo jeito como ela beijava, sua paixão e excitação,
seus seios pequenos, seu espírito decidido.
Claro que ele era muito infantil para ela, uma mulher completa em
todo o seu estado de luz e sombras e, naturalmente, demorou pouco pra
ela perceber isso. O término não foi grande coisa, ele sabia
disfarçar a dor e atuar sobre a superfície do choro e foram
abraçados e fazendo brincadeiras que se despediram àquela noite.
Ela não teve dificuldade de ajeitar a vida, pois pulsante e
imediata, sabia de cor fazer omelete com os ovos quebrados; ele
sofreu um pouco, pois pulsante e exageradamente abraçado a coisas
como The Cure, e por que não? Ele era desse jeito meio dark
e a beleza peculiar de se mover no mundo com essa visão niilista era
um charme a parte; e ele viveu para desmentir isso e não ser
convincente.
Certamente eles encontraram outros amores, pois viver demanda um
bater de coração constante, mesmo que não ritmado. E soluços e
contratempos fazem parte dos caminhos escolhidos. Uns falam que é
preciso para que se haja evolução. Ele acha, apenas, que, enquanto
matemática, números negativos e/ou fracionados também estão
dentro do conjunto, e foi vivendo com ou sem dificuldade.
Um dia, encontraram-se num café, ela diz que havia sol, ele jura que
ameaçava chover. Ela pediu frapê, ele, expresso. “Nunca entendi o
porquê de você preferir a mim”, foi o que ela disse quando se
sentaram. Ter respostas era algo absolutamente necessário para o seu
espírito desbravador. Ele olhou-a com muita atenção enquanto fazia
esta, para ele, pergunta boba, e reparou que ela sorria de lábios
fechados, com o olhar radiante. Passaram-se 15 anos e a mulher
continuava explodindo na retina dele.
“Eu te amo. Não sei explicar de outra forma.”
Despediram-se prometendo um novo encontro que nunca aconteceu. É do
fluxo essas pequenas mentiras, um bálsamo.
E ele nunca conseguiu esquecer a explosão de cores que eram o olhar
e o sorriso dela, mas foi feliz à sua maneira e nunca deixou
transparecer a energia atômica que carregava dentro de si. Seus
filhos questionavam, às vezes, o porquê de tanto silêncio em dias
de muito brilho e praia; ele apenas sorria e abaixava a cabeça. O
amor também tem as suas quietudes.
Um comentário:
Lindo texto!
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