sábado, 20 de fevereiro de 2016

Umberto Eco: A morte e a “legião de imbecis” nas redes sociais

Por Leonardo Sakamoto 
Blog do Sakamoto 

Não, você não é obrigado a conhecer Umberto Eco.

Talvez o único contato direto que tenha tido com uma obra do recém falecido escritor italiano seja aquele filme estranho… como é mesmo o nome?… tinha flor no título, não?… passou um tempo atrás no Corujão… com o cara que fazia o 007… sim! o Sean Connery… e tinha um monte de monge… enfim. Digo contato direto porque sua produção influenciou o pensamento no século 20 e, portanto, a minha e a sua vida indiretamente.

Mas não sendo obrigado a conhecer Umberto Eco, saiba que você também não é obrigado a postar besteiras nas redes sociais sobre alguém que não conhece só para ser o diferentão no momento em que muita gente comenta o seu falecimento, ocorrido nesta sexta (19).

Não sei nem porque estou me lamuriando. Eu tinha certeza que quando desse meu mergulho matinal nas redes sociais, teria vontade de arrancar meus olhos após ver certas coisas. Para entenderem o que quero dizer, chegou ao ponto de chamarem o homem de “petralha''.

E por quê? Porque uma pessoa com pensamento de esquerda havia elogiado o escritor. E para muitos que não têm conteúdo e não almejam tê-lo, basta saber que, se o seu “inimigo'' admira alguém, esse alguém é um bosta. E, imediatamente, atribuir a ele uma série de opiniões que pertencem ao seu “inimigo'' e não ao escritor por ele admirado. As pessoas deixam de ser o que elas são e passam a ser o que eu acho que elas devem ser baseado em quem os admira.

Se a qualidade de alguém fosse guiada pela análise de seus seguidores, poderíamos dizer que Abraão, Jesus e Maomé não são grandes coisas, tendo em vista o perfil tosco, fundamentalista e violento de parte dos que os idolatram.

Quando Umberto Eco disse que as redes sociais davam acesso à palavra a uma “legião de imbecis'', que tiverem suas conversas – antes restritas à mesa de bar – transportadas ao mundo todo, elevando o vazio à categoria de ganhador de Prêmio Nobel, nunca teria imaginado que alguns desses imbecis postariam bizarrices sobre sua própria morte sem ter ideia de quem era ele. Ou teria imaginado, rido disso, imaginado o quanto o debate público está pobre e refletido que nós realmente caminhamos em direção à nossa autodestruição. Vem, meteoro, vem.

Creio que Umberto Eco não morreu. Ele simplesmente se cansou e se foi. Este mundo de possibilidades infinitas que vão se desdobrando à nossa frente também guarda uma série de desgostos para alguém que confiava no papel central do conhecimento, mais do que da opinião, no desenvolvimento da humanidade.

Conhecimento que nunca foi tão importante e, ao mesmo tempo, tão desprezado.


Nenhum comentário: