sexta-feira, 25 de julho de 2014

Suassuna morreu?

Por Marcelo Mirisola
Portal Yahoo



Muito comum encontrar colunistas idôneos - que vendem os seus pães para grandes portais, revistonas e jornalões - defendendo a qualidade da informação na empresa onde trabalham, e atacando o lixo que circula pela rede.

Pensei muito nisso ontem (22/7), quando Ariano Suassuma morreu e ressuscitou várias vezes no feicibuque. Pra morrer de verdade precisa de atestado de óbito do UOL?

Outro dia me perguntaram: "Existe realidade demais em sua ficção?" Eu respondi que o problema é saber se existe realidade demais na realidade. 

Realidade tem algum parentesco com credibilidade? 

Uma coisa posso garantir: aqui no meu blogue realidade não faz morada. Sou cronista. Uma espécie de mentiroso profissional. Não sou jornalista - deem uma olhada na minha capivara aí do lado. 
Mas vamos supor que sim. Que a realidade exista. Onde estaria essa realidade? 

No destaque que a clamídia dá para celebridades instantâneas, no horóscopo? Nas entrevistas com os clones do Felipão? Nos ataques histéricos dos leitores pedindo providências e reclamando dos políticos e dos buracos na rua? Na apuração das escolas de samba? Nas propagandas de celulares? Nas receitas da Ana Maria Brega? 

A pergunta que faço ao colunista idôneo é a seguinte: querido vestal, oráculo dos oráculos, afinal, no que difere o lixo publicado no endereço que vos hospeda do lixo que circula pela internet em geral?

Voltando a Suassuna.

O autor de "Uma mulher vestida de sol" só pode morrer no Jornal Nacional? E se ele morrer aqui na minha crônica? E se o Bonner disser que finalmente seres de outro planeta fizeram contato comigo? De uma hora para outra, vocês acreditariam em vida inteligente fora da terra? Acreditariam em mim?
Ou seja. A "informação de qualidade" não está acima dos fatos, que, aqui entre nós, nem sempre representam o que há de melhor em termos de qualidade.

O fato de a Record ter comprado quase toda a grade de programação de seus concorrentes na tevê aberta, fez seus adversários não somente perderem a suposta qualidade, mas a credibilidade. Agora, uma regrinha de três. O fato é que Edir Macedo tem mais dinheiro que seus concorrentes. E se o Edir comprar a Globo? 

Nesse caso, não faria a mínima diferença Bonner anunciar o contato com ETs ou a volta de Jesus Cristo. All right?

Não existe uma disputa entre verdade e mentira. Existe um acordo. Do ponto de vista da pulverização e da manipulação da informação – como especulei acima – se Suassuna morreu no Jornal Nacional ou se o capeta bate ponto no templo de Salomão, isso é irrelevante.

Em outras palavras: não existe conteúdo nem qualidade de informação confiáveis. Nem jornalista imparcial, idôneo e impoluto.

Faz tempo, escrevi um texto cujo título remetia ao nosso querido King Kong: "a informação está voando ao redor, feito os aviõezinhos que bombardeavam o gorila do Empire State Building. E o mais interessante: esses aviões-mosquitos não defendem nenhum patrão. Simplesmente atordoam o gigante, e o confundem com sua infâmia e suposta 'falta de qualidade''.

De modo que não é absurdo dizer que não somente o quarto poder está em vias de extinção, mas todos os outros três já fazem água. 

As representatividades são uma lenda (não adianta fazer como Genghis Khan e prender, isolar ou matar meia dúzia de mensageiros explosivos). Os gigantes - eu dizia no texto supracitado -: "perderam o lugar no mundo, e só lhes resta o grito agônico do alto da torre, um urro ignóbil pela liberdade de ser redundante, ou seja, de gritar (ou informar, tanto faz...) que eles têm qualidade e que ... estão morrendo".

E Suassuna? Morreu?


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