Eu lembro perfeitamente desta
coluna de página inteira no JB (ano 2000) que eu assinava.
Faculdade de Letras, a professora repetia sempre: “O Globo é aquela merda, O Dia
não é jornal e, nste limbo, a Folha se destaca pela boa escrita. O JB,
há muito, já morreu, mas ainda tem o Fritz por lá e mais uma meia dúzia que
vale a pena cada parágrafo”. E VALIA.
E eu assinei o JB e a Folha. Sim,
o JB tinha o Fritz, o Barbosa Sobrinho e mais uns gênios lindos que o jornal
dos Marinho ainda não tinha comprado. Até o Xexéu era de lá (e escrevia bem
naquele tempo). Depois voltou o inesquecível e absoluto Fausto. Veio o Mauro
Santayanna.
E tinha o Fritz, que logo depois
saiu e fundou o Montbläat (que eu assinei por um tempo e fui um pequeno
colaborador também com uns 3 ou 4 textos, depois parei de assinar).
Fausto e, agora, Fritz... Dois
jornalistas (os dois melhores para mim) que realizaram a minha vida de leitor e
amante de jornalismo. Ambos nunca entraram numa faculdade de comunicação.
Fritz... Quem sobrou?
Sobraram os seus textos, faróis que
nos guiam em busca da ética, do humanismo, do verdadeiro jornalismo. E sobrou a
gente para divulgar e tomar conta destes faróis.
A língua do X
Por Fritz Utzeri (*)
(Uma
coluna em novilíngua globalizada, na qual o famigerado "s" do atraSo
dá lugar a seu substituto tecnológico, moderno, dinâmico: o "x", de
Xantia, Xara, Xuxa, Sedex, Fedex, Xerox, Gumex (in memoriam) e...
xixi!).
Você xabe o que é a Hoechst? Você conxegue ler
Hoechst xem vacilar? Você tem alguma idéia de como xe pronuncia Hoechst? E xe
lhe dixxerem que a emprexa é alemã, você a identificaria com A - Adolfo Hitler,
B - Xegunda Guerra Mundial, C- Campo de concentração, D - Muro de Berlim, E -
Remédios e produtos químicos? Conxiderando que o nome Hoechst é quebra-língua
em 2 mil 500 idiomax, incluindo o Urdu, ox marqueteirox extão tentando
convencer a diretoria da multinacional a mudar o nome da emprexa, de
preferência inxerindo nela algunx "x", o que vai facilitar a leitura
e identificação.
Axxim, xugerem Hoechxt, ou ainda Hoexhxt, ou talvez
Hoechaxx ou, finalmente Hoechax. Tudo em nome da clareza. Além dixxo, convém
dixxociar o nome da empresa do nome da Alemanha. Uma pexquixa feita em paíxex
da América Central, no Ceilão e no Texax, revelou uma imagem muito negativa,
geralmente axxociada a eficiência, max levando depoix à guerra, dextruição e
extermínio. Deu cerveja, Bach e Beethoven também - vá lá - max apenax
rexidualmente. O problema da Hoechst é que xeux diretorex xão unx idiotax,
incapazex de perceber a importância do marquetingue moderno, globalizado. Exxex
alemãex...
Max não é xó. Dizem que o Papa chamou o cardeal
camerlengo e comentou, preocupado: "Vem cá, você não acha que DEUS, com
"s", está meio paradão, fora de moda?" O camerlengo consultou os
marqueteiros do Vaticano e veio com uma sugextão capaz de revolucionar o
paraixo: DEUX! (Podia dar um certo ar politeíxta na França, mas ixxo foi
conxiderado xecundário).
Agora que a onda da PetroBrax acabou, que tal
verificar quem foi o rexponxável pelo dexperdício de maix de R$ 700 mil? Exxa
quantia foi paga à emprexa UND, contratada xem licitação, por "notória
expecialização" (xó xe for em fazer bexteira), para bolar um novo nome e
xímbolo para a extatal. A UND já embolxou o dinheiro max deveria xer obrigada a
devolvê-lo em dobro aox cofrex da Petrobras, já que xuax propoxtax cauxaram um
efeito diametralmente opoxto ao previxto.
Xe há alguma xeriedade no uxo do dinheiro público no
Braxil (pelo jeito parece extar começando a haver), o Xr. Reichxtul deve pedir
o dinheiro de volta ou procexxar a emprexa por danox moraix cauxados. Quanto
vale no mercado internacional um vexame dexxex? E deveria também reavaliar o
papel dox conxultorex, expecialmente o do pai da criança, Alexandre Machado. Ao
anunciar a nova marca e o novo nome aox jornalixtas, ele parecia deter o
xegredo da pedra filoxofal.
Xó imbecix como nóx, a opinião pública, não
parecíamox pérceber qual era o "x" do problema. O xupracitado
conxultor e o dexigner, Norberto Chamma, dono da UND, citaram pexquixax de
opinião e extão agora no obrigação de torná-lax públicax. O Jornal do Brasil e O
Globo conxultaram
xeux leitorex e o repúdio à PetroBrax foi exmagador. Onde foi feita a pexquixa?
Nalguma lua de Xaturno?
Aliáx, uma dax maiorex embromaçõex dox tempox
modernox e globalizadox rexide nox conxultorex. O que é exatamente um
conxultor? Em geral (há exceções) é algum poço de ignorância, ganhando um
xalário fabuloxo para dizer obviedadex e coixax que a direção das emprexax quer
ouvir. Já fui alto executivo de uma dax maiorex multinacionaix do mundo, na
área de telecomunicaçõex, durante cinco longox anox, e poxxo jurar que jamaix
vi um conxultor ter uma ximplex idéia original. Conxultor é, geralmente, o nome
genérico para embromador.
Digo ixxo de cadeira. Já fui conxultor (de texto)
durante doix anox de uma grande rede de TV braxileira. Pagavam muito bem, em
dólar, max jamaix dexcobri o que queriam de mim. Nunca me perguntaram nada;
quando eu perguntava, desconversavam. Axxim, não pude dar uma ximplex idéia. Um
dia, durante uma operação de reengenharia (andava de moda naquela época e
xignificava apenax botar um monte de gente na rua e deixar o rexto trabalhando
o dobro pelo mexmo xalário), dexixti da conxultoria. Jamaix ganhei dinheiro tão
fácil.
O TCU, o Minixtério Público, o Parlamento e a
imprenxa extão na obrigação de invextigar direitinho exxa operação, devido ao
montante de dinheiro envolvido e que teria xido gaxto melhor em operaçõex de
controle ambiental e de reciclagem profixxional dox milharex de empregadox que
a Petrobrax tem demitido.
Do epixódio convém rexxaltar um fato. Apexar de
tudo, é inquextionável que alguma coixa mudou para melhor no Braxil.
Prexxionado pela opinião pública, FH mandou para o expaço a troca de nome da
Petrobras. A PetroBrax durou merax 48 horax. O que cauxa expanto é a
conxtatação, cada vez maix evidente, de que ox noxxox governantex vivem no
mundo da Lua. Dexconhecem totalmente o Braxil. Não xão capazex de ouvir a voz
rouca dax ruax. Que o Xr. Reichxtul não entenda o Braxil, não tenha compromixxo
com a xua Hixtória, vá lá.
Max que FH tenha autorizado a troca é duro de
engolir. O poder tem extranhax propriedadex. A amnéxia parece xer uma delax. A
geração de FH e a que a precedeu lutou na campanha do "O Petróleo é
nosso", certamente a maix memorável afirmação de xoberania que exte paíx
já viu. O que deu na cabeça da FH? Pelo jeito ele não exqueceu xó o que
excreveu, max também o que viu. Mas o nosso país resistiu...
(*) Fritz Utzeri foi
diretor de redação do Jornal
do Brasil. O texto foi publicado nexxe jornal, na edição de 31 de dezembro
de 2000, página 9 (Opinião), seção Converxa com o Leitor.
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