Olhou-a
com um gosto de trovoada na boca. Queria desviar o foco, mas só o que conseguiu
foi encolerizar. Queria se desvencilhar de qualquer tipo de conversa, mas o som
da voz alheia o atraia de forma sagaz, quase como chuva de verão. Queria fugir,
mas para quê? Não adiantava mais.
Foi
quando verbalizou e todo o ar ficou morno e paradoxalmente invernal. Cuspiu
toda a vontade de louvar e lavar de muitos anos, toda a nicotina tragada, toda
a resistência do tempo e do amor; foi como estivesse se livrando de chagas
espalhadas pelo corpo, como ulceras. Verbalizou até o improvável, o piano de
deus tocando uma incerta sinfonia demoníaca.
Quando
acabou, tudo havia acabado. Quando acabou, seu peito ainda marcava as batidas
intensas do seu coração. E tudo tremia, pulsava, chovia e acabava. Quando
acabou, parecia que havia sofrido um parto. Quando acabou, seus músculos
recusaram-se a enrijecer novamente e ficaram todos largos, desafinados. E foi
dando um sono inconfessável. O outro corpo, e não era mais do que isso, queria,
ainda, gritar, estremecer, mas a serenidade do seu coração estava em um estado
de completa sinceridade e certeza; não podia mais aumentar a voz, não fazia
mais sentido algum.
Quando
acabou, tudo acabou. Simplesmente.
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