quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A educação longe da mídia

O que são escolas exclusivas (de exclusão)? Não posso citar ou exemplificar todas, primeiro porque não conheço todas, segundo porque não sou capaz de exemplificar todas as que conheço. Portanto, fico com um exemplo, apenas um.

Uma escola exclusiva, geralmente, trata-se de uma escola particular de “boa qualidade”. Por que exclusiva? Porque parte do princípio de que o aluno precisa necessariamente atingir o nível da instituição, adequar-se aos “desafios” pedagógicos propostos; é a escola dita “tradicional” (e o termo ‘tradição’ aqui carrega um status quo reverencial), em toda a sua pompa e circunstância severa. A escola tradicional é o sonho de todo pai que adoraria ver o filho numa ótima universidade.

A escola exclusiva quer apenas os melhores, os que tiram as maiores notas nas suas avaliações tradicionais, quer os “meninos outdoors”, aqueles que infestam a cidade fazendo propaganda da instituição com os seus belíssimos primeiros lugares em Engenharia ou Medicina. Desconfio que existam os que pagam meninos para realizarem os vestibulares públicos pelo colégio.

O Prof. Dr. Vitor Henrique Paro, da USP, proferiu uma excelente palestra sobre avaliação no meu município (Mesquita/RJ) e disse, em dado momento, algo como: “enganam-se os pais achando que escolhem os colégios para os seus meninos, pois são os colégios (particulares) que escolhem os seus filhos, a partir do momento em que estabelecem as normas para a permanência do aluno na empresa.” E não é isso, mesmo?

Então, qual escola é inclusiva? Ora, aquela que aceita a todos, sem pré-conceitos ou pragmatismos educacionais; é aquela que pensa em uma evolução qualitativa, mas tal evolução precisa carregar a todos, ninguém pode ficar pelo caminho. É aquela que não se importa com outdoors, indoors, mas com o aluno, pois foi feita para ele. A escola inclusiva é uma instituição que foge da conta-bancária-cerebral, ou seja, o aluno (sem luz) não é um simples depósito onde o professor (magister) coloca conhecimento (Paulo Freire escreveu melhor, mas era quase isso). Onde está a escola inclusiva? A maioria? Nas redes públicas de ensino, principalmente nas redes municipais, pois trabalham com o Ensino Fundamental e, muitas, Educação Infantil (na minha opinião, fundamental).

As notas do ENEM, na minha modestíssima opinião, refletem isso. Uma escola inclusiva comporta a todos e isso, inevitavelmente, reverbera no sistema de avaliação em voga (e que apoio, diga-se de passagem). É fácil ter a nota máxima sendo exclusivo, quero ver ter este desempenho e pensando a educação, a qualidade da educação e a inclusão educacional. A meu ver, a escola pública, só por isso, já merece um crédito imenso. E nem vou tocar no ponto do péssimo salário, dos governos omissos e, muitas vezes, criminosos, na estrutura física incompatível com o ritmo de trabalho, etc.

Por que toquei neste assunto?

Porque já estou enojado de ler e assistir esta mídia muquirana passando um ar de conhecimento sobre o assunto e, na verdade, discorrendo de forma absurda e medíocre em relação à educação. Impressionante como os canais de televisão não se preocupam em esclarecer nada, vomitando, de maneira irresponsável, a sua visão neoliberal e distorcida sobre o tema.

Há casos e casos, assim como profissionais e profissionais, instituições e instituições, há de tudo neste mundo de ninguém, mas precisamos refletir, antes de cuspir.

5 comentários:

Halem Souza disse...

Bem, Marcelo, concordo num ponto com sua discussão (e aliás já falamos disso em outra oportunidade): a imprensa trata o tema Educação de forma muito canhestra e superficial e mais torna opacas do que esclarece questões importantes da área.

Mas vamos às discordâncias.

1) "A escola exclusiva quer apenas os melhores". Isso é fato; e para mim - do mesmo modo que para você - isso também representa uma modelo de educação em nada humanizador. Mas isso não é crime. Quem pode pagar vai continuar pagando por isso.

2) A escola pública é tão inclusiva assim mesmo ou isso também não acaba sendo mais um "outdoor" usado pelos governos? Como você sabe, trabalho em unidades públicas de educação básica há mais de 15 anos (e fui também aluno de uma unidade desse tipo). O que vejo dentro do ambiente escolar é tudo, menos inclusão. Vejo "todo mundo" lá dentro, é verdade, mas não tenho dúvidas de que a maioria não será "carregada" e muitos "ficarão pelo caminho". E ninguém se importa com isso porque essa tornou-se a regra do jogo.

Ouço bando de tecnocratas falando de educação pra todos. Que educação? Passar 4, 5 horas com estudantes vindos do "todo mundo", a meu ver, não é sinônimo de educar ninguém.

Outro dia adorei a palestra de uma psicopedagoga que foi conversar com os trabalhadores lá da escola em que atuo. Ele foi muito franca e disse que não espera que essa geração de educadores faça qualquer diferença nos indicativos de qualidade na educação pública. Somos "bucha de canhão" pra tentar preparar o terreno para um ambiente mais favorável daqui a uns 30 anos mais ou menos. Estimulante, não?

Perdão pelo extenso comentário (e pelo desabafo destemperado) mas também estou enojado, cansado e saturado, não só com a mídia mas também com discursos utópicos no campo da educação (e, que fique claro, não foi o caso de sua postagem).

Alunos e membros da comunidade que hostilizam e agridem a mim e a meus colegas frequentemente não parecem valorizar essa tal escola inclusiva.

Um abraço.

Marcelo F. Carvalho disse...

Professor, você disse tudo e não discordamos disso. Ao contrário.
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Inclusiva, no caso que do texto, foi exatamente isso: escola onde se encontra de tudo! Classes sociais variadas e cultura diversa (ou a falta dela), filhos de trabalhadores e traficantes, estão todos lá. Aliás, por isso mesmo que louvo os profissionais da rede pública e sei, claro, que eles, muitas vezes, gritam no escuro.
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Exclusiva foi exatamente o que você escreveu. E é comércio, sim. Eu vivi os meus anos de escolaridade quase todo em escolas assim. Não é contra lei pensar ou exigir isso do aluno.
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O texto todo foi para apontar onde está o defeito (proposital) da mídia. Comparar escola pública com escola particular é de uma covardia sem tamanho. O que você faz em sala é muito mais difícil do que o professor numa escola exclusiva.
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A sua opinião não é só bem-vinda, mas essencial!

Abraço forte!

BirdBardo Blogger disse...

Marcelo falou tud, mas repito o mantra de que "Jornalista e o profissional que fala e escreve sobre tudo e não sabe de nada"...

BirdBardo Blogger disse...

Marcelo falou tud, mas repito o mantra de que "Jornalista e o profissional que fala e escreve sobre tudo e não sabe de nada"...

Renato Couto disse...

Vivemos em qual sistema econômico? Bem, no capitalismo (seja de pobre ou de rico), o mote é a competição, com os pais querendo "preparar" da melhor forma seus "corredores". Será que podemos considerar igualdade o fato de a maioria possuir duas pernas? Reproduzindo o Prof. Delfim, existirá "igualdade de oportunidades para o sujeito que foi produzido na suíte nupcial do Waldorf Astoria e para o produzido debaixo do lampião"? A exclusão ou inclusão é inerente ao sistema em que vivemos e por aqui, mesmo com pitadas de Walfare State do PT, continuamos bastante neoliberais.