A esquisitice do acalanto
Ou como errar a mão na prepotência
Tudo indicava, assim que a candidatura da Dilma se concretizou oficialmente, que seriam meses difíceis, com muita chuva midiática para lá de tendenciosa. Esperávamos o semi-golpe de cunho jornalístico, o Dossiê Caymam, um filho leproso-sem-pernas-e-bastardo para a oposição colocar na conta da candidata do PT... Esperávamos meses difíceis porque, cá entre nós, o Lula é o Lula: carismático, autêntico, improvisador medíocre, mas carismático – um espelho do povo e da labuta brasileira. A Dilma, por outro lado, com plástica ou não, é a Dilma: pouco carisma, poucas palavras, tecnóloga, enfim. Esperávamos meses difíceis.
No entanto, como a esquerda já fez durante tanto tempo, a oposição perdeu, no decorrer da campanha, a mão, os pés, a cabeça. Não sei se por falta de experiência opositora (sempre foram Governo!), não conseguiram, em momento algum, convencer alguém das indignações que os afligiam (vide o fiasco quase constrangedor do Movimento Cansei, em SP).
A Veja até que tenta com um afinco inacreditável sujar o nome do presidente e desacreditar o governo atual, mas a única coisa que consegue é jogar décadas de respeito na lama. Ninguém mais acredita no que a Veja diz. A credibilidade da revista, outrora tão imponente, virou pó. A Folha anda comendo do mesmo mingal e periga ir para o mesmo limbo, é bom começar a pensar nos anos gastos para limpar a empresa das associações inevitáveis com a ditadura militar. Senão...
O Estadão é o que é e sempre fez questão de o ser, portanto, um veículo feito para as propostas que oferece com propriedade: sempre foi neoliberal e acha que o PT come criancinhas, nunca disse pensar o contrário ou pregar isenção mascarada. Ler o Estadão pode causar náuseas, mas você jamais será enganado e o comerá sem ilusões.
As Organizações Globo... Bem, a Globo tinha por objetivo fazer do mundo um imenso BBB, editando aqui, omitindo ali, criando acolá, mas alguma coisa deu imensamente errada no povo brasileiro. Eles... Nós começamos a perceber que podemos (e devemos) votar por conta própria. Como escreveu Maurício Dias, em sua coluna Rosa dos Ventos, na Carta Capital:
“A vitória da Dilma, se confirmada, jogará por terra, mais uma vez, a influência da mídia sobre eleitores de renda mais baixa e de menor escolaridade. É um mito alimentado pelo preconceito. A imprensa brasileira, em ação implacável contra a candidatura Dilma, talvez aprenda que pobres e ricos só votam por interesse concreto. Voto ideológico, à esquerda ou à direta, é instrumento político de minoria.”
Acrescento um pitaco de cebola neste tempero já excelente: a classe economicamente baixa descobriu um governo que, apesar dos pesares, olha para ela, compreende as suas dores de barriga e tenta, mesmo no insucesso, ajudar.
Não adianta tentar cortar a cabeça de um governo comprovadamente (e o mais desesperador: infinitamente) melhor que o antecessor. Os assessores do Serra precisavam saber disso. Como “meter a porrada” num governo que, se comparado com o (dês)governo FHC, dá de goleada? Como dizer que a Dilma não pode ser presidenta porque falta a experiência que tem o político Serra? Esqueceram-se todos do Lula? Que credenciamento / experiência tinha o Lula?
Falta apenas um mês para a eleição. Com 2º turno ou não, a lição ficou clara em dois atos:
1) A mídia ocupa, hoje, o lugar que é dela por direito – INFORMAR E ENTRETER. Se confundir e misturar as duas coisas com irresponsabilidade, mudamos o canal ou desligamos a tv para tomar cerveja e jogar sinuca. Acabou o tempo dos gigantes e pseudo-intelectuais com as suas opiniões sobre tudo. Bonner rima com Homer, só isso.
2) Serra gastou muito tempo atacando a Dilma. Errou feio. O governo Lula carece de “n” frutos. A desigualdade no Brasil continua enorme, os hospitais são esparadrapos podres e elefantes brancos, a violência está descontrolada, a corrupção é quase cláusula contratual para ser político brasileiro. O país ainda é injusto e sofre, bastante, com a impunidade generalizada, contudo, todos os governos sofreram disso e, ao que tudo indica, agora o povo sabe disso. Mostrar a bunda do inimigo e esquecer de limpar a própria de nada adianta.
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