terça-feira, 10 de julho de 2012

O sol e o gramado



O sol batia no gramado através do enorme luar acima da goiabeira. Parecia coisa de fotógrafo de filme hollywoodiano colocando filtro especial para que o dia parecesse noite. E ela estava totalmente inacreditável naquele vestido de gabardine tomara-que-caia sobre a grama, braços jogados acima do corpo e um semblante de satisfação excepcionalmente erótico. Os cabelos despojados, a pele aveludada que, sob o luar, refletia-o como as lâminas que o sol produz na água toda vez que ele atravessava a ponte Rio-Niteroi.
O sol batia no gramado e ela era toda luz quando disse que havia conseguido aquele apartamento tão sonhado, mobiliado, lavrado, escriturado. Ela disse de forma tão orgânica e vital que ele não percebeu o sangue se dissipar do rosto, tornando-o gelatinoso. Estremeceu diante da pergunta que inevitavelmente teria que fazer e fez: “mas como?” E ela, elevando as pernas em estado trigonal, deixando visível a sua calcinha branca e os pequenos pelos dourados da coxa, encarou o homem a sua frente e com apenas um fio de sorriso à la Mona Lisa vomitou de forma surpreeendentemente simples: “Ora, meu amor, você não se lembra daquele velho empresário?”
O sol batia no gramado e o fogo que, dentro dela, reluzia, nele era como o inferno que consome. Ele queria chorar e correr enquanto houvesse sol. Queria gritar ao mundo sobre o quanto ele era puro e honesto e, ela, uma vagabunda sem compaixão, uma rameira que não tinha respeito por nada e nem por ela mesma. Uma meretriz que se vende de forma nojenta e perniciosa. 
Por dias ele ficou vagando pelas ruas do Rio de Janeiro, sem precisão ou muita vontade de se barbear. Uns diziam que ele era um tolo, outros, que ele estava certo. Ele não dizia nada. E assim ficou por um tempo.
Um dia, quando ele assistia a Flamengo e Vasco pela TV aberta, ela entrou toda de seda e, sabendo a reação da seda em corpo diabolicamente perfeito e magnético, deixou-o cair pelo chão frio. Ele deixou o copo cair. Ela disse: “comprei aquele carro que sempre achei bonito”.
Ele, agora, mora no apartamento dela e, sempre que podem, atravessam a Ponte sentido Cabo Frio.
O velho comprou colchão d’água semana passada. 

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