domingo, 30 de dezembro de 2007

Resoluções de Ano Novo

A "Ro" deixou de me surpreender há muito tempo. Não consigo dançar meus olhos por seus textos e não notar o óbvio: "Ro" acostumou-me mal, tudo o que ela escreve é fantástico, logo, sempre que penso em visitá-la, já fico com a sensação do que há de melhor. Não tem jeito. Escritora talentosa é assim: deixa o seu leitor exigente.
Ela pode ser facilmente deliciada aqui: Sétima Letra.
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Resoluções de Ano Novo
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Um dia, pensei que o ano 2000 fosse coisa de ficção científica. Esperei o reveillon da virada do século imaginando que os quatro cavaleiros do apocalipse viriam em meio ao foguetório de Copacabana e tudo seria nada além de poeira cósmica.
Sete anos se passaram desde então e nada, absolutamente nada , do fantástico show da vida ocorreu além do fato de dois das tais quatro bestas do apocalipse tornarem-se presidentes, um do Brasil e o outro dos USA.
Mas, mesmo contra a vontade e contra o vento, 2008 bate às portas e, como sói acontecer, faço minha Lista de Resoluções de Ano Novo!
- Não vou fazer 45 anos. Há mais de dez anos que faço 44, por que faria 45 justamente em 2008?
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- Não vou parar de fumar. Há mais de 30 anos que tenho uma relação estável e amadurecida com o cigarro, por que romper justamente com aquele que foi e é o mais leal e fiel companheiro das minhas noites de insônia?
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- Não vou fazer dieta, não vou matricular na academia, não vou caminhar todos os dias, não vou tomar florais. Vou manter os pneus, todo avião os tem.
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- Não vou convidar meu genro para vir almoçar aos domingos. Ainda não aprendi a envenenar a macarronada.
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- Não vou trocar de carro. Ninguém me pede emprestada a velha Brasília azul calcinha.
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- Não vou jogar na mega sena. Meia dúzia de livros que nunca serão best sellers é herança que vale muito mais do que alguns milhões de dólares.
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- Não vou impedir que se aproximem muito a ponto de me arranhar a lataria ou embaçar o pára-brisas. Ainda acredito que tudo vale a pena se, alguma coisa que não me lembro exatamente o quê, não é pequena!
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Enfim, em 2008 vou ser a mesma pessoa. Não se mexe em time que tá ganhando!!!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Resumo da chuva


Portinari - Padre Anchieta
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O ano se encerra e continuamos vivos, o que não deixa de ser bom, mas poderia ser melhor. Poderíamos estar vivos e felizes, contudo, apenas vivos fechamos o ano.
Acredito que há muitas chuvas ainda por cair, mas as que caíram em 2007 foram, como a vida, de uma diversidade impressionante. Muitas chuvas foram verdadeiros “torós”, tempestades sem tamanho e estrago, na moral, inclusive, do brasileiro; muito desânimo e a quase certeza de que pouca coisa tem jeito. Outras “pancadas d’água” foram benéficas e serviram para “lavar a alma” do povo que, por diversas vezes, não conseguia acreditar na prisão de elementos tão respeitados e temidos pela sociedade ignorante ou aproveitadora; pessoas que gostam de bichos e que, por ironia, são verdadeiros “bichos soltos”. Neste ínterim, houve sol acompanhado de muitos chuviscos. Uns traziam esperanças, outros, frio.
Este blogue tentou resumir, à sua maneira, chuva de lavoura e chuva de enchente, chuviscos refrescantes e chuviscos de inverno (geralmente chatos). Infelizmente, resumir tudo foi impossível. Até porque, caíram muitas palavras do céu que, no chão, viraram verdadeiras poesias, raras sensações e amizades. Assim como também caiu muito Renan para “merdalhar” o ano. Separar o joio do trigo foi relativamente fácil, difícil foi escolher o que resumir. Difícil.
Obviamente, como não sou dono de jornal para fingir imparcialidade, publiquei textos de autores considerados “esquerdistas” (maioria dos casos) por achá-los mais comprometidos com os ideais coletivos, “humanizados”. Creio ser um erro dos “intelectualóides” a crença cega no mercado e na tentativa de enriquecer sem olhar o próximo. A filosofia do “primeiro eu e foda-se o mundo” é, antes, uma burrice colossal, pois fabrica marginais, relegados, contribuindo com os altos índices de violência; e é sempre bom lembrar que, a arma que nos apontam são fabricadas por nós mesmos. Ou como na versão de “O Rappa” para Hey Joe: “também morre quem atira”. Mas quem atira primeiro? O assaltante ou a sociedade que cria condições para o assalto?
Os resumos não acabam aqui e, espero, chova bastante no ano de 2008. Chuva que atraia o arco-íris, não a que desabriga a poesia.
Que todos tenham ótimos motivos para sentar à mesa e celebrar ótimas chuvas, daquelas que regam nossas flores e que nos fazem lembrar do cultivo de nossos jardins.

Portinari - Crianças brincando

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Prazer

Outra vez posto um texto lindo do blogue "Lado B". Texto primoroso, suave e sensível. É um prazer ler a B, é um prazer dançar os olhos em suas palavras.

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Prazer

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Eu gosto. Muito. Gosto da noite, de olhar as pessoas dentro dos carros, inventar suas histórias.

Gosto do movimento da boca quando alguém conta uma coisa qualquer. Gosto quando ainda insistem em pedir comida japonesa. Gosto de errar o caminho, e no final, descobrir outro melhor. Gosto do insinuado, sussurrado, apontado. Gosto tanto e gosto sempre dos três segundos antes da música começar.

Gosto de filmes que terminam com uma estrada. Também gosto de receber um sorriso primeiro. Do barulho da água depois do mergulho, sentar na calçada e tomar um pouco de sol. Gosto de ver o desenho se formar no papel. Rir sozinha por ter o que lembrar. Telefonemas de madrugada.

E vou gostando. Gosto da idéia de gostar, pensar que uma mão faz questão da minha. Gosto de imaginar seus olhos dançando em cima das minhas palavras. Gosto da flor na minha janela. Gosto. Muito.

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"B"

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

(Antiga…)

Um poema da Bia é sempre um poema. Um rascunho da Bia é um poema. Uma anotação das compras, um lembrete para o dentista é um poema. A bia é poesia. Por isso, só anda por um triz. No triz e na trilha do que é bom. Nossos olhos agradecem.

A Bia é facilmente "caminhada" aqui:


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Eu

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Olhares


Faces

Sorrisos

Facetas

Língua

Boca

Buceta

Poros

Nós

Bocas

Dentes

Línguas

Trava-línguas

Gengivas

Pedras

Água, sal

Falo, falos, conversas, teclados, visores, ouvidos-sem-tímpanos, palavras, pá-lavras, idéias, sementes, projetos, fuga, não-dito, mal-dito, ditados, deitados, silêncios, calados, cálidos, sozinhos, caminhos, buracos, frio, solidão, joguinhos, textículos, machados, flores-sem-papel, promessas, vírgulas, pontes

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Você

sábado, 15 de dezembro de 2007

Só uma conversa de boteco


A piada que se ouvia alguns anos atrás era que Luís Inácio havia feito duas faculdades, mas não conseguira terminar a terceira, pois o cimento acabara (aqui os verbos são muitos, tanto quanto o pré-conceito que se tinha do candidato à presidência).
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Hoje, tal piada não faz mais sentido, se o país não avança como a esquerda gostaria ou não corresponde às expectativas que se tinham quando Lula chegou (tomou) ao poder, também é verdade que o país não retrocedeu como muitos analisaram ou caiu em desgraça. O Brasil continua sendo o Brasil: país dividido entre muitos ricos e muitos pobres, uma classe média quase inexistente, inoperante, e uma vala de desigualdade (social, econômica, educacional, etc).
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Semana retrasada, encontrei-me com um homem que afirmava, há alguns anos, que sairia do país caso Lula se tornasse presidente. O motivo era, teoricamente, simples: o Luís Inácio não sabia governar. Talvez, não tenha passado pela sua cabeça que um presidente não governa sozinho, aliás, em uma democracia como a nossa, um presidente é quase uma alegoria dentro do sistema. Importante é a equipe por trás do governante, importante são Câmara e Senado, prefeituras, além dos inúmeros profissionais que, longe dos holofotes, trabalham para o desenvolvimento do país.
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Semana retrasada, o homem que defendia a falácia da sigla FHC, hoje afirma ser Lula um dos grandes governantes da “terra brasilis”. Se a música não acompanha a cadência do “Chico Buarque”, pelo menos não chegou ao “É o tchan”. E isso é um fato.
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Digo tudo isso para colocar na mesa virtual uma afirmação e uma pergunta: talvez a revista Veja e imprensa do tipo não tenham percebido, mas surge no país uma política nunca antes vista, uma política que afaga a esquerda sul-americana sem deixar de sorrir para Bush ou Europa, que elogia Hugo Chávez e Evo Morales, sem perder o comprometimento com FMI, Bird e todos os urubus ricos. Surge uma política que fala com os pobres sem deixar de dar lucro aos ricos (vide bancos), que aproxima a América do Sul sem se distanciar do G7 (Rússia não conta). Esse é um ponto. E isso é um fato (também). Portanto a afirmação é: esse tal de Lula (e sua equipe) é mais esperto do que imaginava o mais feliz dos petistas.
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Quando vejo a guerra travada pela CPMF e todo o desgaste ocorrido por ambos os lados e pela suprema burrice da oposição que colocou a cara na t.v. e que, futuramente, pode ser taxada de politiqueira e birrenta – porque o Governo não perderá a oportunidade de se fazer de vítima e jogar a culpa de certas desgraças no PSDB e no DEM, além de ter causado um racha, em quase época eleitoral, entre o PSDB legislativo e o PSDB executivo – pergunto se de fato a CPMF era tão importante assim, se o Governo não atirou a CPMF aos leões e distraiu a oposição com um pedaço de carne que nem era de primeira. Ou seja, a pergunta que faço é: o PT não teria criado uma bolha para distrair a oposição enquanto os grandes projetos estão passando pela surdina?

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Um coração que pulsa / Reflexões

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Duas artistas de peso e suavidade juntam-se, hoje, para que nós (os mortais) tenhamos uma vida um pouco melhor, com mais beleza e profundidade. Começo com Sandra Camurça e sua Enorme e autêntica arte e fecho (completo) com a introspecção de Fernanda Passos e seu divino poema.
O (generoso) professor Halem escreveu em seu (ótimo) blogue que o que faço é divulgar o trabalho de outros. Discordo. Eu é que divulgo o meu expondo o belo dos outros.
Enfim, sirvam-se:
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.......................................................Arte de Sandra Camurça


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Reflexões



o que é a vida se não um fragmento de ilusão que se liquidifica
como som de ecos plantados na garganta ouriçada
por todos os brados lançados ao vento
um vão momento que traz saudade de?


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e bate bate bate bate tanto que faz tum tum tum
no peito oco onde o mundo se aninha tão sutilmente
que nada há que alente anseios perdidos no tempo
que,desdobrado, molda caricaturas de quimeras loucas


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eu Messalina de todas as eras construídas nas pegadas dos dias
desprezei amores pudores rancores cultivei sementes
quereres por assim dizer mal quistos esquisitos
e neguei segurança onde quer que fosse cais


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hoje arranco dejetos das entranhas do nada que sou
porque esse vazio é prenhe de tudo que alimente a falsa fome
que consome esse quase mundo mudogritante brotado nos muros erigidos
por tantas batalhas perdidasvencidas que fizeram de mim isso que sou.
o que sou?





Fernanda Passos

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Quase dito

Este blog é de uma introspecção "clariceana": contida, palavra em conta-gotas, abraço forte no silêncio, beleza. O nome da autora continua do outro lado do sol, eu a chamo mentalmete de esfinge, ela prefere "B". Seja qual for o seu nome, a verdade é que a sua obra já possui assinatura.
Parabéns!
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Quase dito

Por viver entre sólidas paredes conceituais era um alguém que vivia só. As vezes até sentia vontade de conhecer o pedaço de mundo que aparecia pela janela, mas escolhia ficar sentado em cima de algumas tradições (era mais seguro).Um dia, uma vontade surgiu mansa. Era doce como a infância e insistente como birra. Ele nem percebeu quando começou a suspirar, ouvir música e observar a lua. Todo o seu corpo parecia querer se conectar ao mundo. Quis dançar, abrir os braços, tocar a existência.Essa energia toda deve ter atraído o outro alguém. O encontro seria fora das quatro paredes. Teve o ímpeto de ir e foi. Dividiu, tocou, voltou. Gostou mais do que previu. O susto da excitação se transformou no susto do medo. Sentiu as paredes crescendo ao seu redor. Palavras queriam escapar pela sua boca, mas faltou coragem. Esperou para ver se o outro entendia e lhe poupava o trabalho. Mas coração do outro é terra difícil de chegar (e de sair).Sentou num lugar onde batia um pouco de sol, olhou as mãos e chorou.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A rosa do mundo

Esta é mais uma das músicas que busco em LPs que não existem. O nome da banda era Leniap. Por quê? Um dia explico.
A rosa do mundo

Todos os dias ele sonha ser artista
Mas Ferrugem sabe ser este, talvez
O mais impossível dos sonhos
E quem sabe não é por isso
Que este sonho é tão bom?

Entre todos os meninos deitados ao relento
Ferrugem se destaca pela boa conversa
Pelo carinho que tem com os demais
E pelas histórias marcadas
De mulheres que sofrem
Das chacinas que, por sorte, escapou
Da fome e do frio que passou
E do cheiro da cola

Ferrugem sabe que não tem futuro
Que não há destino
Sequer outro rumo
Mas existe um sonho:
O de ser um artista!

O de ser um artista.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Pirata Zine

Esta aqui eu divulgo porque ler tal zine é "tudo de bom": divertida, reflexiva, bem escrita e assinada pelo nosso capitão Pirata - excelente jornalista e humanista convicto, capaz dos textos mais polêmicos e lindamente defendidos.
O preço da zine é modesto e o seu conteúdo de modesto não tem nada.
Até este mês está de graça, por isso, para quem quiser tirar um gostinho, manda um e-1/2 pro Pirata!
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Pirata Zine: pode assinar - e presentear

pronto, a partir de agora, você já pode assinar a Pirata Zine, para garantir, a
partir de janeiro próximo, o recebimento, durante 1 ano, das 24 edições a que
terá direito. os não assinantes continuarão recebendo a PZ, mas somente com
uma prévia das edições.

o valor, como já informado aqui antes, é de 20 dinheiros, e, pra confirmar a
sua assinatura, bem como informar-se sobre como efetuar o pagamento, basta
mandar imeio com o título "Quero assinar a PZ", que eu responderei, dando as
'coordenadas'.

e digo mais: quem assinar até o final de dezembro, vai ganhar, no boi, outra
PZ, para dá-la de presente de natal a quem bem entender - e taí
uma dica de presente mais decente que os habitualmente trocados nos amigos
ocultos que, nesta época, rolam de montão pelaí. mas, ó: esta assinatura extra
dá direito a 12 edições integrais, ou 06 meses de acesso à PZ, está?

é isso, entonces. quase como um papai noel, tô esperando a sua 'cartinha'.

* cabe destacar: até o final de dezembro, qualquer edição será gratuita.

ps - o blogue, claro, continuará de acesso gratuito, e eu
não o uso para mera reprodução do que publico aqui, ok?

sábado, 8 de dezembro de 2007

A Internacionalização do Mundo

Não sei porquê demorei tanto para postar este texto - obra-prima do debate político e inteligente que todo representante (nosso) deveria decorar. Bem, posto agora, com meses de atraso (felizmente, o artigo parece ser atemporal, como o próprio autor).
Boa leitura!

A Internacionalização do Mundo

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Fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia, durante um debate, nos Estados Unidos. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para uma resposta minha. De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia.
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Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Respondi que, como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, podia imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.
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Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia é para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso patrimônio da humanidade.
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Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país.
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Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, possa ser manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
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Durante o encontro em que recebi a pergunta, as Nações Unidas reuniam o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu disse que Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria ser internacionalizada.
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Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
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Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola.
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Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver.
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Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa.
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Este artigo foi publicado também no Correio Braziliense em outubro de 2000. O debate a que se refere o senador aconteceu em setembro do mesmo ano em um hotel de Nova York. Para outras informações, favor escrever para gabriel.reis@senado.gov.br
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Escrito por: Cristovam Buarque - mensagem-cristovam@senado.gov.br

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Noblesse oblige


Esta me pegou de surpresa... Estava lendo a recente postagem do professor Halem (Quelemém) e... veio a pancada: a Toca do Jens vai acabar!
Porra, como alguém como o Jens pode sair da blogosfera assim? Não pode. Uma porrada de filhos-da-puta escrevendo besteiras (como eu) na internet e, aquilo que é bom, de repente, vai pro limbo, pro éter, deixando-nos um pouco mais tristes, órfãos.
Pena... realmente lamentável...
Estava disposto a escrever algum conto ou falar das eleições petistas, mas perdi a vontade.
Esta é a postagem que achei lá na Toca:
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Noblesse oblige

Foi Drummond quem escreveu que chega uma hora em que todos os bares se fecham?
Isto, na verdade, não importa. É apenas um artifício para começar um texto difícil. O que quero dizer é que este estabelecimento vai fechar suas portas. Definitivamente. Não só isso, eu também não vou mais vagar pelas ondas da web escrevendo gracinhas aqui e ali (cá entre nós, nem tão engraçadas assim).
As razões que me levam a tanto são de ordem pessoal (não tem nada a ver com saúde ou a falta da mesma. Eu e o velho Hal estamos bem).
Bem, é isto. Um dia, quem sabe, eu volto.
Foi bom estar com todos. Mais do que isto, foi um privilégio. Vocês tornaram a minha vida melhor.
Beijos, garotas. Abraços, rapazes. Adeus a todos.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Tequila, sexo y marijuana

Essa foi por acaso (existe acaso?) e, no primeiro conto, de fato lido, despi o espírito de encanto. Excelente produção, conto de um humor refinadíssimo e escrita de deixar os olhos correrem sem parar. Onde pode ser encontrado? Aqui, ó:


Pilar, parabéns!







Tequila, sexo y marijuana


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Ser pobre em primeiro mundo ainda é chique no terceiro. E assim, as duas latino-americanas que estavam comendo a croissant que o diabo amassou havia três meses foram levadas para o ginásio do bairro, todo enfeitado com flores, a fim de dissipar a franca depressão.

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Havia muitos velhos e muitas crianças. Da idade delas, pouca gente e quase nenhum alvo passível de flerte. As duas se sentaram em cadeiras de plástico e, com cara de choro e desânimo, esperavam que alguma coisa acontecesse. Algum sinal divino ou um dilúvio pra jogar aquilo tudo num imenso ralo qualquer.

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Então, um barbudinho de um metro e meio anunciou o início do show. A mexicana não entendia patavinas, já que o seu francês se limitava a Je t’aime, moi non plus.

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Um homenzinho bem francês subiu ao palco, com um terno preto e o nariz adunco balançando de um lado para o outro sem captar a fedentina que exalava pelo ambiente fechado. Mais sorridente do que a platéia (mas nem por isso sorridente de fato) começou a contar umas histórias sem nexo. A entonação final das frases era sempre arrematada com aplausos de quem estava embaixo. A luz se fez e o calor desfez o gelo do público, que agora começava a dar sinal de vida, rindo aqui e ali.

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Enquanto as risadas ecoavam ao fundo, a mexicana deprimida olhou para a brasileira e perguntou “Que passa?” A outra respondeu com um legítimo portunhol “No sé por que reíen. Este tipo está dicendo unos chistes tan estúpidos.” “Como qué?” “Por ejemplo, dice que el ministro no sé de qué hay saludado al presidente de Estados Unidos com un ‘bienvenido, camarada’.” “Entonces?” “Como que ‘entonces’?” “Solamente esto?” “Si.” “No es chistoso.” “Pienso lo mismo. Este tipo no es chistoso. No sé porque reíen estes franceses infelices!” A mexicana riu.

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A brasileira tentava acompanhar o sujeitinho, traduzindo para a outra as piadas sem-graça sobre a vida econômica, política, social e ambiental da França e do resto do mundo. Quanto mais ela traduzia, mais viam que não havia graça nenhuma naquilo. Então, as duas começaram a rir da situação.

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O garçom passou e serviu vinho. Elas cochichavam observações irônicas e riam do fato de estarem ali, no meio da França, cada uma com um bode mais amarrado do que a outra, ouvindo piadas idiotas de um homenzinho de nariz adunco, rodeadas de velhinhos contidos.

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O garçom voltou logo, um pouco titubeante, e trocou as taças vazias por outras cheias. De vinho. Elas recomeçaram a rir. Mais vinho. E os risos viraram gargalhadas. Gargalhadas que destoavam do comedimento francês e ecoavam pelo salão.

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Outra vez, o garçom. Outra vez, vinho.

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Lá pelas tantas, o do nariz adunco começou a se empolgar e achou que estava abafando com suas piadas. As duas já se contorciam nas cadeiras e a brasileira enxugava as lágrimas.

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De início, os velhinhos assustaram-se com aquela explosão, aquela demonstração de graça exagerada, mas acabaram ficando um pouco mais à vontade.

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O garçom ia e vinha, tão cambaleante quanto as duas garotas, mas sempre cumpridor do seu dever. E a cada vez que vinha, vinho. E a cada taça, a gargalhada inflamava. O homenzinho em cima do palco já pensava em contratar a dupla para participar das platéias seguintes quando o barbudinho de meio metro tomou-lhe o microfone anunciando a seqüência da festa: SAMBA! E começou a tocar um pout-pourri de rumba e salsa caribenhas. A brasileira tava que não se agüentava de tanto rir.

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O público afastou as cadeiras e a roda se abriu para a pista de dança. Os velhinhos foram balançar seus troncos ali, enquanto mantinham pernas e quadris estáticos e uma taça de qualquer-coisa na mão. Talvez ponche sem álcool. As crianças passavam de um lado para o outro, com brincadeiras contidas, e os poucos jovens escondiam as espinhas nos quatro cantos do salão, conversando entre si sobre astronomia ou qualquer coisa que os mantivesse longe da intimidade uns dos outros.

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A brasileira e a mexicana lamentaram o fim das engraçadas piadinhas sem-graça e, ainda com o riso no olhar e o vinho na veia, levantaram-se para se recompor. O garçom voltou com alguma dificuldade, recolheu as taças e outro alguém levou as cadeiras. Elas ficaram ali, em meio à pista de dança, avaliando a situação e o cenário. E não perceberam seus corpos gingando tímida e naturalmente ao som da música.

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Até que o pout-pourri deu lugar a um som mais conhecido: TEQUILA! As duas se entreolharam numa cumplicidade maravilhada e, sem pestanejar, começaram a dançar o hino imoral do México. Tijuana, tequila, sexo y marijuana. Wellcome!

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E foda-se o mundo! Foda-se a depressão de três meses longe de casa. Foda-se a falta de dinheiro, amor, de um abraço ou aperto de mão. E fodam-se os olhares reprovadores das velhinhas que estavam ali, tentando controlar o resquício de virilidade dos maridos senis que não tiravam os olhos daquelas duas. Indecentes! Só podiam ser latino-americanas mesmo. Umas putas. Mulheres fáceis.

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Escandalizada, uma senhora tentava apressar o intervalo da dança e dar logo início ao bingo. Hipnotizados, os homens abriram a roda apenas para as duas garotas, que de olhos fechados e com os braços levantados, rebolavam num transe frenético e faziam a alegria da decrepitude.

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A exibição ainda durou algumas faixas e um ou outro bônus track, até que os Carpenters avacalharam tudo. Culpa da velha sem carnes nem curvas sob o xale beige que ficava na cola do DJ e não tirava os olhos secos da rodinha tropical.

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A Karen Carpenter começou a miar e as garotas tomaram o rumo de casa, não sem antes tirar uma foto com cada um dos admiradores locais.

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Naquela noite, o homenzinho de nariz adunco foi dormir achando que era um bom comediante. As duas latino-americanas foram um pouco felizes e o DJ arrasou na seleção de músicas. Antoine dormiu no sofá pela primeira vez depois de 50 anos de casado e Karïm, imigrante marroquino que não tinha nada a ver com a história, ganhou um microondas no bingo.

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Pilar

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Os olhos e a gravata vinho


Vestiu o seu melhor terno, cinza escuro com riscados de mesma cor; uma camisa rosa muito clara e uma gravata vinho. Ao espelho, em frente, olhava-se enigmático, seus olhos nublados nada revelavam. Poder-se-ia, talvez, acreditar nas óbvias possibilidades humanas, mas, em se tratando de mente humana, nada é óbvio e tudo é possível, para o bem ou para o mal. Logo, enigmático olhava-se no espelho e enigmático ficou, assim, sem poesia. Pegou a chave de casa que colocara no bolso, mais por hábito mecânico que por lembrança, olhou-a sem expressão e jogou-a na mesa onde também estavam uma foto da filha, o cartão da sua conta corrente com a senha escrita no lugar da assinatura e algum dinheiro dobrado, preso com clipe. O ônibus que apontava já na esquina era o seu, mas precisava caminhar, olhar o bairro com uma certa lentidão, tocar nas pessoas. Andando, então, foi ao objetivo. O seu trabalho era em uma fábrica de montagem de caixas de isopor e produção de vários outros itens feitos com base no mesmo elemento: tijolos para laje, porta-garrafa, painel. Seu patrão lá estava, sentado preguiçosamente na cadeira de couro comprada à vista ao preço de cinco salários mínimos. E seu salário, àquele dia, completava três meses de atraso. Sua mulher já não dormia em sua cama há tempos, sua filha parara de estudar, trancara a matrícula nos cursos de inglês e natação. Sustentado estava pela esposa (que jogava isso em sua cara toda semana) e pela mãe (que, ainda viva, recebia aposentadoria da União). Olhar a cadeira e pensar nos três meses de salário atrasado era algo insuportável. Queria imensamente pegar o isqueiro e atear fogo ao monumento como forma de catarse, contudo, o que saiu do seu bolso foi mais um revólver que propriamente um fósforo. Olhou para o patrão que, assustado, molhara a calça e o chão; agora, seus olhos, outrora opacos, ganhavam vida, sentimentos, possibilidades! “Estou aqui pra pegar o que é meu”, disse com toda a afetação do mundo, seus olhos grandes. “Cê vai ser preso, cachorro, vou te dar o dinheiro e vou te...”, devolveu o patrão gaguejando, mas, antes de produzir outra frase transitiva, recebeu uma coronhada que lhe custou o supercílio. “Preso vou porque essa é a minha intenção, saio daqui e me entrego à polícia, isso é promessa”, os olhos continuavam acesos, elétricos. Pegou o dinheiro e saiu, agora sim, sinalizando para o primeiro ônibus que ameaçava partir. Infelizmente, na vida real, as chances de final feliz com revolver no bolso e suor de adrenalina são mínimas. Polícia que pára ônibus atrás de assaltante já vem de arma engatilhada e vontade canina. Os primeiros tiros não foram ouvidos por ele que já ao chão, olhava a gravata furada mas ainda vinho, a tinta que escorria pelo assoalho metálico que em nada lembrava os ladrilhos e o leiteiro de Drummond eram seus, de mais ninguém. Seus olhos, agora quase sem vida, voltavam ao oblíquo de antes e, estatelados, sozinhos, perdidos, aos poucos diminuíram, focalizando o nada, revelando algo impreciso, opaco, enigmático.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Isto se chama Observatório da Imprensa. Dines pode ter defeitos (e os têm, assim como todos nós humanos), mas que o seu projeto de monitoração é uma realização feliz eticamente e equilibrada, não há como discutir. Conclamo a todos que não conhecem tal observatório, mas que preza o respeito à cidadania e exige dignidade na informação que consome, a acessarem o sítio, vale a pena. "Você nunca mais verá jornal do mesmo jeito".
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/.
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O nome da coisa

Postado por Luiz Weis em 23/11/2007 às 9:06:23 AM
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Ontem foi dia de dilema nas redações brasileiras: como batizar a denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, contra o ex-governador, ex-presidente do PSDB e senador Eduardo Azeredo, o seu vice no governo e, ultimamente, ministro de Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia?
O resultado está nas edições de hoje – e não parece respaldar em geral a teoria conspiratória de que a mídia iria jogar fumaça nos olhos do leitor para que não equiparasse o desvio de R$ 3,5 milhões dos cofres públicos de Minas na frustrada campanha de reeleição de Azeredo, em 1998, à compra de políticos no primeiro governo Lula, que entrou para a história sob o codinome mensalão.
Diga-se desde logo que a equiparação faz sentido. Nas palavras do procurador, uma coisa foi o “laboratório” da outra. É verdade que ele também afirma que as situações não são exatamente iguais.
“Exatamente” não são. O mensalão, por exemplo, teve periodicidade – daí o rótulo [criado pelo autor da denúncia, então deputado Roberto Jefferson]. Os seus beneficiários diretos já exerciam mandato parlamentar. No caso anterior, o período foi o de uma temporada eleitoral, quando se usaram recursos públicos estaduais para financiar candidatos – que, uma vez eleitos, decerto retribuiriam a ajuda do principal interessado, e o primeiro dos “ajudados”, Eduardo Azeredo.
Isto posto, quando já se desconfiava de que o procurador-geral seria tão pouco leniente com os tucanos como foi com os petistas, houve quem previsse que a mídia, ela sim, cobriria a esperada denúncia com a preocupação de distinguir as duas "situações", como diria o procurador – embora tenha sido um jornal insuspeito de lulismo, o Globo, o primeiro a revelar o escândalo. Por sinal, em julho de 2005, quando a barca do mensalão corria em todas as manchetes.
Hoje, os termos “mensalão tucano de Minas” estão na manchete do Globo. Já a Folha estampou no alto da primeira página as palavras “esquema de corrupção do PSDB”.
O Estado também falou em “mensalão tucano”. Mas, no sub-título, usou “esquema de caixa 2”. Se de caixa 2 se trata – como querem os tucanos que se puseram a absolver de antemão o seu senador – mensalão não é. E vice-versa.
No Valor – espantosamente, dada a costumeira qualidade da cobertura política desse jornal voltado para a economia – o assunto só aparece numa página interna e de forma peculiar: abaixo da saída de Mares Guia e sob um título que é um despiste – “Caixa 2 do PSDB mineiro chega ao Supremo”.
Dos quatro, com a agilidade costumeira, a Folha foi o único a já sair com editorial a respeito. Mas o texto tropeça nos próprios cadarços ao falar em “mensalão mineiro” logo antes de falar em “mensalão petista”.
A assimetria é clara. Mensalão mineiro faz par com mensalão nacional, ou federal. E mensalão petista, também por uma questão de coerência, demanda que se escreva mensalão tucano.
Pior foi o cacoete de chamar Mares Guia nos títulos de “ministro de Lula”, como se pudesse ser ministro de outro alguém. Lula, aliás, aparece ao lado dele, desacorçoado, com a mão na testa, tanto na primeira da Folha como na do Estado. Tudo bem: é foto para ninguém pôr defeito. Mas que faz falta, ali, uma imagem de Azeredo, vai sem dizer.
Jornalisticamente, a pá de cal no contorcionismo tucano de sugerir que Azeredo – se tanto – cometeu um pecado venial, ao passo que o pecado petista era mortal, foi a analogia da manchete da página 12 do Globo:
“FH repete Lula e pede apuração sobre Azeredo”.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Cristo

Olha que coisa maravilhosa a Vais é capaz de produzir! Essa é daquelas que mergulham (e eu vou junto, que não sou bobo) e a gente se comove.

http://www.cantodasformas.blogspot.com/, passa lá! Vale a pena.

Cristo
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Disseram-no Rei

Das vestes simples, pensamentos nobres

Nasceu assim e assim viveu

Amante simples da pesca...

Das putas,dos malditos, dos excluídos:

- Escória daqueles mundos!

Fez, falou, pregou e foi pregado.

Sangrou e viveu e morreu e viveu.

Um Rei sem posses- Deus!

O maior dos anarquistas, graças ao Aníbal.
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domingo, 18 de novembro de 2007

Esta letra de música faz parte dos grandes sucessos de um conjunto que nunca existiu, mas fez muito estardalhaço no éter. Portanto, abro espaço para a (verdadeira) discoteca dos sonhos:


Chuva vai varrendo
Essa saudade que insiste em ficar
Escondida do vento (que é tempo)
Que chia chamando a chuva
(Pra afogar a saudade que insiste)

Chuva que chega chorar
Compartilhando do Amor distante
Lavando essa coisa em meu peito
Que pesa e não diz a que veio

Chuva que ofusca esse sol de ser-tão
Molhando as palavras de dentro
Sempre esperando o que é belo
Romper em sete cores

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Omissões da Imprensa

Este texto maravilhoso pode ser encontrado esta semana no sítio do Observatório da Imprensa.
É possível saber, às vezes, a base intelectual de certos jornalistas ou profissionais de igual responsabilidade quando nos deparamos com algumas notícias. Bem, é claro que muitas vezes é o jornal que pensa ser o leitor um retardado-marionete... E olha que há muitos jornalistas pensando o leitor, ouvinte ou telespectador como um Homer, sentado à poltrona, bebendo cerveja e babando enormes imbecilidades.
De toda a produção textual elaborada pelo senhor Carlos Brickmann, só discordo da "ode ao Corinthians". Sou flamenguista e quero mais que o Corinthians...
Enfim, boa leitura!
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Histórias que gostaríamos de conhecer
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Por Carlos Brickmann em 13/11/2007
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1 – A Polícia Federal desfechou uma série de operações, com muita gente presa. E com um comportamento novo (e elogiável): sem espetáculo. Não havia câmeras de TV, nem repórteres disfarçados de agentes, nem a humilhação pública de pessoas que, por enquanto, são apenas suspeitas; conforme a lei dos países civilizados, mantêm-se inocentes até prova em contrário. Mas que pena! Não houve repórteres para nos contar que mudou, o que mudou, por que mudou e como mudou.
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2 – No dia 21, o Brasil joga com o Uruguai, em São Paulo. No dia 9, os 56 mil ingressos à venda se esgotaram em duas horas. Talvez o insopitável impulso de ver um jogo que ainda ninguém comenta e que por enquanto merece reduzido espaço nos meios de comunicação tenha feito com que nosso povo modificasse a tradicional mania de deixar tudo para a última hora e se precipitasse, à média de quase 500 pessoas por minuto, à compra antecipada de ingressos. Ou, quem sabe, pode ser que os ingressos tenham caído nas mãos de cambistas, que os revenderão, mais perto do jogo, a preços bem menos convidativos. Mas que pena! Não havia repórteres nas filas de ingresso, para ver quem compra, e quanto.
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3 – Ricardo Teixeira, presidente da CBF, é um homem rico? Se não é, que outras atividades exerce que lhe permitem receber alguma remuneração? Se é, de que se compõe e como foi formada sua fortuna? Que pena! Este colunista não encontrou nada a respeito da vida financeira deste personagem, que comandará a Copa do Mundo de 2014, com investimentos de alguns bilhões de dólares.
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Debaixo do sal
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A descoberta do campo de Tupi, na Bacia de Santos, é uma das melhores notícias recebidas nos últimos tempos pelo Brasil. Mas não é uma notícia nova: há dois anos, a Gazeta Mercantil já descrevia o novo campo – sem números, mas prevendo que seria grande. Há quem diga que o presidente Lula optou por uma nova divulgação da notícia velha para contrabalançar as informações sobre problemas no abastecimento de gás. Mas, se isto tivesse ocorrido, o mercado não reagiria com tanta euforia, jogando dinheiro nas bolsas, aqui e no Exterior. Quem trabalha com dinheiro é, por definição, muito cauteloso.
Talvez a novidade, agora, seja a posse da tecnologia para buscar petróleo a tamanha profundidade – uma tecnologia que, quando se achou o campo, há alguns anos, não era ainda disponível. Pode ser também que a tecnologia já existisse, mas a tal custo que não compensaria explorar o novo campo. Hoje, com o petróleo no preço mais alto da história, já valeria a pena explorá-lo.
Que pena! O debate se partidarizou. Quem é contra o presidente Lula acha que é tudo uma farsa, quem é a seu favor festeja o petróleo farto. E os repórteres, que poderiam nos contar algo mais sobre o tema, quando trarão suas conclusões?
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Pitada de sal
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A imprensa noticiou amplamente que o presidente Lula, durante o Vôo da Alegria à Suíça, contou a várias autoridades que a Petrobras tinha descoberto um imenso campo de petróleo na Bacia de Santos. Mas – o que foi notado apenas por poucos colunistas – isso seria um crime: há regras rígidas e específicas para divulgar notícias que possam influenciar a cotação de empresas cotadas em Bolsa. Não é questão, apenas, de investigar burocraticamente a movimentação de compras e vendas de ações da Petrobras: é o caso de a CVM investigar especificamente os integrantes da nutrida comitiva que esteve na Suíça com o presidente, para evitar fofocas e comprovar que nenhum deles andou usando inside information para negociar Petrobras.
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Óbvio em destaque
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O secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, disse que o Brasil, se quiser mesmo um lugar permanente no Conselho de Segurança, precisa aumentar sua base de apoio. É óbvio: se o senador Renan Calheiros quiser ser presidente da República, precisa aumentar sua base de apoio. Se o Íbis quiser ter a maior torcida de futebol do país, precisa aumentar sua base de apoio. Óbvio – mas mereceu chamada de primeira página, e assinada. E nós, jornalistas, ainda criticamos os técnicos que dizem que para ganhar é preciso fazer mais gols que o adversário.
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Impório
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A história é engraçada: uma quadrilha disfarçou um carro para entrar num condomínio de luxo e assaltá-lo. Mas fracassou porque, no adesivo com o nome de um tradicional empório paulistano, escreveram "impório".
1 – A Polícia muito se vangloriou, e os meios de comunicação fizeram a gentileza de publicar o caso, com todos os detalhes. Agora os bandidos sabem que, se quiserem ter êxito em futuros assaltos, precisarão tomar cuidado com este tipo de detalhe.
2 – A imprensa ridicularizou a falha dos bandidos, mas chamou-a de "erro de ortografia". Pois é: se é erro, não é "ortografia", que significa "grafia correta". Foi, isso sim, um erro de grafia. Coisa pequena – mas não pode acontecer com quem critica os outros exatamente por esse motivo.
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Pagando o passe
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A propósito, um grande jornal disse que os torcedores do Corinthians queriam "saldar" o goleiro Felipe.
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A grafia oficial
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Esta é da Secom, a Secretaria de Comunicação do Governo Federal:
Brasil investi R$ 122 bilhões em petróleo e gás até 2012
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Bi, tri, penta
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Na discussão entre Flamengo e São Paulo para ver quem é pentacampeão brasileiro, ninguém tem razão: nenhum dos dois ganhou o título cinco vezes seguidas. Pode-se discutir qual dos dois foi o primeiro a ganhar o título por cinco vezes, o que lhe daria a posse definitiva de uma taça; mas pentacampeão nenhum dos dois é (nem o Brasil, a propósito: o Brasil é bicampeão do mundo, com os títulos de 58 e 62, e no total foi cinco vezes campeão).
Apenas para efeito de demonstração: se ganhar cinco vezes, sem seqüência, atribuísse a um time o rótulo de pentacampeão, como se rotularia o Glorioso e Insuperável Corinthians, clube preferido deste colunista, dezenas de vezes Campeão Paulista? Além, é claro, de Campeão Mundial Interclubes da FIFA.
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Destaque merecido
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Todo mundo é contra o racismo, exceto na hora de agir. A repórter Maria Cristina Fernandes, do Valor, agiu: escreveu magnífica reportagem sobre a formatura da primeira turma da UniPalmares, a Universidade da Consciência Negra Zumbi dos Palmares, iniciativa da comunidade negra para garantir a formação superior de pessoas que, discriminadas, muitas vezes não conseguem espaço para se desenvolver academicamente. Detalhe: a jovem Unipalmares tem, em seus quadros, mais mestres e doutores do que o número exigido pelo Ministério da Educação.
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Cristal voador
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Está na grande imprensa: entre incidentes (menos graves) e acidentes, houve 75 ocorrências com aviões no Brasil, em 2007. Agora a grande pérola: A expectativa oficial da Aeronáutica é de mais dez acidentes no ano.
Ah, as estatísticas! Se, em cada grupo de cinco pessoas, uma é chinesa, seu quinto filho será obrigado a nascer de olhinhos puxados?
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E eu com isso
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Conrad Hilton, marido da belíssima estrela de cinema Zsa Zsa Gabor, criou a rede de hotéis Hilton. Mais do que isso, criou o conceito de hotel com padrões conhecidos, em que o tipo de acomodações e de serviço é o mesmo onde quer que o hotel se localize. Hilton é o pai de todas as grandes redes, como Sheraton, Marriot, Meliá, Sofitel; e bisavô de Paris Hilton.
E por que se notabiliza Paris Hilton?
Segundo a imprensa de fofocas, sua foto alivia a dor de ratos de laboratório.
Este colunista, que não passa sem notícias de Paris Hilton (até porque aparecem em tudo quanto é lugar) tem uma tese sobre o tema: os camundongos sabem que, se continuarem demonstrando sintomas de dor, correm o risco de ser submetidos a outras fotos de Paris Hilton.
E há mais noticias sem as quais não podemos passar
1 - Jennifer Lopez continua sem revelar suposta gravidez
2 - Namorada termina com o príncipe Harry
3 – Juliana Paes em balada eletrônica
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O grande título
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Semana muito rica, esta. Há títulos excelentes:
1 – Grupo Café realiza chá beneficente
2 – Menina com quatro pernas estranha a falta de membros
Há um título tranca-línguas muito interessante:
Deputado fala com Lula e diz que já não apóia re-reeleição
Mas o melhor, até por seu aspecto enigmático, é este:
Britânico é condenado por assédio com cenoura.
Consta, nas lendas da categoria, a história de um jornalista famoso que certa vez precisou de auxílio para livrar-se de um incômodo pepino. Deve ser lenda, apenas. Mas resta uma pergunta: o uso de legumes e raízes configura assédio?

sábado, 10 de novembro de 2007

Verdade nada absoluta

Certas situações ou críticas só deveriam ser feitas depois de muito empirismo. Assim como, ontem achava o máximo ter personalidade própria e, hoje, acho tal frase de uma redundância “descerebral”, certas coisas que acreditava serem exatas, hoje, são apenas coisas que passaram e nada acrescentaram (com rima e tudo, mas sem poesia).
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Digo isso por causa de um churrasco, e eu sou fã incondicional de churrasco e cerveja (foda-se se morro enfartado, viver no Rio e ganhar salário quase mínimo é mais prejudicial), uma crítica que fiz e o “tempo-senhor-da-verdade”.
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Aliás, assim como qualquer admirador de Sartre, Jaspers e existencialistas de iguais parâmetros, não acredito em verdades absolutas – o que deve ser um erro aos olhos de Deus, caso o barbudo exista.
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No tal churrasco, um amigo em comum, cunhado do dono da festa, teve o carro roubado quando já entrava na garagem da sua casa. Sua preocupação não era o veículo, mas a filha de cinco anos que estava, ao cinto, no banco de trás. Os diálogos que aconteceram não foram registrados pelo homem, ocupadíssimo em salvar a menina que, a esta altura, já estava com a arma apontada para a cabeça. Quase tomou um tiro pela demora, mas no fim, as coisas saíram a seu favor (se não for ironia escrever isso). No churrasco, meses depois, confessou que, se tivesse a chance, mataria os dois assaltantes – não por terem roubado o carro, mas pelo apontar de uma arma para o rosto da sua menina. Na época, dei uma de sociólogo e cometi a prudência de dizer que a morte não justifica porra nenhuma e que os dois sujeitos eram mais vítimas do que “vitimadores”. Enfim, fiz o certo, fui centrado. A verdade cabível é esta: muitos roubam porque a vida só lhes deu isso de esmola.
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Três anos depois, vejo-me sentado ao chão da sala com minha filhota de um ano e meio falando coisas ainda incompreensíveis a mim, mas fundamentalmente majestosas. Penso no amigo em comum e no revólver apontado para a sua cabeça e a da sua filha. Continuo acreditando nos direitos humanos e na falta de direitos que o pobre (fodido) deste país tem para suportar. Direitos negados pela mídia golpista, por cineastas intelectualóides, governo lambe-saco de imperadores e por aí vai. Contudo, devo admitir: mato o primeiro que fizer mal à minha flor.
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Admito isso aqui para dizer o óbvio ululante e – se Deus quiser – inverídico (paradoxo?): o nosso amor só dura o tempo de uma arma na cabeça de quem amamos.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

"Repeat" na penumbra

A sala pequena, mas com um certo conforto e praticidade, estava em penumbra e ele, ao lado das caixas de som, quieto, um pouco úmido por dentro por causa das duas músicas que, no “repeat”, tocavam sem parar: Claire de lune e Tristesse. Vez em quando balançava o copo de vinho tinto Merlot que, em promoção em algum Carrefour, trouxe displicentemente. Era um romântico e, às vezes, soltava-se pelos cantos da sala e, preso à música e ao vinho – ambos instrumentos inseparáveis – só saía depois que seu espírito melancólico dava sinais de cansaço. Nesse momento, as teclas do piano atingem-no em cheio. Trepidando parte de sua emoção contida pelo aperto das faces, a retenção de um músculo, a paralisia diante do acorde magnífico e doloroso. O ar pára, os pulmões não se mexem à espera da última nota, àquela que, como a nicotina, será devastadora e completa. De repente, alguma coisa está sendo dita, martelam-se voluptuosa e atabalhoadamente o canto e, tão de repente quanto, tudo cessa, um espaço para o silêncio é totalmente justificável; a última nota vem aí, trôpega, soluçando, mas com um visco, um vigor decisivo. Intenso. Ele aumenta um pouco mais o som, pois a última nota vem aí e a orquestra de sentimentos vai suspirar e deixar-se abater como em catarse. Ele sabe que, assim como a tristeza ou a felicidade, a música vai acabar, vai transpirar e virar outra coisa. O caminho é sempre esse. Ele sorri depois de algum tempo, o gosto do vinho e a imagem da musa ficaram na boca. Engraçado como certas músicas trazem a personificação em seus acordes. A vida faz mais sentido com um pouco de música e amor.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Ela, Alice. Ele, Renato

o blogue Sétima Letra é sempre acessado quando procuro uma brisa, um acalanto. A beleza das palavras que lá encontro é como um bálsamo. A verdade é que Ro Druhens sabe ser beleza.




Vamos à produção do poema em prosa:


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E o Renato jogava basquete no clube onde a Alice ia debutar. Tempo dos Beatles. Mas foi durante a Valsa dos Namorados que o Renato disse no ouvido da Alice "I love her"... Naqueles idos o Renato não falava inglês, era tempo de pré-nomes e o Renato desconhecia os pronomes. Mas a Alice entendeu que aquilo era um I love you e no dia seguinte foram ao cinema.
Primeiro beijo na boca.
E o Renato fazia Engenharia na mesma faculdade aonde a Alice fazia Sociologia. Tempo de bossa-nova. E foi depois de uma reuniãozinha de violão que o Renato disse pra Alice "quero a vida sempre assim, com você perto de mim...” Naqueles idos a Alice andava muito engajada nos movimentos estudantis, era tempo de nomes de guerra e a Alice achava o amor muito burguês. O Renato entendeu que aquilo era um adeus e no dia seguinte não telefonou.
Primeira lágrima.
E o Paulo, marido da Alice era diplomata e foram morar na Bélgica. E a Lúcia, mulher do Renato era pianista, com agenda de concertos na Europa. Tempo de Pavana para uma Infanta Defunta...Naqueles idos a Alice andava entediada, era tempo de sobrenomes e o Renato achava o casamento muito frágil. Depois de tantos anos, o foyer do teatro. O Paulo entendeu que deveria convidar a Lúcia e o Renato para jantar, e houve afagos nos olhares e saudade nos gestos.
Primeiro arrependimento.
E o Paulo morreu num acidente. E a Lúcia pediu o divórcio. Tempo de Cazuza... Naqueles idos a Alice foi morar no sítio, era tempo de codinome beija-flor e o Renato namorou Ana Maria. Até que um dia, na fila de check-in em um aeroporto... E a Ana Maria viajou sozinha.
Primeiro amor, eterno amor.


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Ro Druhens

domingo, 4 de novembro de 2007

Ela e o livro


Acabara de fechar As Moscas, de Sartre, e a certeza do bom livro, assim como o bom vinho, ficou na boca durante um tempo. Outra certeza era o amor pela filha e todas as suas pirraças, manhas, choros e aquele sorriso espontâneo que vem de lugar nenhum e irradia o coração do sol, que dá vontade de abraçar a tarde toda, infinitamente. O amor sufoca? Será que enche o saco ao outro lado? Mima? Meditava sobre o amor e a resistência quando os primeiros pingos caíram, suaves aqui, pesados acolá, desproporcionais como o caos, mas com uma liberdade confortante e, quiçá, estável. Levantar da cadeira disposta no lugar mais fresco do quintal resultou num exercício difícil, mas os pingos aumentaram, Sartre continuava em sua mão e sua filha corria em sua volta, formando círculos indecifráveis. Pegou-a pela mão esquerda e conduziu, ela e o livro, até a sala. A partir daí a chuva ganhou proporcionalidade e caiu em todo o seu vigor e explosão. O terraço em alumínio do vizinho dava a impressão de guerra, no quintal tudo era ensurdecedor. Ficara tanto tempo à porta olhando o torrencial desabar que, como em um mantra, entrara em transe; seus olhos distantes, opacos, a chuva caindo dentro e fora e o imenso espaço sendo inundado – água tomando os centímetros. Foi quando começou a chorar. Foi quando decidiu entrar na chuva por dois motivos: estava disposto a lavar metaforicamente alguma coisa dentro, assim como era necessário esconder o seu choro soluçar da filha que o olhava justamente com aquele sorriso. Algo cíclico chegara ao fim e não era o amor pela filha ou a chuva que resolvera transbordar outros quintais e corações. A sensação de liberdade era palpável e ele pôde contemplar, mesmo encharcado, o outro lado do fim.

sábado, 3 de novembro de 2007

If God Will Send His Angels

Mesmo se Deus (caso exista) enviasse os seus anjos, estaríamos a salvo? Acho que algumas figuras políticas e/ou públicas andam fazendo do mundo prostíbulo ou supermercado. Parece música sertaneja cantando o orgulho de ser caipira em ternos Armani, mas é U2 mesmo. Bem, prefiro eles, apesar da chatice ingênua do Bono.
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Nobody else here baby no one here to blame
No one to point the finger... It's just you and me and the rain
Nobody made you do it, no one put words in your mouth
Nobody here taking orders when love took a train heading south
It's the blind leading the blond
It's the stuff, it's the stuff of country songs

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Hey, if God will send his angels
And if God will send a sign
And if God will send his angels
Would everything be alright?

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God's got his phone off the hook, babe would he even pick up if he could?
It's been a while since we saw that child hangin' round this neighbourhood
See his mother dealing in a doorway see Father Christmas with a begging bowl
Jesus sister's eyes are a blister... The High Street never looked so low

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It's the blind leading the blond...

It's the cops collecting for the cons
So where is the hope and where is the faith... and the love?
What's that you say to me
Does love light up your Christmas tree?
The next minute you're blowing a fuse
And the cartoon network turns into the news

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If God will send his angels
And if God will send a sign
Well if God will send his angels
Where do we go?
Where do we go?

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Jesus never let me down you know Jesus used to show me the score
Then they put Jesus in show business now it's hard to get in the door

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It's the stuff, it's the stuff of country songs
But I guess it was something to go on

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Hey, if God will send his angels
I sure could use them here right now
Well, if God will send his angels...
And I might not want my life
I want my lover feel my soul
And I want my love and I
And I want to feel alone
How?
Where do we go?
Where do we go?

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U2 - álbum POP

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Tudo vira bosta

Impressionante como (quase) tudo neste país vira politicagem, chantagem ou coisa de mesma calibragem; infelizmente, raríssimas são as vezes em que encontramos boa rima ao avistarmos muitos políticos juntos, sorrindo e, acima de tudo, deixando um pouco de lado a posição ou oposição que ocupam.
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Assim foi ao assistir a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de Futebol, organizado pela FIFA. Muitos políticos, muitos sorrisos (exceção ao presidente da CBF), muito nada. No quadro e na foto que virará moldura, tudo fora de ordem: Romário no lugar de Pelé? Dunga como técnico? Paulo Coelho? Pois é, como já escreveu Caetano... Aliás, alguém poderia explicar o que foi àquela resposta do Ricardo Teixeira sobre violência? Na hora imaginei minha querida poetiza Acantha pedindo os sais...
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Mas não é a isso que dedico este texto surrado, mas sobre algo que li no Jornal do Brasil desta quinta (01/11) e deixou-me (e não deveria mais, pois isto é Brasil) indignado: a constatação de que, para que certas cidades sejam escolhidas e certas imagens não sejam “queimadas”, alguns políticos já “formam quadrilha” por baixo do pano com o intuito de abolir quaisquer CPIs contra o futebol (melhor dizendo, com o que há de podre nele). Um dos planos já se encontra a todo vapor com a retirada de várias assinaturas da CPI do Corinthians.
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Impressionante como (quase) tudo neste país vira politicagem, drenagem ou coisa de mesma bandidagem. Repetidamente.
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“Tudo vira bosta”.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

O Moço da Bicicleta Encantada

Tudo que essa mulher semi-tudo toca, vira...Literatura! É sempre bom conhecer pessoas que mergulham no talento e dele produzem múltiplas asas para vôos mais rasantes. Este é o caso da Sandra ( http://www.dimensaosalvadora.blogspot.com/ ).
Bom prazer:


O Moço da Bicicleta Encantada


Quando eu tinha por volta dos meus 14/15 anos, tocava violão, tocava não, arranhava. Não que fosse destituída de talento, modéstia à parte, tenho bom ouvido e sou afinada. Mas não tinha determinação, nem disciplina para me dedicar ao estudo do instrumento. Cheguei a tocar algumas pequenas peças, lendo partitura. Mas hoje, vendo um pentagrama musical, só identifico a clave de sol.Foi mais ou menos nessa época que também tive a minha primeira desilusão amorosa, uma paixão platônica, diga-se de passagem. Ele, o tal “Moço”, era o cara mais bonito da escola, pelo menos aos meus olhos... Mas o que mais me encantava nele, não era seu corpo, nem seu rosto, nem seus olhos... O que realmente me impressionava era a maneira como ele andava de bicicleta. Vocês precisavam ver a maneira como aquele Moço chegava à escola. Sua bicicleta era uma caloi azul, linda! Nem sei qual dos dois era mais bonito, o Moço ou sua caloi. Até porque parecia que a bicicleta era uma extensão do corpo dele, tamanho era seu domínio sobre o veículo de duas rodas. O Moço fazia o diabo a quatro com a bicicleta, o que me fazia lembrar o filme Butch Cassidy & Sundance Kid, naquela cena em que Paul Newman anda de bicicleta se mostrando para Katharine Ross. Quem viu o filme deve se lembrar... “Raindrops Keep Fallin' on My Head...” . E eu, uma adolescente muito tímida, ficava olhando, toda boba e pensando: Que tipo de música ele deve gostar de ouvir? Será que gosta de Caetano, Gil , Chico?. Eu já sabia tocar no violão João e Maria, de Sivuca e Chico Buarque... “Agora eu era o herói e o meu cavalo só falava inglês/ a noiva do caubói era você além das outras três...”. Ou será que ele preferia rock? Bem, eu estava determinada a aprender os primeiros acordes de Stairway to Heaven do Led Zeppelin. Mas talvez ele preferisse o romantismo malemolente do Jorge Ben... "A minha teimosia é uma arma/ pra te conquistar/ eu vou vencer pelo cansaço até você gostar de mim...”. Com a ginga toda que ele tinha em cima da bicicleta é provável que ele gostasse sim, do Jorge Ben. E eu suspirava calada... Até que certo dia o Moço chegou à escola dirigindo um carrão preto, desceu cheio de pose e as garotas mais bonitas da escola ficaram ao seu redor, provavelmente o bajulando um bocado. Vocês não imaginam a minha raiva e decepção: "Como?! Como ele foi capaz de trocar a poesia por um carro?!". Sim, poesia, porque vê-lo em sua caloi azul era como ler um belo poema, ou admirar um belo quadro, um belo filme... "Como?! Como?!" Questionava-me, inconformada. Naquele dia descobri que, além de bonito, aquele Moço era o cara mais idiota da escola. E que todo o encantamento estava em sua linda caloi azul. A bicicleta era encantada, só podia ser. Sem ela, ele perdera toda a beleza e poesia, pelo menos aos meus olhos...
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Produção textual e artes plásticas : Sandra Camurça

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

O rolo do Rolex

Garimpei este texto no jornal Folha de S. Paulo, Tendências/Debates, Opinião (A3). Excelente posicionamento do músico Zeca Baleiro (na minha opinião). A questão é essa mesmo: o jornal foi democrático ao colocar Huck, Ferréz e Reinaldo no espaço opinativo do jornal, porém, o tema em questão (apesar das conotações e entrelinhas) não merecia destaque no espaço reservado à textos de complexidade política e humana maior.
Vamos a ele:

ZECA BALEIRO

NO INÍCIO do mês, o apresentador Luciano Huck escreveu um texto sobre o roubo de seu Rolex. O artigo gerou uma avalanche de cartas ao jornal, entre as quais uma escrita por mim. Não me considero um polemista, pelo menos não no sentido espetaculoso da palavra. Temo, por ser público, parecer alguém em busca de autopromoção, algo que abomino. Por outro lado, não arredo pé de uma boa discussão, o que sempre me parece salutar. Por isso resolvi aceitar o convite a expor minha opinião, já distorcida desde então. Reconheço que minha carta, curta, grossa e escrita num instante emocionado, num impulso, não é um primor de clareza e sabia que corria o risco de interpretações toscas. Mas há momentos em que me parece necessário botar a boca no trombone, nem que seja para não poluir o fígado com rancores inúteis. Como uma provocação. Foi o que fiz. Foi o que fez Huck, revoltado ao ver lesado seu patrimônio, sentimento, aliás, legítimo. Eu também reclamaria caso roubassem algo comprado com o suor do rosto. Reclamaria na mesa de bar, em família, na roda de amigos. Nunca num jornal. Esse argumento, apesar de prosaico, é pra mim o xis da questão. Por que um cidadão vem a público mostrar sua revolta com a situação do país, alardeando senso de justiça social, só quando é roubado? Lançando mão de privilégio dado a personalidades, utiliza um espaço de debates políticos e adultos para reclamações pessoais (sim, não fez mais que isso), escorado em argumentos quase infantis, como "sou cidadão, pago meus impostos". Dias depois, Ferréz, um porta-voz da periferia, escreveu texto no mesmo espaço, "romanceando" o ocorrido. Foi acusado de glamourizar o roubo e de fazer apologia do crime. Antes que me acusem de ressentido ou revanchista, friso que lamento a violência sofrida por Huck. Não tenho nada pessoalmente contra ele, de quem não sei muito. Considero-o um bom profissional, alguém dotado de certa sensibilidade para lidar com o grande público, o que por si só me parece admirável. À distância, sei de sua rápida ascensão na TV. É, portanto, o que os mitificadores gostam de chamar de "vencedor". Alguém que conquista seu espaço à custa de trabalho me parece digno de admiração. E-mails de leitores que chegaram até mim (os mais brandos me chamavam de "marxista babaca" e "comunista de museu") revelam uma confusão terrível de conceitos (e preconceitos) e idéias mal formuladas (há raras exceções) e me fizeram reafirmar minha triste tese de botequim de que o pensamento do nosso tempo está embotado, e as pessoas, desarticuladas. Vi dois pobres estereótipos serem fortemente reiterados. Os que espinafraram Huck eram "comunistas", "petistas", "fascistas". Os que o apoiavam eram "burgueses", "elite", palavra que desafortunadamente usei em minha carta. Elite é palavra perigosa e, de tão levianamente usada, esquecemos seu real sentido. Recorro ao "Houaiss": "Elite - 1. o que há de mais valorizado e de melhor qualidade, especialmente em um grupo social [este sentido não se aplica à grande maioria dos ricos brasileiros]; 2. minoria que detém o prestígio e o domínio sobre o grupo social [este, sim]". A surpreendente repercussão do fato revela que a disparidade social é um calo no pé de nossa sociedade, para o qual não parece haver remédio -desfilaram intolerância e ódio à flor da pele, a destacar o espantoso texto de Reinaldo Azevedo, colunista da revista "Veja", notório reduto da ultradireita caricata, mas nem por isso menos perigosa. Amparado em uma hipócrita "consciência democrática", propõe vetar o direito à expressão (represália a Ferréz), uma das maiores conquistas do nosso ralo processo democrático. Não cabendo em si, dispara esta pérola: "Sem ela [a propriedade privada], estaríamos de tacape na mão, puxando as moças pelos cabelos". Confesso que me peguei a imaginar esse sr. de tacape em mãos, lutando por seu lugar à sombra sem o escudo de uma revista fascistóide. Os idiotas devem ter direito à expressão, sim, sr. Reinaldo. Seu texto é prova disso. Igual direito de expressão foi dado a Huck e Ferréz. Do imbróglio, sobram-me duas parcas conclusões. A exclusão social não justifica a delinqüência ou o pendor ao crime, mas ninguém poderá negar que alguém sem direito à escola, que cresce num cenário de miséria e abandono, está mais vulnerável aos apelos da vida bandida. Por seu turno, pessoas públicas não são blindadas (seus carros podem ser) e estão sujeitas a roubos, violências ou à desaprovação de leitores, especialmente se cometem textos fúteis sobre questões tão críticas como essa ora em debate. Por fim, devo dizer que sempre pensei a existência como algo muito mais complexo do que um mero embate entre ricos e pobres, esquerda e direita, conservadores e progressistas, excluídos e privilegiados. O tosco debate em torno do desabafo nervoso de Huck pôs novas pulgas na minha orelha. Ao que parece, desde as priscas eras, o problema do mundo é mesmo um só -uma luta de classes cruel e sem fim.

JOSÉ DE RIBAMAR COELHO SANTOS, 41, o Zeca Baleiro, é cantor e compositor maranhense. Tem sete discos lançados, entre eles, "Pet Shop Mundo Cão".

domingo, 28 de outubro de 2007

Crematório de cérebros

O simples e óbvio, na maioria das vezes, demora a se mostrar por motivos toscos: como vivemos ocupados com a correria e debruçados em assuntos ditos complexos, deixamos o que está "na cara" de lado. Contudo, quando já não é possível tal rejeição ou desconhecimento, a verdade nos vem como um tapa. Foi isso que tomei lendo o belíssimo texto de Cristovam Buarque publicado em O Globo neste Sábado, 27 de Outubro, caderno de Opinião (Página 7). Vamos a uma parte deste que, para mim, é o que se pode chamar de óbvio-magnífico:
Crematório de cérebros
"É comum o horror diante da brutalidade de dirigentes que queimam livros e prendem ou matam intelectuais como o imperador chinês Shih Huang Ti, que, 210 anos antes de Cristo, decidiu queimar todos os livros e matar todos os estudiosos do seu império. Até hoje, a inquisição horroriza o imaginário da humanidade pelo crime de destruir livros e matar intelectuais durante a Idade Média. Em Berlim, no campus da universidade Humboldt, há um local de reverência indignada no lugar onde Hitler queimou milhares de livros.
Mas não nos horrorizamos quando os livros são impedidos de ser escritos e os jovens de se transformarem em escritores. Indignamo-nos com a queima de livros e a prisão de escritores, mas não com a incineração de cérebros como se faz no Brasil, ao negarmos educação ao povo. Pior do que queimadores de livros, somos incineradores de cérebros que escreveriam livros se tivessem a chance de estudar. A História do Brasil é a história do impedimento de que livros sejam escritos e de que cientistas e intelectuais floresçam.
Quando os livros são queimados, alguns se salvam. Mas, se eles não são escritos, não há o que salvar. Quando escritores se salvam, eles escrevem outros livros, mas, quando não aprendem a ler, queimam-se todos os livros que poderiam escrever.
O Brasil é um crematório de cérebros.
Ao nascer, cada ser humano traz o imenso potencial de um cérebro vivo e virgem. Como um poço de energia a ser ainda construído: pela educação. No Brasil, 13% dos adultos são analfabetos, apenas 35% concluem o ensino médio; destes, só a metade tem uma educação básica com qualidade acima da média. Portanto, oitenta e dois por cento ficam impedidos de escrever e todos os livros que escreveriam são queimados antes de escritos. Como se o Brasil fosse um imenso crematório de inteligência.
As conseqüências são perfeitamente perceptíveis: basta olhar a cara da escola pública no presente para ver a cara do país no futuro. Apesar dos nossos quase 200 milhões de cérebros, o quinto maior potencial intelectual do mundo, o Brasil continuará a ser um país periférico na produção de conhecimento. Da mesma forma como a China regrediu intelectualmente depois de Shih Huang Ti; a Alemanha, com Hitler; a Península Ibérica, com a Inquisição; o Brasil está perdendo o potencial de seus cérebros interrompidos. O resultado já é visível: ineficiência, atraso, violência, desemprego, desigualdade, tolerância com a corrupção e a contravenção. Um país dividido por um muro da desigualdade que separa pobres e ricos - e separado das nações desenvolvidas (...)"
Cristovam Buarque é Professor e Senador

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O sacolejo

O ônibus sacolejava bastante e o humor do motorista não era dos melhores. Apesar da passagem ser R$1,90 era praticamente impossível você conseguir os dez centavos de troco quando a sua nota de dois reais caía no caixa dos trocadores. Ônibus lotado, sacolejando, com motorista indisposto e calor. Química perfeita para um dia desgastante, arrastado. De repente, barulhos de tiros irromperam no cruzamento à frente, correria vinda da esquina, dobrando e desaparecendo em curto espaço de tempo. Ônibus parado, dessa vez não era questão de pegar passageiros. Homens de preto armados com fuzis bradavam alguma ordem incompreensível, o motorista desligou o motor, agora, somente os barulhos nítidos e inconfundíveis dos projéteis sendo disparados em direções “x,y”. Os homens de preto também respondiam disparando tiros e ordens outras. Talvez, numa súbita briga com a gramática, desconsiderando o fato de não existir “eu” no imperativo, as ordens eram dadas a eles por eles mesmos, como que injetando uma força reserva, uma ode à motivação para vencer o medo, o susto e a lógica aristotélica que impede qualquer policial de trocar tiros de igual para igual com um bandido, haja vista o péssimo soldo recebido. A cadência do samba torto continuou por alguns minutos e bruscamente parou por eternos instantes. A porta do ônibus abriu e um policial pediu para que todos saíssem. Alguns começaram a chorar (medo de descer, óbvio), outros começaram a chorar (não conseguiam descer, algo dentro da alma psicológica os impedia) e outros começaram a chorar (de alívio por poderem descer), ainda outros desceram apenas, sem muito atabalhoamento. Um senhor, na altura dos seus sessenta anos, observava o policial atrás do poste de luz: óculos escuros, disparando seu fuzil sem mirar, na suposta direção do confronto. Pensou o senhor que aquele era o retrato típico da segurança pública no Rio de Janeiro. O “evento” (que não teve a participação de políticos e suas promessas) durou duas horas ou algo parecido (no inferno o tempo não existe, mas o sofrimento é eterno) com um saldo espetacular de doze mortos. Infelizmente, uma criança fazia parte do número. O senhor que chegou a casa e assistiu a tudo pelo noticiário tendencioso das vinte horas lamentou o fato e seguiu a sua vida indo à cozinha jantar. É rezar para que não entrem mais crianças na linha de tiro, é rezar para que humanos, seja de qualquer idade, não entrem na linha de tiro (porque os tiros continuarão, promete a vida carioca).

Ele

"Mire e veja" o que Acantha publicou no blogue: ControVersos - http://deazeredo.blogspot.com/! Simplesmente fantástico, vale a deliciosa leitura e uma visita demorada no blogue que reúne o que há de bom circulando por aí (Adelaide, Fernanda, Alex, Mariza, Druhens, Tereza e Acantha, claro).
Vamos à musa:
Ele

sou desse homem.
desse homem que me come pontualmente
nos dias em que me permito esquecer a mesmice
do sexo manso e monótono e abro as pernas
para a rapidez do ato eleemcimaeudequatroacabou.
para o sexo que ele sabe não bastar, desde o dia em que
esqueci de gemer.
sou desse homem que me mantém na suave petulância da
classe média, super às terças, pizza no sábado, fantástico
domingo...
desse homem que desconhece as tardes mornas
em mãos estranhas nas minhas entranhas,
nos meus labirintos de se perder de medo.
desse homem que só vê o rosto que lhe mostro,
o corpo que lhe empresto no cotidiano insosso e áspero.
o corpo forqueado que sente tanto e tantos,
que interroga e duvida e declara e pede e exclama - mas não.
desse homem, senhor dos meus hábitos – mesmo olhar
mesma roupagem – carro novo, flor em datas
eu sorrindo, alma falsa.
mas sou desse homem.
tão e tanto.
Acantha Sirte