terça-feira, 13 de setembro de 2016

A Lava Jato e a Primeira Lei de Rodrigo Janot



É conhecida a Lei de Goodwin para as discussões.

À medida em que cresce uma discussão, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou o nazismo aproxima-se de 1 (100%).

A melhor versão da Lei de Goodwin no Brasil, é a Primeira Lei de Janot:

À medida em que crescem as críticas ao trabalho do Procurador Geral da República, a possibilidade de que ele atribua à tentativa de melar a Lava Jato e defender a corrupção aproxima-se de 1 (100%).

Ontem, na posse da Ministra Carmen Lúcia na presidência do STF (Supremo Tribunal Federal), Janot recorreu novamente à Primeira Lei de Janot:

Tem-se observado diuturnamente um trabalho desonesto de desconstrução da imagem de investigadores e de juízes. Atos midiáticos buscam ainda conspurcar o trabalho sério e isento desenvolvido nas investigações da Lava Jato.

Janot e a Lava Jato estão blindados pelo maior sistema de controle da informação da história: a imensa rede comandada pela Rede Globo e secundada por todos os demais grupos de comunicação, uma barreira que impede qualquer tipo de crítica e até o exercício do contraditório. As críticas se limitam a veículos alternativos.

Qual a razão, então, de Janot se colocar como vítima de campanhas? É que a liberdade de imprensa, mesmo que se esgueirando por frestas do cartel da mídia, incomoda. E as críticas, mesmo sendo ecoadas em ambientes restritos, têm a consistência dos argumentos comprováveis, deixando o dr. Janot em uma sinuca de bico, da qual não tem encontrado meios de escapar.

Esta é a razão de Janot - e os procuradores da Lava Jato - só aceitarem conceder entrevistas a jornalistas da velha mídia, especialistas em levantar a bola, e não se valer de perguntas incômodas para obrigá-los a se explicar.

A sinuca é simples:

1. A suspeita geral é que o Janot tem uma postura flagrantemente partidária, poupando o PSDB e, principalmente, seu conterrâneo Aécio Neves.

2. A prova do pudim para acabar com a suspeita é simples: encerrando o inquérito contra Aécio e acusando-o perante o Supremo.

3. Apurar as denúncias contra Aécio é trabalho de semanas: tem-se o nome do subornado – Dimas Toledo, que até hoje sequer foi indiciado ou ouvido -, a lavanderia – a empresa Bauruense -, a destinatário – Andrea Neves – e ainda pistas de offshores abertas em nome da família.

Por que Janot não desmente as suspeitas, denunciando Aécio? Porque não tem condições ou vontade política de denunciar Aécio, seja pela afinidade política, seja pelas alianças formadas para derrubar Dilma, seja pelos laços da origem mineira. E sem a presunção da isenção, como pretende colocar-se ao largo das críticas ou defender o estilo draconiano das Dez Medidas contra a corrupção? A contrapartida mínima a tanto poder é o compromisso com a isenção.

No entanto, a parcialidade de Janot é tamanha que adivinhar seus próximos passos tornou-se um exercício enfadonho, de tão previsível.

Por exemplo, quando se montou o jogo de cena com a capa de Veja – com uma não-denúncia contra o Ministro Dias Toffoli --, que Janot utilizou como álibi para interromper as negociações da delação de Léo Pinheiro, cantamos aqui:

· Pinheiro iria fazer uma delação incriminando, entre outros, Aécio e Serra;

· Janot interrompeu as negociações para forçar Léo Pinheiro a mudar a estratégia e selecionar apenas os alvos que interessavam politicamente a ele e a Sérgio Moro: Lula e Dilma.

Ontem, em Curitiba, Léo Pinheiro reformulou sua delação retirando qualquer menção a Aécio e Serra e, induzido pelas perguntas de Sérgio Moro, enfiar Dilma na história a golpes de martelada. Acabou lembrando-se que Dilma participou de um jantar na casa do senador Gim Arguelo. Quarenta minutos após sua saída, Léo acertou com Arguelo a propina para abafar a CPI da Petrobras. Eia a prova do crime.

Por isso mesmo, não esperem que a delação de Eduardo Cunha – para Moro ou Janot – resulte em qualquer dano aos intocáveis da política. Cunha, eu, a torcida do Flamengo e do Atlético Mineiro sabemos que há duas pré-condições para que o MPF aceite a delação: a primeira, é incriminar Lula e Dilma; a segunda, é livrar Aécio e Serra. A terceira é dizer que as delações foram feitas espontaneamente, sem nenhuma pressão dos inquisidores.

Se o dr. Janot desmentisse, daria a mão à palmatória com todo prazer.


segunda-feira, 5 de setembro de 2016


Em seu editorial na sexta (2 de setembro), a senhora diz que se o governo não souber “reprimir os fanáticos da violência”, o Brasil corre o risco de se transformar numa ditadura assim como aconteceu na “Alemanha dos anos 30″. À polícia do Estado de S. Paulo, que já não é famosa pela gentileza, a senhora recomenda que “reprima” mais duramente os “grupelhos extremistas” – porque senão os baderneiros vão tomar o poder e transformar o Brasil na Alemanha nazista.

Concordo que existem muitas razões pra ter medo. Mas não pelas mesmas razões. O vampiro que nos governa acaba de recriar o Gabinete de Segurança Institucional. O ministro da Justiça pede menos pesquisa e mais armamento. Uma jovem perde um olho atacada pela polícia. Uma presidenta democraticamente eleita é derrubada porque teria cometido um crime, mas não perde os direitos políticos porque afinal ela não cometeu crime nenhum. O Senado que a derrubou por causa de créditos suplementares muda a lei em relação aos créditos no dia seguinte à sua queda.

Concordo quando a senhora diz que uma ditadura se avizinha, mas discordo que são os “black bloc” que vão tomar o poder. Dona Folha, a senhora já conheceu um “black bloc”? “Black blocs” em geral têm 12 anos, espinhas e mochila cheia de roupa preta e remédios pra acne.

Não sei se por ignorância ou cinismo, a senhora ignorou o fato de a Alemanha nazista não ter sido criada pelos “fanáticos da violência”. Como bem lembrou Bruno Torturra, a Alemanha nazista se consolida quando Hitler culpa os tais baderneiros pelo incêndio do Reichstag e cria um Estado de exceção com o objetivo de “reprimir baderneiros” – igualzinho a senhora tá pedindo.

Quando o Reichstag pegou fogo, os jornais pediram medidas de emergência contra os “baderneiros” em editoriais muito parecidos com o seu. Hitler não teria ganhado terreno sem uma profusão de jornais pedindo “mais repressão aos grupelhos” – jornais estes que, vale lembrar, depois foram proibidos de circular.

O golpe de 64 não foi obra do “extremismo”, mas daqueles que alegavam querer combatê-lo. Quem instaura a ditadura não são os baderneiros, são os apavorados. Só há golpe quando há medo. Quando a senhora contribui com o medo, a senhora contribui com o golpe.

Um jornal é do tamanho dos inimigos dele. Quando a senhora pede maior repressão a adolescentes desarmados, se alinha com o mais forte e faz vista grossa pra truculência. Jornalismo, pra mim, era o contrário.