Pense nisso: dois marginais abatem um cidadão na cidade do Rio de Janeiro, roubando seu casaco e tênis. Neste momento, dois policiais surgem, rendem os ladrões, prendem-nos, socorre o cidadão, dão entrada no processo... Dia seguinte, a mídia descobre que as câmeras, instaladas nos interiores das lojas, captaram tudo e exibem-nas em horário nobre. Governador e Comandante vão à TV falar da incrível capacidade da polícia, do excelente preparo dos soldados. Os policiais dão entrevistas ao lado do Secretário de Segurança, são condecorados. A opinião pública dorme sossegada.
Pense nisso: dois marginais abatem um cidadão na cidade do Rio de Janeiro roubando seu casaco e tênis (mas poderia ser apenas a carteira, o relógio, uma cédula de cinco reais). Dois policiais, 60 segundos depois, aparecem em uma viatura, descem, olham para o sujeito estirado na calçada, prosseguem o curso, rendem os dois marginais, pegam os frutos do roubo, guardam na viatura, liberam os marginais (agora, assassinos), batem ponto e vão para casa sem socorrer a vítima ou fichar o acontecido na delegacia.
Pense nisso: o céu ou o inferno é uma questão de segundos. Daqui a pouco, algum maluco vai declarar à mídia que as câmeras poderiam estar externas no Rio de Janeiro todo. Alguém lembrará que George Orwell está mais vivo do que nunca e que isso seria invasão de privacidade, que daqui a pouco estariam nas escolas, hospitais, em casa! Mas a opinião pública não dará bola, monitoramento no cidadão agora! E tudo por causa de dois policiais(?) que, ao invés de fazerem o que deveriam, inverteram o jogo, a moral, o juramento, e botaram tudo pra foder. Inclusive com a já desprestigiada Polícia Militar.
O cidadão assaltado está morto. Assim como todos nós.
5 comentários:
Triste, muito triste o episódio em questão.
Bom, muito bom o seu texto.
Abraços.
Orwell, ainda: Guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força.
Por aqui em algumas ruas já há câmeras monitorando nossos passos (um xixizinho atrás do poste na madruga, nem pensar). Os homens de bem aplaudiram, mas o crime não arrefeceu.
Um abraço.
Marcelo, o pior, assustador, é que conheço dezenas de pessoas que defendem esse monitoramento total dentro das escolas! E se um absurdo desse acaba vingando? É como diz aquele ditado: "tudo que é ruim sempre pode piorar". Um abraço.
E o sobrenome do capitão? Bizarro...
Em breve: Toque de recolher...
A falta de virtude dos homens, me fazem desacreditar cada vez mais na democracia repúblicana...
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