terça-feira, 6 de maio de 2008

A “notícia” Isabella


Alberto Dines, em uma de suas colunas publicadas pelo Observatório da Imprensa, faz as óbvias perguntas-reflexões:
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Será possível encontrar um jurado que ainda não tenha opinião formada sobre um caso virado e revirado com tamanha intensidade pelas autoridades policiais e pela mídia?
Para que servirão os autos, os laudos periciais, as testemunhas, os argumentos do promotor e dos advogados de defesa se o julgamento já está em curso há algumas semanas?
Mais importante ainda: o juiz togado que presidirá o júri terá condições de resistir às pressões produzidas por esta exposição tão intensa?


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Não se está aqui negando ou afirmando a “culpabilidade” do casal, mas o desserviço prestado pelos setores que, na teoria, deveriam informar, elucidar, jogar luz ao processo. No entanto, como já escreveu Contardo Calligaris na Folha de S. Paulo, tal episódio apenas criou um estereótipo, um meio para a turma do “pega e lincha” praticar a sua catarse.
Se não é assim, então, como explicar a reportagem constrangedoramente anti-jornalística publicada pelo Jornal do Brasil (JB online, 03/05/2008):


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Há pouco mais de um mês a sociedade brasileira está envolvida com o caso da morte da menina Isabella Nardoni, de cinco anos, que foi jogada da janela do apartamento do pai, em São Paulo. O assunto não deixou de ser comentado, acompanhado e revisto pela população, seja através dos boletins do telejornalismo exibidos ao longo do dia ou nas manchetes dos veículos impressos de diversas esferas.
Como reação ao absurdo do caso, não há apenas comoção e indignação por parte da sociedade ao crime que põe o pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Ana Carolina Jatobá, como os principais suspeitos. Há um lado sádico e irresponsável que prolifera na internet e brinca de maneira maldosa com casos como o de Isabella.
No site de relacionamentos mais famoso do país, o Orkut, há comunidades virtuais (pontos de encontro por afinidades) dedicadas a tratar o assunto de maneira cruel como, por exemplo, uma que cita que a menina Isabella não tomava a bebida energética que tinha o poder de dar asas (a propaganda da bebida traz essa frase como slogan), fazendo assim alusão ao fato de que ela não cairia da janela de onde foi jogada.
A iniciativa de fazer a comunidade, criada pouco depois da morte da menina, em 29 de março, é explicada por uma das participantes que defende o caso como forma de "protesto":

-...Pessoinhas, o objetivo da comunidade, ao meu ver, e pelo que eu observei de diversas pessoas, NÃO é zombar da morte da coitada, e sim protestar pelo descaso de muitas outras coisas (piores) que ninguém liga, pois o mesmo não ganha destaque da mídia, da imprensa, e etc – diz uma integrante anônima.


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Não é objeto de análise a forma de protesto criada em sites de relacionamentos, mas até que ponto tais demonstrações não são puro reflexo de uma sociedade veloz, feroz e, “midiaticamente”, irresponsável? Antes da mídia fazer alarde sobre as aberrações criadas, por que não refletir a sua contribuição eficaz em alienar os que deveriam ser esclarecidos.
Maldade e sadismo? É possível que ambos estejam por todos os lados.

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