sexta-feira, 30 de maio de 2008

Professor Halem

Este excelente artigo foi publicado, no dia 26 de abril, no blogue do Professor Halem Souza (Quelemém) e, dias depois, no site do velho Lobo Fausto (O Lobo). Publico-o por dois motivos: é um artigo maravilhoso e porque o professor parece ter se cansado da blogosfera ou coisa parecida (algo inaceitável!). Pessoas como o professor Halem são figuras raríssimas e o prazer da sua escrita há muito deixou de ser apreciado apenas pelos mais próximos amigos. Portanto, não é bom ficar sem ler o vulgo Quelemém. Cura essa ressaca e volta rápido!
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Saiu na Folha de S. Paulo, semana passada (23 abr. 2008, p. C1, caderno Cotidiano): "Juiz solta hackers, mas exige que leiam clássicos da literatura". Três sujeitos presos na operação Colossus, da Polícia Federal (que investigava suspeitos de roubar senhas bancárias pela Internet, em 2007) receberam liberdade provisória, após cumprirem nove meses de detenção.
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O juiz que proferiu a sentença, entre outras exigências, estabeleceu que os réus façam relatórios manuscritos, com dez laudas no mínimo, a cada três meses, sobre obras de literatura. As duas primeiras são A hora e vez de Augusto Matraga, novela que integra Sagarana, de João Guimarães Rosa e Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
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Em entrevista à repórter da Folha, o juiz disse querer sair da "mesmice" das decisões judiciais e acrescentou:
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"Eles vão ter que ler os livros e apresentar o relatório manuscrito, não pode ser datilografado. Já os alertei que conheço todos os sites que fazem trabalhos escolares, é muito fácil comparar os textos. Também não quero uma letra muito grande para pular página e vou fazer as perguntas sobre os personagens dos livros."
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Não sei por que, mas a medida me lembrou as famigeradas fichas de leitura, ainda presentes nas escolas e adotadas por muitos professores, infelizmente. Essas fichas incluem perguntas sobre a obra lida - geralmente, de forma obrigatória - e são condenadas pela maioria dos especialistas em leitura e literatura por serem uma das mais ineficientes maneiras de incentivar o ato de ler entre os estudantes.
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Lembrou-me também algumas imagens freqüentemente associadas à leitura. Disputando espaço com visões altamente positivas, existem outras que identificam, no ato de ler, algo incompatível com a vida comum contemporânea, coisa de cdf, de nerd. Ou de louco. Ou de desocupado. E, pelo visto, agora também como coisa de criminoso.
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Na próxima postagem, falo de um poema, cujo tema violento e incômodo (o estupro) me deixa intranqüilo e me faz pensar bastante.
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domingo, 25 de maio de 2008

Até 2011, duas línguas.



Brasil se prepara para enfrentar período de três anos com duas ortografias

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25/05 - 11:20 - Carolina Garcia, do Último Segundo

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SÃO PAULO - Assinado em Lisboa em 1990, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi ratificado pelo Brasil e deve entrar em vigor em 1° de janeiro de 2009 no País. Segundo o assessor especial do Ministério de Educação (MEC), Carlos Alberto Xavier, porém, somente a partir de 2012, os alunos (do ensino fundamental e médio) terão acesso aos livros escolares completamente reformados. Esse intervalo (2009/2012) resultará em um chamado “período de transição” – no qual as normas atuais e as definidas no Acordo irão conviver.

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Para Xavier, não há motivo para preocupação nesse período. “Uma convivência saudável com as duas ortografias pode servir para acentuar a reforma. As pessoas perceberão as diferenças com mais clareza”, disse. “Até janeiro de 2012 todos os vestibulares, concursos públicos e atividades escolares irão aceitar as duas normas para que a população se acostume com as 21 bases do acordo”, explica o assessor.
Para Enilde Faulstich, professora de lingüística e de língua portuguesa da Universidade de Brasília (UnB), este período representa um momento onde a geração começa a aprender que a língua portuguesa terá que ser bem cuidada.
“Materiais adequados e professores seguros são necessários para que seja evitado o surgimento da dupla-grafia. Nós que estamos nos meio do processo cometeremos algumas gafes no começo, mas logo aprenderemos”, conta a professora. “Esse período exige paciência, atenção de quem escreve e segurança de quem ensina a língua portuguesa”.
Livros didáticos
O Brasil possui um complexo sistema de compra de livros para as escolas das redes federal, estadual e municipal e as entidades parceiras do programa Brasil Alfabetizado. Segundo Xavier, os livros do Ensino Médio para 2009 já estão prontos, não possuem as alterações ortográficas e valerão até 2012. Em 2010, será feita nova compra dos livros para as séries finais do Ensino Fundamental (5° a 8° série) - estes já com a reforma.
Exceto os livros para as séries iniciais (de 1ª a 4ª série). Um acordo feito pelas editoras determinou que as alterações para estas séries sejam feitas apenas em 2012. Segundo Sônia, o MEC concluiu que essas mudanças poderiam confundir as crianças que estariam em processo inicial de alfabetização. “A convivência com os dois livros (um adaptado e outro não) poderia confundir. Já em crianças de 5 a 8 anos será um período de transição produtivo”.
As editoras já trabalham para fazer as mudanças nos livros didáticos. É o caso da Editora Moderna, que, segundo o seu editor e coordenador do projeto da reforma, Rogério Ramos, já está se adaptando à nova norma. “Desde a oficialização do acordo, a Moderna optou por adequar as publicações para os livros de 2010. De fato, as publicações terão variações, pois cada editora tem a sua norma a seguir, mas todas têm um prazo a cumprir”.
Sônia Schwartz Coelho, coordenadora-geral do Programa Nacional do Livro Didático, afirmou que “em 2010 será obrigatório que todos os livros sejam publicados de acordo com as novas normas. Porém, no ano de 2009, fica a critério da editora se irá se adequar às novas normas ou não, exceto o que é proibido a ela”.
Um novo mercado
Defensores do Acordo afirmam que o mercado consumidor de leitores em todo o universo da lusofonia (países de língua portuguesa) irá crescer significativamente. “A unificação ajudará a ampliar o número de leitores e a produção de livros. E, claro, permitirá a circulação e o intercâmbio de obras impressas destinadas ao trabalho pedagógico”, diz o presidente da Comissão de Definição da Política de Ensino, Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa (Colip), ligada ao MEC, o lingüista e escritor Godofredo de Oliveira Neto.
A presidente da Câmara Brasileira de Livros (CBL), Rosely Boschini, recebeu bem a decisão da implantação da nova ortografia e acredita nessa expansão do mercado. “A unificação da escrita vai fortalecer a política externa da língua portuguesa. Além disso, abrirá um novo mercado para as editoras brasileiras”.
Jorge Luis Fiorin, professor de lingüística da Universidade de São Paulo (USP), afirma que “o acordo é um passo importante para o Brasil, no sentido de estabelecer uma nova possibilidade de difusão do português no mundo. O País irá se transformar em um exportador de material literário”.
A decisão de Portugal
Portugal aprovou na sexta-feira (16) o acordo que unifica a ortografia em todos os países de língua portuguesa. Segundo decisão do Parlamento português, as mudanças deverão entrar em vigor dentro de seis anos.
Em crítica ao acordo, Sírio Possenti, professor do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, afirma que ele representa um valor, mais simbólico do que prático, da disputa Brasil versus Portugal. “É uma briga inócua, simbólica entre Brasil e Portugal, não uma questão lingüística”.
Tentativas de reforma
Já foram feitos três acordos oficiais, aprovados pelos países falantes do português: o de 1943, o de 1971 e o de 1990, que deve vigorar a partir de 2009.
Nesse último acordo, os Representantes dos oito países que falam português (Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Timor Leste) decidiram, que unificariam as regras do idioma, com o objetivo de unificar e agilizar a comunicação entre os lusófonos (países de lingua portuguesa).
O que muda
* No caso do acento agudo, ele não será mais usado em palavra terminada em `eia` e `oia`.
Ex: ideia, jiboia
* O acento circunflexo também sofrerá alterações. Não será mais usado nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbo ver, ler, dar e crer.
Ex: veem, leem, deem, creem
* Também não será mais utilizado em palavras terminadas com o hiato `oo`.
Ex: voo, enjoo
* A trema (¨) deixará de existir, a não ser em nomes próprios.
* No caso do hífen, ele não será mais usado quando o segundo elemento começar com `r` ou `s`. Essas letras deverão ser duplicadas.
Ex: contrarregra
* O hífen também não será mais utilizado caso o primeiro elemento termine com uma vogal diferente.
Ex. autoestrada

Obrigado!

Queria escrever muito, mas como falar de Guga? O chão francês de tijolo moído é que sabe o que foi o Gustavo. Eu só sei que, numa época como a nossa, onde atletas-astros-modelos-polêmicos ganham milhões e só fazem merda, ter um Guga para lembrar é simples, nosso, verdadeiro.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

CAFAJ(ESTE)

Este belíssimo poema eu descobri lá na Loba (que, aliás, postou um conto, chamado "Entre cara e coroa: coração", maravilhoso). O poema pertence a todos nós, mas foi produzido por Wilson Guanais e se encontra, também, no seu blogue (Cemitério de Navios). É conferir.

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CAFAJ(ESTE)


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hoje quero bocas

todas as bocas

unhas e dentes...

(depois escrevo asas

e vôo...)



: decore minha alma

devore meu corpo



que hoje

só hoje

o poema é minha alma

eu sou

a carne do poema.


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Wilson Guanais

quinta-feira, 22 de maio de 2008

E tudo fica

Esta frase-título foi descoberta por Carlos Brickmann e incluída em sua crônica no Observatório da Imprensa (20/05/2008): “Benefícios psicossociais de um saber não-instrumentalizado”. Eu gostaria imensamente de ser “cabeçudo”, “nerd”, mas, devo admitir, nunca levei jeito para a coisa e, talvez, jamais entenderei o que tal título significa.
Começo com esta frase para dizer que é possível melhorar, mas quando os que podem construir, resolvem descambar para o elitismo intelectualóide e produzir aberrações como essa, tudo fica pior. Muito pior.
O banho de reportagem que a Folha de S. Paulo praticou em quase todo o caderno Mais! (18/05/2008) sobre a PM do Rio de Janeiro é um exemplo a ser seguido, discursado e incentivado nas salas de aula e redações jornais afora. O que impressiona na matéria é o tempo decorrido para a investigação, a maturidade, o planejamento, o processo lento e necessário, a lapidação, enfim, a “gestação da notícia”. Impressiona porque, em tempos de portais, blogues e “time is money”, a notícia veloz e “fast food” parece ser o direcionamento, a regra. Bem, como nos provou a Folha, apenas parece; e tudo o que parece...
E tudo fica melhor, muito melhor.
Contudo, num mundo cinza (ou: onde nada é preto e branco), a repentina importância que a, hoje, ex-ministra Marina Silva ganhou dos grandes jornalões e veículos televisivos também impressiona. Impressiona muito. Marina Silva, companheira dos ideais de Chico Mendes, sempre foi posta de lado pela mídia por se tratar da “intransigente”, daquela que defende o que “não é importante”, da “xiita chaata de plantão”, como são todos os grupos que defendem com implacável caráter e integridade, o planeta Terra, a sustentabilidade do ser humano diante dos graves avisos dos ambientalistas e da, por que não?, Mãe-Terra. De repente, todos viraram os holofotes para a senhora Marina. Por quê? Por que estão preocupados com a causa ambiental? Com o futuro da Amazônia? Não seria a sede e a inevitável torcida por um “racha” no Governo, quiçá no PT?
A senhora Marina Silva precisava ser tratada com imenso respeito e holofotes sempre. Infelizmente, a mídia engessada e viciada prefere colar os olhos na subida e queda da Bolsa e do Dolar, ignorando as queimadas e conflitos épicos na maior floresta do mundo. E nisto, nem a Folha consegue o perdão.
E tudo fica pior, muito pior.

terça-feira, 13 de maio de 2008

SKAVURSKA !

Aconteceu, quando ainda era Directv (hoje, Sky), o seguinte:
- Directv, sicrano, bom dia.
- Bom dia, eu gostaria de mudar de pacote, por favor.
- Como assim, senhor?
- Eu tenho o pacote Prata, mas gostaria de trocar pelo Ouro, por favor.
- Bem, então o senhor vai ter que esperar a fatura para, só depois de efetuado o pagamento, trocar de pacote.
- Não, acho que você não entendeu. Eu quero trocar o meu pacote por um mais caro.
- Exatamente, senhor, o senhor terá que esperar a fatura.
- Digno Sicrano, deixa eu explicar melhor... Eu quero dar dinheiro pra vocês!!! Se eu fosse cancelar, trocar por um pacote mais barato... Mas, caramba! Eu quero um pacote mais caro!
-Mas senhor, não podemos fazer isso até...
- Obrigado pela sua atenção.
(pi...pi...pi...pi...)
Em tempo, via internet, relatei o acontecido e pedi a troca do pacote...que foi ao ar 30 minutos depois.
Agora, lendo o Kibe Loco, não deixei de dar um belíssimo sorriso. Skavurska!
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- Net, boa tarde. Em que eu posso ajudá-lo?
- Boa tarde. Eu queria assinar o pay-per-view do Campeonato Brasileiro 2008, por favor.
- Mas o senhor já é assinante do Campeonato Brasileiro 2008...
- Sou? Como assim? Não assinei nada.
- Mas o senhor assinou ano passado, certo?
- Sim, e daí?- É que se o senhor não cancelar a assinatura, ela é renovada automaticamente.
- Ah, é? E você pode me confirmar quanto pago mensalmente por essa assinatura?
- R$ 49,90.
- R$ 49,90? Mas eu acabei de ver na TV que o Brasileirão desse ano está com mensalidades de R$ 35,00.
- É que o valor de R$ 35,00 é válido apenas para as três primeiras mensalidades dos novos assinantes.
- Hmmm. Isso quer dizer que se eu cancelar minha assinatura agora e contratar o Campeonato Brasileiro 2008 um minuto depois, terei descontos de quase R$ 15,00 nas próximas três mensalidades?
- (...)
- Alô?
- Sim. É isso mesmo.
- Então... pode me transferir para o setor de cancelamento, por favor?
- Claro, Sr. Um momento por gentileza.
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***Pano rápido.
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A brisa do Leblon

Aquela vontade de estar longe de tudo
Às vezes invade o seu coração
Logo o seu, tão vivo, tão conhecedor
..
Ela adorava ler Rousseau
E alguns trechos de Chacal
Era super-impulsiva
Desorganizada e vital
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Mas a paixão dominou o mundo
E ela preferiu largar tudo
De Rousseau à bebida
E lutar com ele
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Ele que usava jeans e boné do Sox
Que curtia Stones e camiseta
Logo ele que não entendia BMW
Não conhecia Millor ou mesmo Monet
Que estudava Direito em não-sei-aonde
Pago pelo pai –
Um político pilantra de alta idade
Dinheiro e colesterol
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Por alguns meses
Ela se fechou na concha
Relaxou a beleza, o sorriso
Pra ficar com ele e a N.A –
E ele conseguiu
Talvez por medo de perdê-la
(já tinha se acostumado com o seu sexo)
Talvez por amá-la
Com seus dentes amarelos do cigarro
E corpo exuberante
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...Vontade de estar longe de tudo
Mas ela finge que não
É bem típico dela agir assim
E ele já aprendeu (e sorri)
Ela pergunta:
- O que foi?
Ele diz:
- Eu te amo.

sábado, 10 de maio de 2008

O velho Artur

É possível admirar pessoas de linhas e articulações diferentes das suas? O velho Artur provava que sim.
PSDB, DEM e outras úlceras que existem no mundo nunca foram meu mal - não sofro de neoliberalismo (graças a Deus!) -, mas que existe vida inteligente dentro desses partidos nem eu duvido. Com o velho Artur era assim: voto no PT e votava nele. Se fosse disputa para senador (o PT podia colocar quem quisesse), meu voto era dele. Criou o PSDB, mas como eu o queria no meu partido! Aliás, o velho Artur era a prova de que não existem partidos de fato neste país, o que há são ideologias e homens de caráter.
Certamente, nas próximas eleições, votarei, para senador, em qualquer candidato do PT, contudo, será como um voto nulo, sem graça e sem filosofia.
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Artur da Távola
pseudônimo de Paulo Alberto Monteiro de Barros
(Rio de Janeiro, 3 de janeiro de 1936 — Rio de Janeiro, 9 de maio de 2008)
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Iniciou sua vida política em 1960, no PTN, pelo estado da Guanabara, quando foi eleito deputado constituinte. Dois anos depois, elegeu-se deputado constituinte pelo PTB. Cassado pela ditadura militar, viveu na Bolívia e no Chile entre 1964 e 1968. Tornou-se um dos fundadores do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e líder da bancada tucana na assembléia constituinte de 1988, quando defendeu alterações nas concessões de emissoras de televisão para permitir que fossem criados canais vinculados à sociedade civil. No mesmo ano, concorreu, sem sucesso, à prefeitura do Rio de Janeiro. Posteriormente, foi presidente do PSDB entre 1995 e 1997. Exerceu mandatos de deputado federal de 1987 a 1995 e senador de 1995 até 2003. Em 2001, foi por nove meses secretário da Cultura na cidade do Rio.
Como jornalista, atuou como redator e editor em diversas revistas e foi colunista nos jornais Última Hora, O Globo e O Dia, sendo também diretor da Rádio Roquette Pinto e apresentador do programa Quem tem medo de música clássica?, na TV Senado. Publicou ao todo 23 livros de contos e crônicas.
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quarta-feira, 7 de maio de 2008

Aquela Música

Alguma sombra de dúvida sobre o Marconi ser Leal à inteligência? Acho que não. Marconi é Marconi até quando a música não sai (ou não entra)!
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Aquela Música
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- Como é mesmo aquela música?
- Que susto! Como é que você me acorda com um berro desse no meio da noite, Arnaldo? Quer me matar? Meu Deus!
- (acendendo o abajur) Não consigo lembrar daquela música!
- Que música, Arnaldo? Jesus! Olha aí, meu coração tá acelerado!
- Aquela música, aquela que faz assim: tum, tim, tum.
- Jóia, agora que a gente eliminou todas as músicas que não fazem tum, tim, tum, restam apenas vinte e sete mil quatrocentas e doze. Me deixa dormir, Arnaldo!
- Mulher, aquela música sobre a menina e a alma dos antepassados.
- Não curto música indígena.
- Música indígena nada. Faz assim tum, tim, tum. A menina tá assustada, no escuro…
- Porque o marido dela acordou ela com um berro no meio da noite, perguntando sobre uma música?
- Será que dá pra você me ajudar? Nunca mais vou conseguir dormir se não lembrar dessa música!
- Arnaldo, com tum, tim, tum, se pode compor desde o Hino Nacional até uma obra de Unsuk Chin. Parabéns pra você leva tum-tim-tum, Arnaldo. Como é que você quer que eu adivinhe a música? Ela tem gênero, pelo menos?
- Feminino.
- Gênero musical! É funk, axé, pagode ou é música propriamente dita?
- Já disse: tum, tim, tum. Música eletrônica. Bossa nova eletrônica, pra ser mais exato.
- (cantando) “Dia de luz, festa de sol, o barquinho a deslizar, tum, tim, tum, no azul do mar…”
- Muito engraçada, você. É uma música recente. E é sobre essa infeliz, essa desgraçada dessa menina, que tá sozinha com o fantasma, parece, e…
- Fantasma? O herói?
- Não, um fantasma qualquer. Então…
- O Gasparzinho?
- Dá pra você ficar um minuto em silêncio? Juro que não dói.
- Eu pretendia ficar oito horas em silêncio, antes de você me acordar.
- Tudo bem, pode voltar a dormir. Eu fico aqui, com minha insônia, minha amnésia e um princípio de concussão…
- Ô Bunjunjunguinho! Vem, eu vou te ajudar. Afinal, o mecanismo de expansão do universo depende dessa descoberta tão importante, sem falar nas inúmeras supernovas que deixarão de existir caso ela não se concretize. Bom, você tem essa abilolada dessa menina, o fantasma, o escuro…
- Lembrei! (cantando) “Eu tenho medo do escuro, tenho medo do inseguro, dos fantasmas da minha avó”, tum, tim, tum.
- “Voz”.
- “Dos fantasmas das minhas vós”, tum, tim…
- Voz, emissão sonora, Arnaldo. “Fantasmas da minha voz”.
- Ahn… Faz sentido. Eu sempre me perguntei por que a avó dela tinha mais de uma alma. Pensei que a compositora fosse taoísta…
- Satisfeito por ter lembrado dessa genial canção? Agora, por favor, desliga o abajur e vamo dormir.
- (cantando) “Dos fantasmas da minha voz…” (Desliga o abajur e se cala, satisfeito. Vinte minutos depois, torna a ligá-lo.)
- Que foi agora, Arnaldo?
- Não consigo tirar a porcaria da música da cabeça!
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terça-feira, 6 de maio de 2008

A “notícia” Isabella


Alberto Dines, em uma de suas colunas publicadas pelo Observatório da Imprensa, faz as óbvias perguntas-reflexões:
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Será possível encontrar um jurado que ainda não tenha opinião formada sobre um caso virado e revirado com tamanha intensidade pelas autoridades policiais e pela mídia?
Para que servirão os autos, os laudos periciais, as testemunhas, os argumentos do promotor e dos advogados de defesa se o julgamento já está em curso há algumas semanas?
Mais importante ainda: o juiz togado que presidirá o júri terá condições de resistir às pressões produzidas por esta exposição tão intensa?


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Não se está aqui negando ou afirmando a “culpabilidade” do casal, mas o desserviço prestado pelos setores que, na teoria, deveriam informar, elucidar, jogar luz ao processo. No entanto, como já escreveu Contardo Calligaris na Folha de S. Paulo, tal episódio apenas criou um estereótipo, um meio para a turma do “pega e lincha” praticar a sua catarse.
Se não é assim, então, como explicar a reportagem constrangedoramente anti-jornalística publicada pelo Jornal do Brasil (JB online, 03/05/2008):


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Há pouco mais de um mês a sociedade brasileira está envolvida com o caso da morte da menina Isabella Nardoni, de cinco anos, que foi jogada da janela do apartamento do pai, em São Paulo. O assunto não deixou de ser comentado, acompanhado e revisto pela população, seja através dos boletins do telejornalismo exibidos ao longo do dia ou nas manchetes dos veículos impressos de diversas esferas.
Como reação ao absurdo do caso, não há apenas comoção e indignação por parte da sociedade ao crime que põe o pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Ana Carolina Jatobá, como os principais suspeitos. Há um lado sádico e irresponsável que prolifera na internet e brinca de maneira maldosa com casos como o de Isabella.
No site de relacionamentos mais famoso do país, o Orkut, há comunidades virtuais (pontos de encontro por afinidades) dedicadas a tratar o assunto de maneira cruel como, por exemplo, uma que cita que a menina Isabella não tomava a bebida energética que tinha o poder de dar asas (a propaganda da bebida traz essa frase como slogan), fazendo assim alusão ao fato de que ela não cairia da janela de onde foi jogada.
A iniciativa de fazer a comunidade, criada pouco depois da morte da menina, em 29 de março, é explicada por uma das participantes que defende o caso como forma de "protesto":

-...Pessoinhas, o objetivo da comunidade, ao meu ver, e pelo que eu observei de diversas pessoas, NÃO é zombar da morte da coitada, e sim protestar pelo descaso de muitas outras coisas (piores) que ninguém liga, pois o mesmo não ganha destaque da mídia, da imprensa, e etc – diz uma integrante anônima.


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Não é objeto de análise a forma de protesto criada em sites de relacionamentos, mas até que ponto tais demonstrações não são puro reflexo de uma sociedade veloz, feroz e, “midiaticamente”, irresponsável? Antes da mídia fazer alarde sobre as aberrações criadas, por que não refletir a sua contribuição eficaz em alienar os que deveriam ser esclarecidos.
Maldade e sadismo? É possível que ambos estejam por todos os lados.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Moacy !!!

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meu poema preferido
conterá
um van gogh renascentista
um miró barroco
um bosch cubanacan
uma aurora enlouquecida
um pixinguinha frevolento
um luiz gonzaga rocknauta
um tom zé bolerolero
uma tempestade expressionista
depois depois
minha poesia preferida
conterá
um poema de moysés sesyom
misturado com laranjas
e acácias
e mais nada
e tudo o mais
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