segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Carta aberta à Leticia Fernandes e ao jornal O Globo


Da funcionária da Petrobras Michelle Daher Vieira, no Facebook:

Carta aberta à Leticia Fernandes e ao jornal O Globo

Antes de tudo, gostaria de deixar bem claro que não estou falando em nome da Petrobras, nem em nome dos organizadores do movimento “Sou Petrobras”, nem em nome de ninguém que aparece nas fotos da matéria. Falo, exclusivamente, em meu nome e escrevo esta carta porque apareço em uma das fotos que ilustram a reportagem publicada no jornal O Globo do dia 15 de fevereiro, intitulada “Nova Rotina de Medo e Tensão”.

Fico imaginando como a dita jornalista sabe tão detalhadamente a respeito do nosso cotidiano de trabalho para escrever com tanta propriedade, como se tudo fosse a mais pura verdade, e afirmar com tamanha certeza de que vivemos uma rotina de medo, assombrados por boatos de demissões, que passamos o dia em silêncio na ponta das cadeiras atualizando os e-mails apreensivos a cada clique, que trabalhamos tensos com medo de receber e-mails com represálias, assim criando uma ideia, para quem lê, a respeito de como é o clima no dia a dia de trabalho dentro da Petrobras como se a mesma o estivesse vivendo.

Acho que tanta criatividade só pode ser baseada na própria realidade de trabalho da Letícia, que em sua rotina passa por todas estas experiências de terror e a utiliza para descrever a nossa como se vivêssemos a mesma experiência. Ameaças de demissão assombram o jornal em que ela trabalha, já tendo vários colegas sendo demitidos[1], a rotina de e-mails com represálias e determinando que tipo de informação deve ser publicada ou escondida devem ser rotina em seu trabalho[2], sempre na intenção de desinformar a população e transmitir só o que interessa, mantendo a população refém de informações mentirosas e distorcidas.
Fico impressionada com o conteúdo da matéria e não posso deixar de pensar como a Letícia não tem vergonha de a ter escrito e assinado.

Com tantas coisas sérias acontecendo em nosso país ela está preocupada com o andar onde fica localizada a máquina que faz o café que nós tomamos e com a marca do papel higiênico que usamos. Mas dá para entender o porque disto, fica claro para quem lê o seu texto com um mínimo de senso crítico: o conteúdo é o que menos importa, o negócio do jornal é falar mal, é dar uma conotação negativa, denegrir a empresa na sua jornada diária de linchamento público da Petrobras. Não é de hoje que as Organizações Globo tem objetivo muito bem definido[3] em relação à Petrobras: entregar um patrimônio que pertence à população brasileira à interesses privados internacionais. É a este propósito que a Leticia Fernandes serve quando escreve sua matéria.

Leticia, não te vejo, nem você nem O Globo, se escandalizado com outros casos tão ou mais graves quanto o da Petrobras. O único escândalo que me lembro ter ganho as mesma proporção histérica nas páginas deste jornal foi o da AP 470, por que? Por que não revelam as provas escondidas no Inquérito 2474[4] e não foi falado nisto? Por que não leio nas páginas do jornal, onde você trabalha, sobre o escândalo do HSBC[5]? Quem são os protegidos? Por que o silêncio sobre a dívida da sonegação[6] da Globo que é tanto dinheiro, ou mais, do que os partidos “receberam” da corrupção na Petrobras? Por que não é divulgado que as investigações em torno do helicoca[7] foram paralisadas, abafadas e arquivadas, afinal o transporte de quase 500 quilos de cocaína deveria ser um escândalo, não? E o dinheiro usado para construção de certos aeroportos em fazendas privadas em Minas Gerais [8]?

Afinal este dinheiro também veio dos cofres públicos e desviados do povo. Já está tudo esclarecido sobre isto? Por que não se fala mais nada? E o caso Alstom[9], por que as delações não valem? Por que não há um estardalhaço em torno deste assunto uma vez que foi surrupiado dos cofres públicos vultosas quantias em dinheiro? Por que você e seu jornal não se escandalizam com a prescrição e impunidade dos envolvidos no caso do Banestado[10] e a participação do famoso doleiro neste caso? Onde estão as manchetes sobre o desgoverno no Estado do Paraná[11]? Deixo estas perguntas como sugestão e matérias para você escrever já que anda tão sem assunto que precisou dar destaque sobre o cafezinho e o papel higiênico dos funcionários da Petrobras.

A você, Leticia, te escrevo para dizer que tenho muito orgulho de trabalhar na Petrobras, que farei o que estiver ao meu alcance para que uma empresa suja e golpista como a que você trabalha não atinja seu objetivo. Já você não deve ter tanto orgulho de trabalhar onde trabalha, que além de cercear o trabalho de seus jornalistas determinando “as verdades” que devem publicar, apoiou a Ditadura no Brasil[12], cresceu e chegou onde está graças a este apoio. Ao contrário da Petrobras, a empresa que você se esforça para denegrir a imagem, que chegou ao seu gigantismo graças a muito trabalho, pesquisa, desenvolvimento de tecnologia própria e trazendo desenvolvimento para todo o Brasil.

Quanto às demissões que estão ocorrendo, é muito triste que tantas pessoas percam seu trabalho, mas são funcionários de empresas prestadoras de serviço e não da Petrobras. Você não pode culpar a Petrobras por todas as mazelas do país, e nem esperar que ela sustente o Brasil, ou você não sabe que não existe estabilidade no trabalho no mundo dos negócios? Não sabe que todo negócio tem seu risco? Você culpa a Petrobras por tanta gente ter aberto negócios próximos onde haveria empreendimentos da empresa, mas a culpa disto é do mal planejamento de quem investiu. Todo planejamento para se abrir um negócio deveria conter os riscos envolvidos bem detalhados, sendo que o maior deles era não ficar pronta a unidade da Petrobras, que só pode ser culpada de ter planejado mal o seu próprio negócio, não o de terceiros. Imputar à Petrobras o fracasso de terceiros é de uma enorme desonestidade intelectual.

Quando fui posar para a foto, que aparece na reportagem, minha intenção não era apenas defender os empregados da injustiça e hostilidades que vem sofrendo sendo questionados sobre sua honestidade, porque quem faz isto só me dá pena pela demonstração de ignorância. Minha intenção era mostrar que a Petrobras é um patrimônio brasileiro, maior que tudo isto que está acontecendo, que não pode ser destruída por bandidos confessos que posam neste jornal como heróis, por juízes que agem por vaidade e estrelismos apoiados pelo estardalhaço e holofotes que vocês dão a eles, pelo mercado que só quer lucrar com especulação e nunca constrói nada de concreto e por um jornal repulsivo como O Globo que não tem compromisso com a verdade nem com o Brasil.

Por fim, digo que cada vez fica ainda mais evidente a necessidade de uma democratização da mídia, que proporcionará acesso a uma diversidade de informação maior à população que atualmente é refém de uma mídia que não tem respeito com o seu leitor e manipula a notícia em prol de seus interesses, no qual tudo que publica praticamente não é contestado por não haver outros veículos que o possa contradizer devido à concentração que hoje existe. Para não perder um poder deste tamanho vocês urram contra a reforma, que se faz cada vez mais urgente, dizendo ser censura ou contra a liberdade de imprensa, mas não é nada além de aplicar o que já está escrito na Constituição Federal[12], sendo a concentração de poder que algumas famílias, como a Marinho detém, totalmente inconstitucional.

Sendo assim, deixo registrado a minha repugnância em relação à matéria por você escrita, utilizando para ilustrá-la uma foto na qual eu estou presente com uma intenção radicalmente oposta a que ela foi utilizada por você.

Fontes:
[1] Demissões nas Organizações Globo:

http://www.conexaojornalismo.com.br/…/demissoes-do-globo-es…

http://radiodeverdade.com/tag/demissoes-na-radio-globo/

http://www.parana-online.com.br/editor…/almanaque/…/836519/…

http://www.portalimprensa.com.br/…/o+globo+faz+cortes+na+re…

http://blogs.odia.ig.com.br/…/globo-inicia-demissoes-no-jo…/

[2] Exemplos de o que deve e não deve ser publicado

http://www.brasildefato.com.br/node/31315

http://www.pragmatismopolitico.com.br/…/globo-ordena-que-no…

http://www.conversaafiada.com.br/…/globo-censura-reporter-…/

[3] Objetivos

http://www.municipiosbaianos.com.br/noticia01.asp…

http://www.aepet.org.br/…/Prezado-a-companheiro-a-da-Petrob…

http://www.viomundo.com.br/…/sordida-campanha-dos-marinho-c…

https://petroleiroanistiado.wordpress.com/…/petrobras-sob-…/

https://fichacorrida.wordpress.com/…/rede-globo-de-corrupc…/

[4] Inquérito 2474

http://www.cartacapital.com.br/…/em-sigilo-ha-7-anos-inquer…

http://www.ocafezinho.com/…/inquerito-2474-ja-esta-na-inte…/

http://www.istoe.com.br/…/…/345927_ERRO+HISTORICO+NA+AP+470+

http://www.brasil247.com/…/Nassif-STF-vai-abrir-segredo-de-…

[5] Escândalo do HSBC

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-assombroso-silen…/

http://economia.ig.com.br/…/reino-unido-investiga-hsbc-por-…

http://economia.estadao.com.br/…/hsbc-entenda-o-escandalo-…/

http://economia.ig.com.br/…/receita-esta-de-olho-em-corrent…

http://www.brasil247.com/…/Sonega%C3%A7%C3%A3o-no-HSBC-%C3%…

[6] Sonegação Globo

http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=4664

http://www.ocafezinho.com/…/os-documentos-da-fraude-da-glo…/

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/injusto-e-pagar-im…/

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/como-o-processo-de…/

[7] Helicoca

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-dcm-apresenta-no…/

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-papel-cada-vez-m…/

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/categorias/helicoca/

[8] Aeroportos Mineiros

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-a-midia-na…/

http://www1.folha.uol.com.br/…/1493571-aecio-neves-a-verdad…

http://www1.folha.uol.com.br/…/1488587-governo-de-minas-fez…

http://www.pragmatismopolitico.com.br/…/trafico-de-cocaina-…

http://www.plantaobrasil.com.br/news.asp?nID=82339

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/aecio-nomeou-desem…/

[9] Alstom

http://www1.folha.uol.com.br/…/1281123-brasil-e-unico-que-n…

http://tijolaco.com.br/blog/?p=24684

[10] Banestado

http://www.redebrasilatual.com.br/…/o-caso-banestado-a-petr…

http://www1.folha.uol.com.br/…/1267100-justica-anula-punica…

http://ultimosegundo.ig.com.br/…/lentidao-da-justica-livrou…

[11] Beto Richa e o Paraná

http://www.pragmatismopolitico.com.br/…/beto-richa-quebrou-…

http://www.redebrasilatual.com.br/…/curitiba-a-pauta-da-reb…

[12] Globo e a Ditadura

http://www.pragmatismopolitico.com.br/…/editorial-globo-cel…

http://www.brasildefato.com.br/node/25869

http://altamiroborges.blogspot.com.br/…/as-diretas-ja-e-o-c…

http://www.viomundo.com.br/…/faz-30-anos-bom-jornalismo-da-…

http://www.viomundo.com.br/…/fabio-venturini-no-golpe-dos-e…

http://www.viomundo.com.br/…/exclusivo-as-entrevistas-feroz…

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/abrir-empresa-em-p…/

[12] CF/88
Diz o artigo 220 da Carta, no inciso II do parágrafo 3°:
II – estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
Já o parágrafo 5° diz:
Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio.
E o artigo 221. por sua vez, prescreve:
Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:
I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;
III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;
IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Ao João Pedro da gente

            Tive uma oportunidade linda de beber (claro, álcool e tabaco não podiam faltar. Hoje já dispenso o tabaco, mas a cerveja continua parceira) com um sujeito absolutamente reflexivo, camarada e generoso. De família abastada e “fazendeira”, lá do Centro-Oeste, com influência política enorme, decidiu debandar cá para o Rio de Janeiro, para a política e para a “subversão”. Virou “esquerdista” e ateísta, para o horror do pai religioso e oligárquico. Veio para o município de Belford Roxo, Baixada Fluminense, exercer a função de dentista em posto público, atendia a todos, inclusive aos portadores do HIV (numa época em que poucos faziam), candidato a prefeito, semeador de ideias que refletiam a igualdade social, a justiça para todos. Queria um mundo melhor. Só isso.
            Gostava dos botecos e de um belo conhaque, belas cervejas, um bom papo, uma simpatia contagiante. Era torcedor do Vasco da Gama (pois era humano, logo, imperfeito) e tinha um riso que me lembrava uma personagem dos desenhos animados dos anos 80.
Não penso que poderia ter aprofundado a amizade, não fico lamentando isso. É quase uma violência perder-me nesse tipo de pensamento e deixar de lado o mais importante: num mundo onde todos querem o seu lugar na poltrona do Personalité, onde a exposição e a ostentação viraram dois amantes queridos e reverenciados, onde ser feliz é ser financeiramente bem sucedido, conhecê-lo foi surpreendente, e isso me basta.
A gente pensa que, por termos origem e vivermos nos subúrbios, nas cidades-dormitórios, com preocupações patéticas como a conta do IPTU, do IPVA, da luz, não teremos – ou teremos pouquíssimas –  possibilidades de vislumbrar gigantes. De vê-los de perto, conversar com eles. Pensamos isso porque, na nossa mente limitada, olhamos para cima e esquecemos da verdadeira grandeza de um gigante: estar entre gente como a gente, ao invés de sentar em tronos.

Digo isso porque algumas vezes na minha pouca vida temporal encontrei-os no meu cotidiano e só os percebi esplendorosos quando parei de olhar para eles e percebi o que eles haviam mudado em mim. Bem, hoje faz um ano que um deles parou de existir fisicamente. Dá saudade, mas a gente vai resistindo à tentação, o correto nesses momentos é dar um pulo da cadeira, encher o peito e gritar: presente! 

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Quanto vale a Petrobras



O adiamento do balanço da Petrobras do terceiro trimestre do ano passado foi um equívoco estratégico da direção da companhia, cada vez mais vulnerável à pressão que vem recebendo de todos os lados, que deveria, desde o início do processo, ter afirmado que só faria a baixa contábil dos eventuais prejuízos com a corrupção, depois que eles tivessem, um a um, sua apuração concluída, com o avanço das investigações.

A divulgação do balanço há poucos dias, sem números que não deveriam ter sido prometidos, levou a nova queda no preço das ações.

E, naturalmente, a novas reações iradas e estapafúrdias, com mais especulação sobre qual seria o valor - subjetivo, sujeito a flutuação, como o de toda empresa de capital aberto presente em bolsa - da Petrobras, e o aumento dos ataques por parte dos que pretendem aproveitar o que está ocorrendo para destruir a empresa - incluindo hienas de outros países - vide as últimas idiotices do Financial Times - que adorariam estraçalhar e dividir, entre baba e dentes, os eventuais despojos de uma das maiores empresas petrolíferas do mundo. 

O que importa mais na Petrobras?

O valor das ações, espremido também por uma campanha que vai muito além da intenção de sanear a empresa e combater eventuais casos de corrupção e que inclui de apelos, nas redes sociais, para que consumidores deixem de abastecer seus carros nos postos BR; à aberta torcida para que “ela quebre, para acabar com o governo”; ou para que seja privatizada, de preferência, com a entrega de seu controle para estrangeiros, para que se possa - como afirmou um internauta - pagar um real por litro de gasolina, como nos EUA " ?

Para quem investe em bolsa, o valor da Petrobras se mede em dólares, ou em reais, pela cotação do momento, e muitos especuladores estão fazendo fortunas, dentro e fora do Brasil, da noite para o dia, com a flutuação dos títulos derivada, também, da campanha antinacional em curso, refletida no clima de “terrorismo” e no desejo de "jogar gasolina na fogueira", que tomou conta dos espaços mais conservadores - para não dizer golpistas, fascistas, até mesmo por conivência - da internet. 

Para os patriotas, e ainda os há, graças a Deus, o que importa mais, na Petrobras, é seu valor intrínseco, simbólico, permanente, e intangível, e o seu papel estratégico para o desenvolvimento e o fortalecimento do Brasil.

Quanto vale a luta, a coragem, a determinação, daqueles que, em nossa geração, foram para as ruas e para a prisão, e apanharam de cassetete e bombas de gás, para exigir a criação de uma empresa nacional voltada para a exploração de uma das maiores riquezas econômicas e estratégicas da época, em um momento em que todos diziam que não havia petróleo no Brasil, e que, se houvesse, não teríamos, atrasados e subdesenvolvidos que “somos”, condições técnicas de explorá-lo ?

Quanto vale a formação, ao longo de décadas, de uma equipe de 86.000 funcionários, trabalhadores, técnicos e engenheiros, em um dos segmentos mais complexos da atuação humana?

Quanto vale a luta, o trabalho, a coragem, a determinação daqueles, que, não tendo achado petróleo em grande quantidade em terra, foram buscá-lo no mar, batendo sucessivos recordes de poços mais profundos do planeta; criaram soluções, "know-how", conhecimento; transformaram a Petrobras na primeira referência no campo da exploração de petróleo a centenas, milhares de metros de profundidade; a dezenas, centenas de quilômetros da costa; e na mais premiada empresa da história da OTC - Offshore Technology Conferences, o "Oscar" tecnológico da exploração de petróleo em alto mar, que se realiza a cada dois anos, na cidade de Houston, no Texas, nos Estados Unidos ?

Quanto vale a luta, a coragem, a determinação, daqueles que, ao longo da história da maior empresa brasileira - condição que ultrapassa em muito, seu eventual valor de "mercado" - enfrentaram todas as ameaças à sua desnacionalização, incluindo a ignominiosa tentativa de alterar seu nome, retirando-lhe a condição de brasileira, mudando-o para "Petrobrax", durante a tragédia privatista e “entreguista” dos anos 1990 ?

Quanto vale uma companhia presente em 17 países, que provou o seu valor, na descoberta e exploração de óleo e gás, dos campos do Oriente Médio ao Mar Cáspio, da costa africana às águas norte-americanas do Golfo do México ?

Quanto vale uma empresa que reuniu à sua volta, no Brasil, uma das maiores estruturas do mundo em Pesquisa e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, trazendo para cá os principais laboratórios, fora de seus países de origem, de algumas das mais avançadas empresas do planeta?

Por que enquanto virou moda - nas redes sociais e fora da internet - mostrar desprezo, ódio e descrédito pela Petrobras, as mais importantes empresas mundiais de tecnologia seguem acreditando nela, e querem desenvolver e desbravar, junto com a maior empresa brasileira, as novas fronteiras da tecnologia de exploração de óleo e gás em águas profundas?

Por que em novembro de 2014, há apenas pouco mais de três meses, portanto, a General Electric inaugurou, no Rio de Janeiro, com um investimento de 1 bilhão de reais, o seu Centro Global de Inovação, junto a outras empresas que já trouxeram seus principais laboratórios para perto da Petrobras, como a BG, a Schlumberger, a Halliburton, a FMC, a Siemens, a Baker Hughes, a Tenaris Confab, a EMC2 a V&M e a Statoil ?

Quanto vale o fato de a Petrobras ser a maior empresa da América Latina, e a de maior lucro em 2013 - mais de 10 bilhões de dólares - enquanto a PEMEX mexicana, por exemplo, teve um prejuízo de mais de 12 bilhões de dólares no mesmo período ?

Quanto vale o fato de a Petrobras ter ultrapassado, no terceiro trimestre de 2014, a EXXONnorte-americana como a maior produtora de petróleo do mundo, entre as maiores companhias petrolíferas mundiais de capital aberto ?

É preciso tomar cuidado com a desconstrução artificial, rasteira, e odiosa, da Petrobras e com a especulação com suas potenciais perdas no âmbito da corrupção, especulação esta que não é apenas econômica, mas também política.

A PETROBRAS teve um faturamento de 305 bilhões de reais em 2013, investe mais de 100 bilhões de reais por ano, opera uma frota de 326 navios, tem 35.000 quilômetros de dutos, mais de 17 bilhões de barris em reservas, 15 refinarias e 134 plataformas de produção de gás e de petróleo.

É óbvio que uma empresa de energia com essa dimensão e complexidade, que, além dessas áreas, atua também com termoeletricidade, biodiesel, fertilizantes e etanol, só poderia lançar em balanço eventuais prejuízos com o desvio de recursos por corrupção, à medida que esses desvios ou prejuízos fossem “quantificados” sem sombra de dúvida, para depois ser - como diz o “mercado” - "precificados", um por um, e não por atacado, com números aleatórios, multiplicados até quase o infinito, como tem ocorrido até agora.

As cifras estratosféricas (de 10 a dezenas de bilhões de reais), que contrastam com o dinheiro efetivamente descoberto e desviado para o exterior até agora, e enchem a boca de "analistas", ao falar dos prejuízos, sem citar fatos ou documentos que as justifiquem, lembram o caso do "Mensalão".

Naquela época, adversários dos envolvidos cansaram-se de repetir, na imprensa e fora dela, ao longo de meses a fio, tratar-se a denúncia de Roberto Jefferson, depois de ter um apaniguado filmado roubando nos Correios, de o "maior escândalo da história da República", bordão esse que voltou a ser utilizado maciçamente, agora, no caso da Petrobras.

Em dezembro de 2014, um estudo feito pelo instituto Avante Brasil, que, com certeza não defende a “situação”, levantou os 31 maiores escândalos de corrupção dos últimos 20 anos.

Nesse estudo, o “mensalão” - o nacional, não o “mineiro” - acabou ficando em décimo-oitavo lugar no ranking, tendo envolvido menos da metade dos recursos do “trensalão” tucano de São Paulo e uma parcela duzentas menor que a cifra relacionada ao escândalo do Banestado, ocorrido durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso, que, em primeiríssimo lugar, envolveu, segundo o levantamento, em valores atualizados, aproximadamente 60 bilhões de reais.

E ninguém, absolutamente ninguém, que dizia ser o mensalão o maior dos escândalos da história do Brasil, tomou a iniciativa de tocar, sequer, no tema - apesar do “doleiro” do caso Petrobras, Alberto Youssef, ser o mesmo do caso Banestado - até agora.

Os problemas derivados da queda da cotação do preço internacional do petróleo não são de responsabilidade da Petrobras e afetam igualmente suas principais concorrentes.

Eles advém da decisão tomada pela Arábia Saudita de tentar quebrar a indústria de extração de óleo de xisto nos Estados Unidos, aumentando a oferta saudita e diminuindo a cotação do produto no mercado global.

Como o petróleo extraído pela Petrobras destina-se à produção de combustíveis para o próprio mercado brasileiro, que deve aumentar com a entrada em produção de novas refinarias, como a Abreu e Lima; ou para a “troca” por petróleo de outra graduação, com outros países, a empresa deverá ser menos prejudicada por esse processo.

A produção de petróleo da companhia está aumentando, e também as descobertas, que já somam várias depois da eclosão do escândalo.

E, mesmo que houvesse prejuízo - e não há - na extração de petróleo do pré-sal, que já passa de 500.000 barris por dia, ainda assim valeria a pena para o país, pelo efeito multiplicador das atividades da empresa, que garante, com a política de conteúdo nacional mínimo, milhares de empregos qualificados na construção naval, na indústria de equipamentos, na siderurgia, na metalurgia, na tecnologia. 

A Petrobras foi, é e será, com todos os seus problemas, um instrumento de fundamental importância estratégica para o desenvolvimento nacional, e especialmente para os estados onde tem maior atuação, como é o caso do Rio de Janeiro.

Em vez de acabar com ela, como muitos gostariam, o que o Brasil precisaria é ter duas, três, quatro, cinco Petrobras.

É necessário punir os ladrões que a assaltaram ?

Ninguém duvida disso.

Mas é preciso lembrar, também, uma verdade cristalina.

A Petrobras não é apenas uma empresa.

Ela é uma Nação.

Um conceito.

Uma bandeira.

E por isso, seu valor é tão grande, incomensurável, insubstituível.

Esta é a crença que impulsiona os que a defendem.

E, sem dúvida alguma, também, a abjeta motivação que está por trás dos canalhas que pretendem destruí-la.