segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Santayana: Dispensamos os avisos prepotentes da sra. Sánchez





Por Mauro Santayana



Podemos discordar do regime político de Cuba, que se mantém sob o domínio de um partido único. Mas é preciso seguir o conselho de Spinoza: não lisonjear, não detestar, mas entender. Entender, ou procurar entender. A história de Cuba – como, de resto, de quase todo o arquipélago do Caribe e a América Latina – tem sido a de saqueio dos bens naturais e do trabalho dos nativos, em benefício dos colonizadores europeus, substituídos depois pelos anglo-saxões.

E, nessa crônica, destaca-se a resistência e a luta pela soberania de seu povo não só contra os dominadores estrangeiros, mas, também, contra seus vassalos internos.

Já se tornou lugar comum lembrar que, sob os governos títeres, Havana se tornara o maior e mais procurado bordel americano. A legislação, feita a propósito, era mais leniente, não só com o lenocínio, e também com o jogo, e os mais audazes gangsters de Chicago e de Nova Iorque tinham ali os seus negócios e seus retiros de lazer. E mais: as mestiças cubanas, com sua beleza e natural sensualidade, eram a atração irresistível para os entediados homens de negócios dos Estados Unidos.

A Revolução Cubana foi, em sua origem, o que os marxistas identificam como movimento pequeno burguês. Fidel e seus companheiros, no assalto ao Quartel Moncada – em 1953, já há quase 60 anos – pretendiam apenas derrocar o governo ditatorial de Fulgêncio Batista, que mantinha o país sob cruel regime policial, torturava os prisioneiros e submetia a imprensa à censura férrea. A corrupção grassava no Estado, dos contínuos aos ministros. O enriquecimento de Batista, de seus familiares e amigos, era do conhecimento da classe média, que deu apoio à tentativa insurrecional de Fidel, derrotada então, para converter-se em vitoria menos de 6 anos depois. Os ricos eram todos associados à exploração, direta ou indireta, da prostituição, disfarçada no turismo, e do trabalho brutal dos trabalhadores na indústria açucareira.

Foi a arrogância americana, na defesa de suas empresas petrolíferas, que se negaram a aceitar as novas regras, que empurrou o advogado Fidel Castro e seus companheiros, nos dois primeiros anos da vitória do movimento, ao ensaio de socialismo. A partir de então, só restava à Ilha encampar as refinarias e aliar-se à União Soviética.

Os americanos, sob o festejado Kennedy – que o reexame da História não deixa tão honrado assim – insistiram nos erros. A tentativa de invasão de Cuba, pela Baía dos Porcos, com o fiasco conhecido, tornou a Ilha ainda mais dependente de Moscou, que se aproveitou do episódio para livrar-se de uma bateria americana de foguetes com cargas atômicas instalada na Turquia, ao colocar seus mísseis a 100 milhas da Flórida, no território cubano.

A solução do conflito, que chegou a assustar o mundo com uma guerra atômica, foi negociada pelo hábil Mikoyan. Kruschev retirou os mísseis de Cuba e os Estados Unidos desmantelaram sua bateria turca, ao mesmo tempo em que assumiram o compromisso de não invadir Cuba – mas mantiveram o bloqueio econômico e político contra Havana.

Enfim, ganharam Moscou e Washington, com a proteção recíproca de seus espaços soberanos – e Cuba pagou a fatura com o embargo.

O malogro do socialismo cubano nasceu desse imbróglio de origem. Tal como ocorrera com a Rússia Imperial e com a China, em movimentos contemporâneos, o marxismo serviu como doutrina de empréstimo a uma revolução nacional. O nacionalismo esteve no âmago dos revolucionários cubanos, tal como estivera entre os social-democratas russos, chefiados por Lenine e os companheiros de Mao.

Os cubanos iniciaram reformas econômicas recentes, premidos, entre outras razões, pelo fim do sistema socialista. Ao mesmo tempo tomaram medidas liberalizantes, permitindo as viagens ao exterior de quem cumprir as normas habituais. É assim que visita o país a dissidente Yoani Sánchez (que mantém seu blog na internet de oposição ao governo cubano).

Ocorre que ela não é tão perseguida em Havana como proclama e proclamam seus admiradores. Tanto assim é que, em momento delicado para a Ilha, quando só pessoas de confiança do regime viajavam para o Exterior, ela viveu 2 anos na Suíça, e voltou tranquilamente para Havana.

É sabido que ela mantém encontros habituais com o escritório que representa os interesses norte-americanos em Cuba, como revelou o WikiLeaks.

Há mais. Ela proclama uma audiência que não tem, como assegura o sistema de registro mais confiável, o da Alexa.com. (citado por Altamiro Borges em seu site) em que ela se encontra no 99.944º lugar na audiência mundial, enquanto o modesto jornal O Povo, de Fortaleza, se encontra na 14.043ª posição, ou seja, dispõe de sete vezes mais seguidores do que Yoani.

Ela ainda afirma que tem 10 milhões de acessos por mês, o que contraria a lógica de sua posição no ranking citado. O site de maior tráfego nos Estados Unidos é o do New York Times, com 17 milhões de acessos mensais.

Apesar de tudo isso, deixemos essa senhora defender o seu negócio na internet. É seu direito dizer o que quiser, mas não podemos tolerar que exija do Brasil defender os direitos humanos, tal como ela os vê, em Cuba ou alhures.

Um dos princípios históricos do Brasil é o da não interferência nos assuntos internos dos outros países. O problema de Cuba é dos cubanos, que irão resolvê-lo no dia em que não estiverem mais obrigados a se defender da intervenção dos estrangeiros, que vêm sofrendo desde que os espanhóis, ainda no século 16, ali se instalaram. Foram substituídos pelos Estados Unidos, depois da guerra vitoriosa de Washington contra o frágil governo da Regente Maria Cristina da Espanha. Enfim, o generoso povo cubano, tão parecido ao nosso, não teve, ainda, a oportunidade de realizar o seu próprio destino, sem as pressões dos colonizadores e seus sucessores.

Dispensamos os conselhos da Sra. Sánchez. Aqui tratamos, prioritariamente, dos direitos humanos dos brasileiros, que são os de viver em paz, em paz educar-se, e em paz trabalhar, e esses são os direitos de todos os povos do mundo. Ela, não sendo cidadã de nosso país, não deve, nem pode, exigir nada de nosso governo ou de nosso povo. Dispensamos seus avisos mal-educados e prepotentes, e esperamos que seja festejada pela direita de todos os países que visitará, à custa de seus patrocinadores (como o Instituto Millenium), iludidos pelo seu falso prestígio entre os cubanos.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Os faróis


Eu lembro perfeitamente desta coluna de página inteira no JB (ano 2000) que eu assinava. Faculdade de Letras, a professora repetia sempre: “O Globo é aquela merda, O Dia não é jornal e, nste limbo, a Folha se destaca pela boa escrita. O JB, há muito, já morreu, mas ainda tem o Fritz por lá e mais uma meia dúzia que vale a pena cada parágrafo”. E VALIA.
E eu assinei o JB e a Folha. Sim, o JB tinha o Fritz, o Barbosa Sobrinho e mais uns gênios lindos que o jornal dos Marinho ainda não tinha comprado. Até o Xexéu era de lá (e escrevia bem naquele tempo). Depois voltou o inesquecível e absoluto Fausto. Veio o Mauro Santayanna.
E tinha o Fritz, que logo depois saiu e fundou o Montbläat (que eu assinei por um tempo e fui um pequeno colaborador também com uns 3 ou 4 textos, depois parei de assinar).
Fausto e, agora, Fritz... Dois jornalistas (os dois melhores para mim) que realizaram a minha vida de leitor e amante de jornalismo. Ambos nunca entraram numa faculdade de comunicação.
Fritz... Quem sobrou?
Sobraram os seus textos, faróis que nos guiam em busca da ética, do humanismo, do verdadeiro jornalismo. E sobrou a gente para divulgar e tomar conta destes faróis.


A língua do X

Por Fritz Utzeri (*)


(Uma coluna em novilíngua globalizada, na qual o famigerado "s" do atraSo dá lugar a seu substituto tecnológico, moderno, dinâmico: o "x", de Xantia, Xara, Xuxa, Sedex, Fedex, Xerox, Gumex (in memoriam) e... xixi!).

Você xabe o que é a Hoechst? Você conxegue ler Hoechst xem vacilar? Você tem alguma idéia de como xe pronuncia Hoechst? E xe lhe dixxerem que a emprexa é alemã, você a identificaria com A - Adolfo Hitler, B - Xegunda Guerra Mundial, C- Campo de concentração, D - Muro de Berlim, E - Remédios e produtos químicos? Conxiderando que o nome Hoechst é quebra-língua em 2 mil 500 idiomax, incluindo o Urdu, ox marqueteirox extão tentando convencer a diretoria da multinacional a mudar o nome da emprexa, de preferência inxerindo nela algunx "x", o que vai facilitar a leitura e identificação.

Axxim, xugerem Hoechxt, ou ainda Hoexhxt, ou talvez Hoechaxx ou, finalmente Hoechax. Tudo em nome da clareza. Além dixxo, convém dixxociar o nome da empresa do nome da Alemanha. Uma pexquixa feita em paíxex da América Central, no Ceilão e no Texax, revelou uma imagem muito negativa, geralmente axxociada a eficiência, max levando depoix à guerra, dextruição e extermínio. Deu cerveja, Bach e Beethoven também - vá lá - max apenax rexidualmente. O problema da Hoechst é que xeux diretorex xão unx idiotax, incapazex de perceber a importância do marquetingue moderno, globalizado. Exxex alemãex...

Max não é xó. Dizem que o Papa chamou o cardeal camerlengo e comentou, preocupado: "Vem cá, você não acha que DEUS, com "s", está meio paradão, fora de moda?" O camerlengo consultou os marqueteiros do Vaticano e veio com uma sugextão capaz de revolucionar o paraixo: DEUX! (Podia dar um certo ar politeíxta na França, mas ixxo foi conxiderado xecundário).

Agora que a onda da PetroBrax acabou, que tal verificar quem foi o rexponxável pelo dexperdício de maix de R$ 700 mil? Exxa quantia foi paga à emprexa UND, contratada xem licitação, por "notória expecialização" (xó xe for em fazer bexteira), para bolar um novo nome e xímbolo para a extatal. A UND já embolxou o dinheiro max deveria xer obrigada a devolvê-lo em dobro aox cofrex da Petrobras, já que xuax propoxtax cauxaram um efeito diametralmente opoxto ao previxto.

Xe há alguma xeriedade no uxo do dinheiro público no Braxil (pelo jeito parece extar começando a haver), o Xr. Reichxtul deve pedir o dinheiro de volta ou procexxar a emprexa por danox moraix cauxados. Quanto vale no mercado internacional um vexame dexxex? E deveria também reavaliar o papel dox conxultorex, expecialmente o do pai da criança, Alexandre Machado. Ao anunciar a nova marca e o novo nome aox jornalixtas, ele parecia deter o xegredo da pedra filoxofal.

Xó imbecix como nóx, a opinião pública, não parecíamox pérceber qual era o "x" do problema. O xupracitado conxultor e o dexigner, Norberto Chamma, dono da UND, citaram pexquixax de opinião e extão agora no obrigação de torná-lax públicax. O Jornal do Brasil e O Globo conxultaram xeux leitorex e o repúdio à PetroBrax foi exmagador. Onde foi feita a pexquixa? Nalguma lua de Xaturno?

Aliáx, uma dax maiorex embromaçõex dox tempox modernox e globalizadox rexide nox conxultorex. O que é exatamente um conxultor? Em geral (há exceções) é algum poço de ignorância, ganhando um xalário fabuloxo para dizer obviedadex e coixax que a direção das emprexax quer ouvir. Já fui alto executivo de uma dax maiorex multinacionaix do mundo, na área de telecomunicaçõex, durante cinco longox anox, e poxxo jurar que jamaix vi um conxultor ter uma ximplex idéia original. Conxultor é, geralmente, o nome genérico para embromador.
Digo ixxo de cadeira. Já fui conxultor (de texto) durante doix anox de uma grande rede de TV braxileira. Pagavam muito bem, em dólar, max jamaix dexcobri o que queriam de mim. Nunca me perguntaram nada; quando eu perguntava, desconversavam. Axxim, não pude dar uma ximplex idéia. Um dia, durante uma operação de reengenharia (andava de moda naquela época e xignificava apenax botar um monte de gente na rua e deixar o rexto trabalhando o dobro pelo mexmo xalário), dexixti da conxultoria. Jamaix ganhei dinheiro tão fácil.

O TCU, o Minixtério Público, o Parlamento e a imprenxa extão na obrigação de invextigar direitinho exxa operação, devido ao montante de dinheiro envolvido e que teria xido gaxto melhor em operaçõex de controle ambiental e de reciclagem profixxional dox milharex de empregadox que a Petrobrax tem demitido.
Do epixódio convém rexxaltar um fato. Apexar de tudo, é inquextionável que alguma coixa mudou para melhor no Braxil. Prexxionado pela opinião pública, FH mandou para o expaço a troca de nome da Petrobras. A PetroBrax durou merax 48 horax. O que cauxa expanto é a conxtatação, cada vez maix evidente, de que ox noxxox governantex vivem no mundo da Lua. Dexconhecem totalmente o Braxil. Não xão capazex de ouvir a voz rouca dax ruax. Que o Xr. Reichxtul não entenda o Braxil, não tenha compromixxo com a xua Hixtória, vá lá.
Max que FH tenha autorizado a troca é duro de engolir. O poder tem extranhax propriedadex. A amnéxia parece xer uma delax. A geração de FH e a que a precedeu lutou na campanha do "O Petróleo é nosso", certamente a maix memorável afirmação de xoberania que exte paíx já viu. O que deu na cabeça da FH? Pelo jeito ele não exqueceu xó o que excreveu, max também o que viu. Mas o nosso país resistiu...

(*) Fritz Utzeri  foi diretor de redação do Jornal do Brasil. O texto foi publicado nexxe jornal, na edição de 31 de dezembro de 2000, página 9 (Opinião), seção Converxa com o Leitor.


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Vamos para a festa, Baco!

Hino de exaltação à Mangueira 

Enéas Brites Da Silva / Aloísio Augusto Da Costa 

Mangueira teu cenário é uma beleza
Que a natureza criou, ô, ô
O morro com seus barracões de zinco
Quando amanhece que esplendor

Todo mundo te conhece ao longe
Pelo som dos teus tamborins
E o rufar do seu tambor!

CHEGOU, Ô, Ô, Ô, Ô
A MANGUEIRA CHEGOU, Ô, Ô...
(BIS)

Mangueira teu passado de glórias
Está gravado na história
É Verde e Rosa a cor da tua bandeira
Pra mostrar a essa gente
Que o samba é lá em Mangueira!

Mangueira teu cenário é uma beleza
Que a natureza criou, ô, ô
O morro com seus barracões de zinco
Quando amanhece que esplendor

Todo mundo te conhece ao longe
Pelo som dos teus tamborins
E o rufar do teu tambor!

CHEGOU, Ô, Ô, Ô, Ô
A MANGUEIRA CHEGOU, Ô, Ô...
(BIS) 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A inquestionável partidarização da imprensa


MÍDIA & POLÍTICA
Por Venício A. de Lima em 29/01/2013 na edição 731


Se o leitor (a) ainda precisa de alguma comprovação sobre o comportamento partidário dos jornalões brasileiros, sobretudo nos períodos eleitorais, recomendo a leitura do excelente A Ditadura Continuada – Fatos, Factoides e Partidarismo da Imprensa na Eleição de Dilma Rousseff, resultado de uma cuidadosa pesquisa realizada por Jakson Ferreira de Alencar, recentemente publicado pela editora Paulus.

O livro se concentra na cobertura política oferecida pelo jornal Folha de S.Paulo e parte da divulgação da falsa ficha “criminal” dos arquivos do Dops da militante da VAR-Palmares Dilma Rousseff, então pré-candidata à Presidência da República, em 4 de abril de 2009.

Jakson Alencar faz um acompanhamento minucioso de todo o caso, ao longo dos três meses seguintes, registrando a “semirretratação” do jornal, em matéria antológica para o estudo da ética jornalística, na qual se reconhece como erro “tratar como autêntica uma ficha cuja autenticidade, pelas informações hoje disponíveis, não pode ser assegurada – bem como não pode ser descartada” (p. 67).

Chama a atenção no episódio a “condução”, pela repórter da Folha, da entrevista – que mais parece um interrogatório – realizada com Dilma. Há uma indisfarçável tentativa de comprovar a hipótese do jornal de envolvimento da entrevistada não só com o sequestro (não realizado) do então ministro Delfim Netto, mas também com a luta armada. A entrevista de outro militante, Antonio Espinosa, usada como suporte à tese do jornal, jamais foi publicada na íntegra, apesar de os trechos publicados haverem sido reiteradamente desmentidos pelo entrevistado.

Jakson Alencar mostra, com riqueza de detalhes, o comportamento arrogante do jornal, ao tempo em que a própria Dilma tratava de comprovar a falsidade da ficha, além do descumprimento sistemático de seu próprio Manual de Redação. Fica clara a “tese central de toda a reportagem, segundo a qual a resistência à ditadura é criminosa, e não o regime totalitário e violento, implantado de maneira ilegal” (p. 95) e, mais ainda, que essa tese “continuou sendo difundida em muitos veículos da imprensa brasileira durante todo o período da campanha eleitoral de 2010”.

“Hipóteses furadas”

A segunda parte do livro trata do período da campanha eleitoral, de abril a agosto de 2010. Aqui o ponto de partida é o 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, promovido pelo Instituto Millenium, em março. Como se sabe, essa ONG é um dos think tanks da direita conservadora brasileira, financiado, entre outros, pelos principais grupos da grande mídia. Segundo Jakson Alencar, teria surgido nesse fórum a “Operação Tempestade no Cerrado”, que orientaria a cobertura política dos jornalões e teria como objetivo impedir a eleição de Dilma Rousseff (p.105).

Concentrado na Folha de S.Paulo, o livro mostra o esforço cotidiano para ressuscitar escândalos passados e a busca de novos escândalos do governo do PT, além de tropeços e temas negativos relativos a Dilma. Paralelamente, o tratamento leniente e omisso dispensado ao candidato do PSDB.

Na terceira e última parte, o livro aborda a “Operação Segundo Turno” e cobre o período que vai de 26 de agosto a 3 de outubro. A partir do momento em que as pesquisas de intenção de voto confirmam a tendência de eleição de Dilma, tem início “uma maciça ação da imprensa contra a candidata às vésperas da eleição e uma chamada ‘bala de prata’, com o intuito de alterar os rumos da campanha” (p. 145).

Destacam-se nesse período “acusações, ilações e insinuações que viraram condenações sumárias” (p. 147), sobretudo o caso do suposto “dossiê” preparado pelo PT sobre dirigentes tucanos, com dados fiscais sigilosos, e o “escândalo” envolvendo a então substituta de Dilma na Casa Civil (registro: o Tribunal Regional Federal da 1ª Região arquivou o processo contra Erenice Guerra por suposto tráfico de influência, depois de acatar recomendação do Ministério Público Federal e por decisão do juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal, em 20 de julho de 2012).

Nas suas conclusões, Jakson Alencar afirma que “a cobertura (da Folha de S. Paulo) (...) misturou frequentemente fatos com opiniões e boatos, somando-se a isso outros elementos, como torcida, manifestação de desejos travestidos de informação, argumentação frágil e com pouca lógica, estratégias óbvias e já desgastadas pelo uso repetitivo em diversas eleições, incapacidade de analisar processos econômico-sociais para construir posicionamentos e críticas com um mínimo de sofisticação; teses e hipóteses furadas; narrativas e entrevistas enviesadas; fontes de baixíssima credibilidade” (p. 252).

Manual desobedecido

Curiosamente (ou não?), na mesma época em que a Paulus publicava o livro de Jakson Alencar, a Publifolha lançava na Coleção “Folha Explica” o livro sobre a própria Folha, escrito por Ana Estela de Souza Pinto, ela mesma jornalista da casa desde 1988. Neste, o “erro” do episódio da ficha falsa de Dilma no Dops merece registro em função do “fato de a Folha ter voltado sua bateria investigativa para todos os governantes, de diferentes partidos”. Segue-se um parágrafo que reproduz a “retratação” que a Folhaofereceu, já citada, na qual, apesar de todas as evidências em contrário, se afirma que a autenticidade da ficha do Dops “não pode ser assegurada – bem como não pode ser descartada”. Nem uma única observação sobre a cobertura partidária das eleições de 2010.

O resultado de tudo isso, como se sabe, é que Dilma Rousseff – apesar da grande mídia e do seu partidarismo – foi eleita presidenta da República.

A Ditadura Continuada – Fatos, Factoides e Partidarismo da Imprensa na Eleição de Dilma Rousseff, de Jakson Alencar, demonstra e confirma o que já sabemos: os jornalões brasileiros, além de partidarizados, não têm compromisso nem mesmo com seus manuais de redação.

***

[Venício A. de Lima é jornalista e sociólogo, pesquisador visitante no Departamento de Ciência Política da UFMG (2012-2013), professor de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor de Política de Comunicações: um Balanço dos Governos Lula (2003-2010), Editora Publisher Brasil, 2012, entre outros livros]

 

Reproduzido da revista Teoria e Debate nº 108, janeiro/2013