sexta-feira, 30 de abril de 2010

Ai, eu adoro amar você!



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Sei lá porquê quis escrever sobre.

Sei lá se estarei sendo absurdo e machista ao comparar uma coisa a outra.

A verdade é que deu uma vontade louca de dizer que “eu adoro amar você”. Só não continuo a letra porque, sinceramente, Daniel me causa náuseas.

Mas hoje é o Dia Nacional da Mulher (lei 6.791) e eu...

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... Falando, no horário do expediente, de filmes e livros e Oscar Wilde – mais precisamente O Retrato de Dorian Gray – cheguei ao assunto da questão: a beleza. Para mim (e minha pouca idade e risível conhecimento), nada mais símbolo da beleza feminina (carnalmente falando), que estas 4 mulheres: Luiza Brunet, Mônica Bellucci, Juliette Binoche e Ava Gardner. Devo, ainda, admitir que tenho uma quedinha pela Isabella Rossellini (naquele ótimo filme Um Toque de Infidelidade).

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Enfim, eu adoro amar vocês.

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quarta-feira, 28 de abril de 2010

Casal


Esta é uma daquelas composições que a gente carrega pra vida toda. Não anotei a data da publicação, mas foi no jornal carioca O Dia (há, talvez, 10 anos). Para mim, a pura genialidade do nosso Millôr Fernandes. Muitos textos meus foram claramente iluminados por este poema que, agora, compartilho.

CASAL

Poema transubstanciado de um poema de David Lehman.
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Ela adorava saltar de trampolim.
Seu apelido era Esquilo.
Quando beijava enfiava a língua até a garganta dele.
Trabalhava em propaganda. Não, não, editoria. Era seu sonho, desde a Faculdade. O primeiro original que comprou e editou foi A culinária de Wittgenstein. Fácil imaginar quanto durou a editora.
Só começou a apreciar sexo quando o marido a abandonou. Mas ele aparecia vez por outra, em fins de semana. E realizava na cama tudo que ela pedira no passado.
Era advogado. E ativista da Ong Não na Tua, na de Todos. Editava o jornal-panfleto Irmão ou Caím.
De onde vinha toda essa raiva dela? Ele nunca descobriu. Só sabia que a raiva era a maneira de ela gostar dele.
De apertar o coração perceber que ambos os ex tinham casado com outros ambos.
“Tem coisa que doa mais no coração?”, ele perguntou. A lista dela incluia o alvorecer, o dia da formatura, e a cidade de Paris, que ela descrevia em prosa vívida, muito antes de ter botado os pés nessa cidade.
Razão do enorme sucesso dos seus Guias de Viagem.
Um dia percebeu por que tinha casado com ela; assim não precisava pensar nela.
Ela só falava coisas óbvias. Mas falava muito bem. Também continuava dando gafes como quando atribuia “E agora, José?” a uma velha tia.
E vivia deprimida pela dificuldade de comprar nectarinas maduras na Barra da Tijuca. Uma alma estrangeira.
Ela fez alguma crítica acerba, ele explodiu, fora de si. E ela ainda perguntou: “Quer dizer que acabou tudo?” Ele disse apenas foda-se.
Foda-se você, disse ela e mandou ele sair.
Tudo bem, ele disse, eu vou embora, se é isso que você está querendo. E se ainda interessa saber onde é que eu ando, estou no Paraná, fudendo a Kim Nowak, como disse o Baby Pignatari praquela Linda Christian que tomava banho de espuma em 16 de agosto de 49.
Ela ficou tão deprimida que não saiu do quarto o ano inteiro. Só assim não se metia em confusão. O trabalho a tornava sedentária. O único exercício que fazia era colocar dois pedaços de presunto entre dois pedaços de pão – um sanduíche. E escrevia diálogos entre um homem e uma mulher quando um dos dois – depois resolvia quem – se mandava: “O que é que você está fazendo?” “Por que é que você está perguntando?” Sempre o mesmo texto, repetindo Jack Nicholson no Iluminado.
E choveu o dia todo, transformando uma tarde de dezembro numa noite de inverno da Inglaterra. A rapidez de seu raciocínio era maior do que a luz.
“Como vai tua ex-mulher?” “Se divorciou também, como nós dois” “É o que temos em comum.”
Ele tinha o curioso hábito de sorrir quando nervoso. O que o tornava mal jogador de pôquer. E encantador para ela. Ela gostava da vida boêmia, ou não gostava tanto assim, mas fingia. A alegria fugia dos olhos dele mas o sorriso aguentava-se na cara, não sabendo pra onde ir. A imagem de Deus barbeava-se no espelho sentindo a falta dela.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A Escola pode extinguir?

O mestre Moacy deixa um recado no seu post nº 3000 (!): suspenderá a beleza e sufocará a raridade - Suspende o Balaio por tempo indeterminado.
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BALAIO PORRETA 1986
n° 3000
Rio, 22 de abril de 2010
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O MEU PRIMEIRO POEMA PUBLICADO
Moacy Cirne

Contrariando
John Donne,
sou uma ilha deserta.
Será que os sinos dobrarão
por mim?

[ in Folha Estudantil, Jardim do Seridó, 2° sem. 1962]
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QUEM É O TERCEIRO?
Michelangelo Antonioni
[ in O fio perigoso das coisas, 1983,
trad. Raffaella de Fillippis, 1990 ]

Sempre preciso fazer um grande esforço quando termino um filme para começar a pensar em outro. Mas é a única coisa que me resta fazer e que sei fazer. Às vezes paro num verso que li, a poesia me estimula muito.

Quem é o terceiro que sempre caminha ao seu lado?

Quando um verso se transforma em sentimento não é difícil colocá-lo num filme. Esse de Eliot tentou-me repetidas vezes. Não me dá sossego aquele terceiro que caminha sempre do nosso lado.
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COMUNICADO
Com este número, o Balaio encerra suas atividades,
temporariamente.

A todos àqueles que nos prestigiaram, nos últimos 23 anos
e/ou nos últimos meses, os nossos agradecimentos.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Depois vocês falam à beça que eu falo demais

Está no blogue do Fernando Moreira, em O Globo Online de hoje: “Líder religioso do Irã diz que mulheres provocam terremotos”.

Um importante líder religioso do Irã foi responsável por uma declaração no mínimo curiosa. Hojatoleslam Kazem Sedighi afirmou que mulheres que usam roupas reveladoras e agem de forma promíscua são culpadas por terremotos!

"Muitas mulheres que não se vestem de forma modesta levam os homens jovens ao mau caminho, corrompem a sua castidade e espalham o adultério pela sociedade. Isso, consequentemente, faz aumentar o número de terremotos", afirmou Sedighi.

Não sei de onde pipocam as maravilhosas ideias incrivelmente definitivas, fundamentais e fundamentalistas dos barbudinhos, mas que são um bocado originais, isto é inegável. Eu, quando garoto, pensava em todas as formas e motivos para um terremoto relinchar. Contudo, achar que o sarra-sarra das placas tectônicas acontecem por culpa exclusiva da Globeleza (leia-se todas as mulheres que adoramos babar) é de uma sagacidade, de um antropomorfismo, de uma iluminação absoluta!

Sempre achei que o problema do mundo estava na castidade interrompida dos que entram no caminho da libertinagem, da safadeza, da promiscuidade! Sempre duvidei da bunda perfeita, dos seios maravilhosos, das conversas de bar e da cerveja gelada!

Abaixo à ditadura da falta de religiosidade! Abaixo à ditadura da minissaia!

Que venham a burca, a múmia, as freiras e o edredom!

Viva a grande divindade que aniquila a todos por causa de uma perereca!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Frango à Passarinho

Depois de um excelente final de semana regado à cerveja, peixe na brasa e carne de porco, o pensamento sobre petiscos e afins agregou-se à ideia do professor de História e conhecedor da verdadeira culinária, Alexandre Santos, que anda reproduzindo posts deliciosos para os apreciadores da loura gelada bem acompanhada. Roubei o Frango à Passarinho do seu blogue, mas ainda espero a receita do medalhão ao molho madeira! Ele prometeu!

Frango à Passarinho



Seguindo a nossa seleção de petiscos, hoje postaremos para nossos amigos um breve relato da origem do Frango à Passarinho, sugestão solicitada pela amiga Luana Gomes. O Frango à passarinho é uma comida típica do Brasil. No entanto tem-se a remota desconfiança que tenha surgido no Sudeste, mais precisamente no Rio de Janeiro. Muito se tem falado não sobre sua origem e sim, qual seria a melhor maneira de apreciá-lo, com as mãos ou usando talheres. Não há quem duvide que comer frango à passarinho sem usar os talheres é bem mais fácil.

O frango que encontramos nos mais variados bares, restaurante e botequins, consiste em vários cortes pequenos de frango, geralmente da asa, cortada em partes. Estes pedaços são fritos em óleo quente, sob imersão.

O frango à passarinho e o galeto são os pratos que causam mais saias justas na hora de comer. Sempre bate aquela dúvida: com a mão ou com o talher? Por isso, não é difícil presenciar cenas divertidas de comensais que exercitam sua habilidade ao máximo para degustar asinha de frango com garfo e faca.

Para facilitar a vida dos clientes, a Galeteria Via Dei Galli, no Castelo, passou a disponibilizar luvas de plástico. A idéia, segundo o gerente José Erivan de Oliveira Caetano, surgiu poucos meses após a abertura da casa, há nove anos. “Na época, o slogan era: ‘Venha comer o verdadeiro galeto ao primo canto com a mão’”, conta.

De acordo com ele, pela tradição gaúcha, o galeto deve ser pego com a mão. A luva foi uma adaptação feita em Campinas para difundir o costume por aqui.

E a iniciativa tornou-se um sucesso. Caetano diz que a maior parte dos clientes aderiu ao uso das luvas. “E nós sentimos que o aproveitamento da carne do galeto aumentou”, observa.

Muitas receitas ainda levam um molho alho e óleo por cima do frango já frito. Este molho é composto de alho torrado e bastante azeite. Outras incluem, além do alho e óleo, um pouco de salsinha para embelezar o prato e acentuar o sabor.

Frango à Passarinho simples com salsinha

Ingredientes:

• 1 frango (cerca de 1 kg e meio), em pedaços pequenos

• 3 cubinhos de caldo de galinha;

• Óleo para fritar;

• 1/2 xícara (chá) de salsa picadinha.

Modo de preparar:

1. Tempere o frango com o caldo de galinha, dissolvido em duas colheres de água fervente.

2. Deixe tomar gosto por duas horas.

3. Frite o frango em bastante óleo, até dourar de todos os lados.

4. Escorra em papel absorvente.

5. Polvilhe com salsa.

Frango à Passarinho na Cerveja

Ihgredientes:

500g de peito de frango

2 colheres de sopa de mostarda

suco de 2 limões

1 lata de cerveja

2 dentes de alho

óleo suficiente para fritar

Modo de preparar:

Corte o frango em cubos,

tempere-o com o suco de limão, a mostarda e sal a

gosto. Acrescente a cerveja e deixe descansar por

aproximadamente 1 hora.

Obs. Não tampe o recipiente.

Descasque e esmague as cabeças de alho e coloque-as no

óleo. Espero o óleo esquentar e frite os cubos.


Pesquisa e consulta:

http://www.amesa.com.br/
http://www.suareceita.com.br/
www.br.answers.yahoo.com/question/index
pt.wikipedia.org/wiki/Frango_à_passarinho

segunda-feira, 12 de abril de 2010

12 de abril - dia do meu melhor Eu

Quando ela nasceu foi um momento difícil. Eu pensava estar preparado, mas nós nunca estamos totalmente preparados, nem para a morte, nem para a vida. Ela era simples, vermelha; soltava uns rangidos, arrotos, o olhar embaçado, cabelos falhos. Ela nasceu e eu não estava preparado. Deixei de ser naquele momento. Eu era todo não-ser. Uma elipse solta pelos cantos do hospital. Eu era o ponto-e-vírgula que ninguém sabe muito bem onde botar. E eu não estava preparado. Acendi todos os cigarros, chorei um pouco, falei pouquíssimo. Tirei fotos, descobri ser deus, fiquei maior que o mundo; era todo o universo. E eu não estava preparado para deixar de ser sol. Deixei de lado a Coroa, virei malkut, absorvi o éter, caí do quinto céu. Quando ela nasceu, sem querer, revelou o óbvio. A eternidade é isso:

Eu me continuar nos átomos de outra pessoa.


sexta-feira, 9 de abril de 2010

Fala do velho do restelo ao astronauta


José Saramago
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Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.

In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Porrada no Cacique!

...É claro que todo mundo sabia que todo mundo sabia, mas não teve jeito. As coisas são feitas assim: a gente fala e fala e fala, mas, no fim, não faz porra nenhuma. É a máxima do neo-qualquer-partido, ou seja, muda-se tudo para não se mudar nada.

Por exemplo, as enchentes no Rio de Janeiro é a previsão descarada do apocalipse em 2012? A maldição do José serrote? Iemanjá vs. Poseidon travando a maior suruba entroplanetária? Chuva excessiva devido a todas as ignorâncias que já fizemos ao planeta? Acredito que, se o homem pode imaginar, logo, há um viés de realidade, depende do ponto (distorcido) de vista. Contudo, penso ser, neste caso, puro estupro social. Chego lá.

Os geólogos de plantão (ou nem geólogos assim, mas seres dotados com um mínimo de raciocínio) disseram que os morros cariocas possuem uma camada muito fina de terra – o resto é rocha –, portanto, qualquer chuvisco persistente é um perigo (ou uma “pica”, como diz o carioca da Baixada). Os governos sabiam? Sabiam, naturalmente. Os governos podiam prever que, algum dia, isso daria em merda? Claro, certamente. Os governos podiam, enfim, barrar a desenfreada população de construir desenfreadamente mais casas, casarões, barrocos (depende do lugar e da classe) nos morros? Sem dúvida alguma! Por que não o fizeram? Bem, veja bem, aí é onde a política rima com titica.

Sem dúvida anda chovendo à beça no Rio de Janeiro, mas quando 100, 200 mortos clamam soterrados na pobreza ou nos destroços, aí mililitros cúbicos não dizem nada além do óbvio: tapamos os olhos e deixamos a tragédia acontecer na expectativa de que a merda só fedesse no próximo governo. Como impedir o crescimento populacional dos pobres nos morros tira votos, nada se faz, como impedir ricos de construírem suas mansões em áreas perigosas pode minar o dinheiro da campanha eleitoral, nada se faz. E de nada em nada vamos nadando no lamaçal que se tornou a nossa “crônica de uma morte anunciada”.

Claro que não podemos jamais esquecer do convênio firmado entre a prefeitura do Rio e a Fundação Cacique Cobra Coral. Como governos jamais deixarão de ser o que são: corruptos, cancerígenos e absurdos, coloco imediatamente a culpa no FDP do cacique que, ao pedir para chover no Rio, não pediu direito, ou pediu em demasia, e Tupã, bêbado, abrindo sem jeito o mapa do Estado, amassando a parte que cabe à Baixada (tudo bem, já estamos acostumados), resolveu mijar toda a Lagoa Rodrigo de Freitas e Niterói. Porrada no Cacique e, sobretudo, no prefeito!

Queria continua com o desabafo irônico de um cidadão perplexo, mas Angra dos Reis continua latente nos corações cariocas e eu já disse tudo o que queria Aqui e Aqui.

Ah!, o Kibe Loco também disse tudo com pouquíssimas (e melhores) palavras.

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LAMENTAÇÃO
Líria Porto
[ in Tanto Mar ]

olhos barrentos
transbordam durante
as enchentes

transformam em charcos
os corpos cansados
de sofrimento

quarta-feira, 7 de abril de 2010

terça-feira, 6 de abril de 2010

Mortes Racionais

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Já demorava algum tempo, surpreendentemente, desde que despertamos pela última vez a ouvir as notícias tenebrosas à televisão: Mais um atentado terrorista devasta uma cidade estrangeira. Conforme afirma o prefeito de Moscow, Yuri M. Luzhkov, há evidências imediatas que indiquem que as supostas irmãs gêmeas suicídas sejam do norte do Cáucaso, rebeldes chechenas, região problemática para a Rússia e que já gerou escandâlos internacionais e conflitos fronteiriços na era de Vladimir Putin. No dia 3 de Setembro de 2004, rebeldes chechenos invadiram uma escola em Beslan, na Ossétia do Norte, matando mais de 300 pessoas, majoritariamente crianças. Os ataques por grupos chechenos clamando independência total do julgo da Rússia e a desocupação de seus territórios pela tropas do país não são raros, e os motivos dos conflitos estão longe de uma resolução satisfatória para ambos lados.

Há duas perspectivas vigentes quando o assunto é terrorismo. A primeira, por Robert A. Pape, busca comprovar em base de dados colhidos a partir de 1980 que a maioria dos terroristas não são extremistas religiosamente; não são jovens ignorantes cuja mente pode ser “lavada” facilmente por figuras influentes em suas respectivas comunidades; não foram diagnosticados, e não apresentam sinais de transtornos mentais; foram geralmente educados a nível superior ou técnico antes de aderirem a grupos terroristas; e que a intenção principal (ou, segundo Pape, o valor estratégico) dos atentados suicídas é muito mais cultural, sócio-econômica e geo-política do que religiosa. Marc Sageman não discorda das características e personalidades acima citadas (em níveis na casa dos 50-60% dos pesquisados), mas conclui que a religião tem sim um papel essencial e providencia uma base transcendental à justificativa e ao valor pessoal percebido em ataques suicídas.

Segundo Pape*, analista de relações externas norte-americano baseando-se em uma pesquisa estimulada pelos acontecimentos inesquecíveis do 11 de Setembro de 2001 em Nova York, o crescimento do terrorismo pode ser atribuído ao fato de que “atentados moderados produzem concessões moderadas”. Para Pape a atividade desses grupos tem um objetivo comum: Combater a ocupação imperial (na maior parte dos casos física, como no caso de tropas russas ocupando a Chechênia ou tropas israelenses ocupando a Faixa de Gaza ou a Cisjordânia), e retomar o senso nacionalista que unifica povos através de uma identidade cultural e étnica comum em fronteiras delineadas.

Assim, Pape traça alguns exemplos históricos de concessões que, segundo evidências um tanto quanto obscuras (e Pape admite isso, de certo modo), parecem coincidir com uma série de atentados terroristas. Hamas, por exemplo, pressionou Israel a desocupar a Faixa de Gaza enquanto já havia assinado o Acordo de Oslo com a Organização para Libertação da Palestina de Yasser Arafat. A intenção, segundo oficiais do Hamas, era levar a cabo cinco ataques terroristas no cerne israelense, mas apenas dois foram necessários. Apesar do acordo, Israel havia ignorado os dois prazos úteis para a desocupação e, Pape conclui, após os dois ataques, a retirada militar ocorreu. Para Pape, o aumento não só do número de atentados, mas de sua natureza violenta advém de pequenos, mas significantes sucessos das causas dos variados e ultra segmentados grupos terroristas. A maior falha estratégica desses ataques passa pelo excesso de choque. Pape diz que “atentados extremos não parecem findar em concessões.”

Sageman procura comprovar que a maioria das concessões citadas não foram nem duradouras nem atribuíveis aos ataques mencionados. Israel ainda voltou a ocupar a Faixa de Gaza na segunda intifada, fato que Sageman usa para fomentar sua conclusão de que ataques suicídas não são necessariamente baseados em um senso estratégico concreto, nem baseados em concessões que para o psiquiatra criminal simplesmente não ocorrem.

O limite que Pape delinea serve para aumentar a necessidade de encontrar qualquer motivo para justificar, empiricamente, o motivo de grupos que atuam em violência extrema - que de todos os modos não surte o efeito esperado. A religião, alinhada a um senso histórico, étnico e cultural providenciam os ingredientes prediletos para quem recruta seus soldados terroristas. A religião em si, explica Sageman, não garante nem justifica a violência e a ética por trás da necessidade da mesma em cada situação, mas alinhada a um senso de violência cultural e histórica, encaixa-se como uma luva na equação, somando legitimidade aos atos mais calamitosos. O budismo, por exemplo, não tendo em sua história uma saga de reação budista violenta como os hindus e os Sikhs ou muçulmanos e judeus (o primeiro grupo terrorista estudado por Pape foi judaico), não vê atos de extrema violência feitos em seu nome.

Rebeldes chechenos também encontram alguma identidade (sunitas muçulmanos) que os separe essencialmente dos vizinhos russos (cristãos ou totalmente seculares), mas a causa, como a causa Palestina, a causa de Sikhs contra Hindus e dos judeus terroristas que formavam um grupo clandestino opondo-se à ocupação de Jerusalém pelo Império Romano, parece realmente ser muto mais pragmática do que meramente religiosa. No entanto, ignorar a religião não como a causa principal de ataques suicídas, mas como um fator importante na fomentação de atitudes violentas minoritárias seria um “grande pecado”. Apesar da dificuldade de encontrarmos causa mesmo encontrando muitas relações entre fatores históricos e análises políticas, é óbvio que a religião contribui para a legitimação do terrorismo islâmico, mas é mais óbvio (só não tão falado) que a maior parte dos seguidores desta religião não são terroristas.

Ainda assim, conforme disse Scott Atran, especialista no Oriente Médio a uma classe de estudantes universitários, talvez seja “olhando para o Leste” que o Oeste começará a vencer o terrorismo. Talvez meramente enxergar seus pedidos, seus dilemas e suas causas já seja o suficiente para amenizar a violência. A diminuição da violência, em outras palavras, geraria paz. Paz gerando paz, e não o oposto. Infelizmente, por enquanto só nos resta ouvir as quarenta badaladas das vítimas russas na manhã de Março.


* A Lógica Estratégica dos Ataques Suicídas

** Entrevista de Marc Sageman para a New American Foundatio