quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Também morre quem nunca atirou

Pense nisso: dois marginais abatem um cidadão na cidade do Rio de Janeiro, roubando seu casaco e tênis. Neste momento, dois policiais surgem, rendem os ladrões, prendem-nos, socorre o cidadão, dão entrada no processo... Dia seguinte, a mídia descobre que as câmeras, instaladas nos interiores das lojas, captaram tudo e exibem-nas em horário nobre. Governador e Comandante vão à TV falar da incrível capacidade da polícia, do excelente preparo dos soldados. Os policiais dão entrevistas ao lado do Secretário de Segurança, são condecorados. A opinião pública dorme sossegada.

Pense nisso: dois marginais abatem um cidadão na cidade do Rio de Janeiro roubando seu casaco e tênis (mas poderia ser apenas a carteira, o relógio, uma cédula de cinco reais). Dois policiais, 60 segundos depois, aparecem em uma viatura, descem, olham para o sujeito estirado na calçada, prosseguem o curso, rendem os dois marginais, pegam os frutos do roubo, guardam na viatura, liberam os marginais (agora, assassinos), batem ponto e vão para casa sem socorrer a vítima ou fichar o acontecido na delegacia.

Pense nisso: o céu ou o inferno é uma questão de segundos. Daqui a pouco, algum maluco vai declarar à mídia que as câmeras poderiam estar externas no Rio de Janeiro todo. Alguém lembrará que George Orwell está mais vivo do que nunca e que isso seria invasão de privacidade, que daqui a pouco estariam nas escolas, hospitais, em casa! Mas a opinião pública não dará bola, monitoramento no cidadão agora! E tudo por causa de dois policiais(?) que, ao invés de fazerem o que deveriam, inverteram o jogo, a moral, o juramento, e botaram tudo pra foder. Inclusive com a já desprestigiada Polícia Militar.

O cidadão assaltado está morto. Assim como todos nós.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Como bem publicou a revista Veja, edição 2108, de 15 de abril, 500 universidades adotariam o novo sistema de seleção para o Ensino Superior. O Enem ganhava confiança e credibilidade.

Aí, um belo dia, um segurança vaza a prova e várias universidades que lucravam com a taxa do vestibular, milhares de cursinhos pré-vestibulares e outras centenas de políticos sorriram, quase gozaram, com a falha estrutural: “o sistema lucrativo, a indústria, está garantido!”

Não acredito que houve interferência do tradicionalismo tacanho e retrógrado ou dos “homens de preto” nessa história, apenas percebo a vitória da selvageria nisso tudo: dinheiro, a pura e simples motivação do dinheiro. Motivação essa que pode ter atrasado um recurso educacional superior ao vestibular. O Enem é muito mais justo e democrático.

Vamos esperar para ver. Que o Governo consiga reverter a situação e a credibilidade volte.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Vamos falar sobre a matemática absoluta do caos

O mundo não brinca de roleta-russa. Na verdade, se se olhar bem, poder-se-á dizer que tudo é baseado na lei da causa e do efeito. Bem, como adentrarei no orifício rugoso do ser humano, deixarei a mesóclise de lado para que a lei física não seja corrompida e tudo fique no mesmo nivelamento.

Todos sabem o que é uma favela, certo? Ah, ta, não existem favelas no Brasil, existem as “comunidades”, um eufemismo barato para dizer que você mora mal pra cacete e, vira e mexe, é acordado com tiros, fogos ou gritos. Enfim, uma “comunidade” só existe porque, lá nos primórdios, o Estado, sem saber o que fazer com aquela “renca” de pobres, retirantes ou não, afastou-os da classe alta, dividindo o Rio de Janeiro com um muro invisível, preconceituoso e miserável. Como todos os acessos (emprego, diversão, escola, etc.) só existiam onde moravam os donos do mundo – e no Rio, quem manda no Rio não quer morar em morro, mas na praia – os “comunitários” resolveram adentrar em áreas próximas ao trabalho, às praças, à escola... Como o asfalto era e é da classe alta, o que sobrou?

Com o passar do tempo, nós, a sociedade, percebemos que aqueles filhos-da-puta, quer dizer, comunitários, sem instrução, proteção, comida ou perspectiva, começaram a incomodar, a ficar visível, e isso era um absurdo! Logo, criamos uma corporação repressora à altura: violenta, odiosa e robótica. Sem essa de “proteger o cidadão”. Cidadão vem de cidade e os metropolitanos não reconhecem os comunitários como “pessoas da cidade”, logo, não são gente. E dá-lhe porrada nos pobres!

Um dia, os repressores perceberam que estavam dando porrada neles próprios (Ora, com esse salário de merda que o repressor ganha, onde vocês acham que eles moram?) e resolveram que não iriam apenas dar porrada, iriam dar porrada e “negociar”.

Enquanto isso, os inocentes morreram, os valores acabaram e a sociedade... Bem, a sociedade descobriu que poderia educar e distribuir melhor o Rio, mas sai muito, mas muito mais barato eleger políticos que adotem o seguinte procedimento: matar bandidos e dar porrada nos pobres.

Portanto, quando você vir outra vez bandidos derrubando helicópteros e incendiando ônibus, ou vir o aparelho repressor da sociedade deixando bandidos fugirem e ficando com o produto do roubo, enquanto o roubado morre, não se assustem! Tudo faz parte da implacabilidade lei da causa e efeito.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

da memória

Dona Maria tem 77 anos e já não consegue reter quase nada na memória: faz a mesma pergunta diversas vezes; não toma banho porque pensa que já tomou ou toma vários porque esquece que já tomou; adora sorvete mas não lembra que saboreou um há minutos atrás. Raquel, sua filha, a leva para passear de vez em quando mas ao voltar Dona Maria já nem se lembra que saíra de casa. Raquel se questiona sobre o sentido de levá-la para passear :


- De que vale uma manhã de lazer se ela não consegue lembrar depois? A vida tem sentido sem lembranças?

Naquela manhã de primavera Raquel levara sua mãe ao parque, pensou nela apreciando o viço das plantas e o colorido das flores. Aquela manhã Dona Maria já esquecera mas à tardinha cantava uma canção enquanto regava suas plantas na varanda. Raquel a observou comovida e sorriu: pensou que de alguma forma Dona Maria registrara o passeio, se não na memória, em seu corpo, na memória dos sentidos.

www.dimensaosalvadora.blogspot.com

quarta-feira, 7 de outubro de 2009


Este Alexandre, professor de História, amante da boa cozinha, resolveu criar este espetáculo de blogue: cozinha e história (porque os dois são saborosos). O nome é: Cozinhando Delícias com Gosto de História. Vale a conferida!
Aliás, para deixar todos com água na boca, aqui vai uma dessas postagens que dá vontade de comer (e estudar)!
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Ao percorrer a Serra das Carrancas, em Minas Gerais, no ano da Independência do Brasil, o naturalista
Auguste Saint-Hilaireassim descreveu as diversas tropas de muares que palmil
havam então aquela região:
"Depois de nós, várias caravanas vieram sucessivamente ab
oletar-se no rancho. Vêm umas do Rio de Janeiro para São João e Barbacena,
carregando sal; vão outras destes arredores para a capital e levam toucinho e queijos. Estes gêneros, que
constituem dois ramos de comércio muito importantes para a comarca de
São João, transportavam-se em cestas de bambus achatados e quadrados: cada cesto contém cinquenta queijos
e dois formam a carga de um burro.(...) O sal é transportado em sacos. Quando c
hegam os tropeiros arrumam as bagagens em ordem e de modo a ocupar o menor lugar possível.(...)"O desconforto não era o único fardo dos tropeiros.As tropas ou eram propriedades das fazendas ou dos
próprios tropeiros, que trabalhavam à frete, subindo e descendo os í
ngremes caminhos da serra. Pelo caminho do Inhomirim, primeira estrada calçada mo Brasil, no início do s
éculo XIX e onde viu todo o ouro das gerais, escorrer em direção à Côrte, assis
tia agora a descida do café para o Porto da Estrela, a margem do Rio Inhomirim, escravos também eram tran
sportados pelos tropeiros.
O feijão do tropeiro, como o arroz do carreteiro, er
a e é a comida de uma gente trabalhadora que fazia suas refeições pela estrada a fora. O próprio indio serv
ira de exemplo com a sua farinha de guerra.O historiador Alípio Goulart, por exemplo, escreveu em Trop
as e tropeiros na formação do Brasil:
" o cozinheiro era outr
a figura importante da tropa (...) logo que a tropa arribava, para o descanso, a atividade desse elemento se desdo
brava, pois os camaradas , mal deixavam os animais no pasto, depois da série de afazeres que lhes competiam,
corriam céleres para o prato de feijão com carne seca e a caneca com café fumegante (...)."
Para seis tropeiros esfomea
dos, de vésperas o cozinheiro da tropa catava e lavava 500 grs. de feijão mulatinho, colocava no caldeirão o qu
e iria ao fogo, devia juntar outros tantos gramas de bacon, outros tantos de toucinh
o de fumeiro. E a carne seca quando tem.

Pesquisa:
PERES, Guilherme. Tropeiros e Viajantes na Baixada Fluminense (Ensaio) - Gráfica Shaovan Ltda. 2000
.

ALVES FILHO,
Ivan. Cozinha Brasileira. Editora Revan.2000
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INGREDIENTES:

1 xícara (chá) de farinha de mandioca
1 Kilo de toucinho para torresmos
1 quilo de linguiça tropeira
1 Kilo de feijão preto
2 ovos cozidos.

Temperos:

3 colheres (chá) de salsinha
3 dentes de alho picados
1 cebola picadinha
sal a gosto

MODO DE PREPARO:

Cozinhar o feijão (não deixar desmanchar). Deixar escorrer o caldo numa peneira. À parte, picar o toucinho, temperar com sal e fritar os torresmos até ficarem amarelinhos. Fritar a linguiça numa panela tampada com um pouco de água. Destampar logo que a água secar, para corar. Em ½ xícara da gordura deixada pelos torresmos ao fritar, refogar os temperos e o feijão cozido sem caldo. Adicionar a farinha e os torresmos. Transferir para uma travessa e enfeitar o feijão tropeiro com rodelas de ovo cozido e contorne com pedaços de linguiça frita. Acompanhe com couve refogada.

MILHÕES DE CONTAMINADOS (pela mídia)

Infelizmente, continuarei postando opiniões e notícias sobre a Gripe Suína, mas explico:
Uma coisa é o alarmismo, outra, muitíssimo diferente, é o oportunismo. Acreditando na segunda hipótese, prefiro massificar, entorpecer e chatear com o tema, para que outra dessas não aconteça de novo...
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Folha não se emenda na gripe suína

Por Luiz Antonio Magalhães em 6/10/2009

Reproduzido do blog do autor, 4/10/2009

A matéria reproduzida ao final deste comentário saiu escondidinha, no segundo caderno do Cotidiano da Folha de S.Paulo, e não mereceu chamada de capa. É inacreditável que o jornal tenha feito o que fez na edição de sábado (3/10). Resumindo a história, depois de afirmar, no dia 19 de julho, na primeira página, que 35 milhões de brasileiros seriam contaminados pela gripe suína, o jornal mandou a campo o seu próprio instituto de pesquisas, o Datafolha, para realizar uma das coisas mais ridículas da história do jornalismo brasileiro.

Sim, porque a enquete mesmo é algo surreal: o Datafolha mandou seus pesquisadores para as ruas perguntar às pessoas se, nos últimos meses, elas tiveram "sintomas de gripe". Com o resultado em mãos, a Folha escreveu outra pérola que não resiste a dois minutos de análise. Segundo o jornal, "27% dos brasileiros tiveram sintomas de gripe desde junho", o que equivale a 51,3 milhões de pessoas. Bem, aí o jornal faz uma continha malandra, diz que 40% desses casos devem ser da variante suína e chega aos 20 milhões de infectados pela doença no Brasil. No meio do texto, a ressalva de que o "auto-diagnóstico" não é propriamente a melhor maneira de se aferir as coisas, mas, enfim, está lá o número grandão – 20 milhões, uma enormidade, e ainda assim, 15 milhões abaixo do "previsto" pelo jornal em julho.

Um espanto

É evidente que a pesquisa não vale coisa alguma e que o número está superdimensionado. Dos tais 27% dos entrevistados (e não de toda a população brasileira, conforme a própria pesquisa mostra, porque não foram pesquisados os menores de 16 anos) que disseram ter tido sintoma de gripe, é bastante provável que um percentual expressivo tenha respondido afirmativamente mesmo no caso de ter passado apenas por um mero resfriado, muito mais comum do que a gripe, conforme apontam os especialistas.

Ademais, a estupidez cometida pelo jornal não se sustenta pela taxa de letalidade da doença. Se de fato fossem 20 milhões de brasileiros com a suína, apenas na faixa acima de 16 anos, admitindo a taxa de 0,4%, já deveriam ter morrido 80 mil pessoas em consequência da doença. Só que não morreram nem duas mil. Realmente, espanta que um jornalista inteligente, estudado e bem formado como Hélio Schwartsman se preste ao triste papel de assinar uma sandice como a que se pode ler a seguir.

27% dos brasileiros tiveram sintomas de gripe desde junho

Pesquisa Datafolha mostra que, nos últimos três meses e meio, o equivalente a 51,3 milhões de pessoas experimentou quadro gripal

Até julho, o vírus da gripe suína correspondia a 40% dos casos leves, o que sugere que 20,5 milhões de pessoas podem ter contraído a doença

HÉLIO SCHWARTSMAN

DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Pesquisa Datafolha mostra que 27% dos brasileiros com mais de 16 anos relataram ter tido "sintomas de gripe" entre junho e a data da entrevista (de 9 a 11/9). Extrapolando essa porcentagem para a população geral, isso significa que algo em torno de 51,3 milhões de pessoas experimentaram um quadro gripal nos últimos três meses e meio.

Mais ou menos a metade delas (14% dos entrevistados, ou cerca de 26,6 milhões) declararam ter procurado um médico -o que explica, com folga, a superlotação dos hospitais.

Evidentemente, nem todo "sintoma de gripe" é de fato provocado por vírus, nem todo vírus respiratório é o da gripe e nem toda gripe tem como agente causador o H1N1 pandêmico.

Dados do Ministério da Saúde sobre os casos menos graves indicam que o novo H1N1 respondia por 40% das amostras processadas até o fim de julho. A partir daí, a pasta concluiu que o esforço de fazer o diagnóstico laboratorial de quadros leves não compensava e passou a testar só os mais graves. Nessa situação, no auge da epidemia (primeira semana de agosto), o H1N1 foi identificado como causador de 58% das síndromes respiratórias agudas graves notificadas e testadas.

Se aplicarmos o "deflator" de 40% aos 51,3 milhões de quadros gripais, chegamos a 20,5 milhões, que representam, na opinião de infectologistas, uma estimativa bruta defensável dos casos de gripe suína ocorridos até o momento.

"Não dá para publicar um artigo científico no "New England Journal of Medicine", mas, com as devidas ressalvas, [esse método] serve para dar uma ideia do tamanho da epidemia aqui", disse Esper Kallas, da USP e do Hospital Sírio-Libanês.

O principal problema, aponta, é que não dá para equiparar o autodiagnóstico a um diagnóstico médico. "Mas não há como avançar mais numa entrevista simples [como a do Datafolha]."

O médico afirmou também que não se surpreenderia nem se os 27% tivessem tido a gripe suína. Ele disse que já há estudos apontando para uma circulação de 30% do H1N1 no Chile.

Celso Granato, do Laboratório Fleury, que ajudou a Folha a preparar o questionário do Datafolha, considerou os 27% um índice elevado: "Não esperava tanto!". Relativizou o problema do autodiagnóstico lembrando que o ministério acaba de fazer uma longa campanha na TV para explicar o que é gripe.

Também disse que o índice de 14% de procura por um médico sugere consistência no comportamento dos entrevistados. "Ninguém vai ao médico por um resfriadinho", afirmou.

Nordeste

O diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, David Uip, surpreendeu-se com a porcentagem de quadros gripais apurada no Nordeste, que superou a do Sudeste. "Só isso já merece uma investigação."

Uma possibilidade aventada pelo médico é que a ampla repercussão midiática da epidemia tenha contribuído para inflar os números nordestinos.

A literatura médica é quase unânime em apontar incidência decrescente de gripe conforme se avança para o norte. Também não se verificou, no Nordeste, pressão tão forte sobre o sistema de saúde quanto a observada no Sul e no Sudeste.

Kallas, porém, disse que, com a circulação cada vez maior de pessoas entre cidades e regiões, não esperaria taxas tão menores no Nordeste.

Vale ainda observar que os 51,3 milhões constituem uma extrapolação conservadora, pois a metodologia do Datafolha não considera a população até os 16 anos, justamente a mais suscetível a contrair vírus respiratórios em geral. Esse recorte etário representa cerca de 25% da população.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Ganhamos? Sim (ou não?)

Somos os escolhidos, enfim.

Esperemos que, a teoria vire a prática (70% já está bom), pois quem sempre paga os custos e o pato somos nós, os de sempre.

Que as estruturas sejam bem administradas depois do evento.

Que as contas sejam melhor direcionadas antes, durante e depois do evento.

Que os ingressos sejam cabíveis no bolso dos brasileiros.

Eu adoro Olimpíadas e Copa do Mundo, portanto, sinto-me orgulhoso.

Orgulhoso, mas preocupado.

O Brasil ganhou, agora é tempo de fiscalizar!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O Rio de Janeiro continua... Gastando...

Moradores de Chicago (não todos, é claro) fizeram um sitio delicioso sobre a corrida olímpica para 2016. Chama-se Chicagoans for Rio.

Vale a conferida e os risos debochados (para quem lê inglês...Como eu não falo, leio a notícia aqui, ó, no Lance).

A ESPN Brasil (este puta canal de esportes), que sempre levou a notícia a sério, também trouxe a sua visão:

Os prós e os contras dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016 no Rio

por Vinícius Moraes Scarpini, do ESPN.com.br

A realização de um evento grandioso que interfere em questões sociais, políticas e econômicas como uma Olimpíada divide opiniões. Nesta sexta-feira, em Copenhague, o Rio de Janeiro pode ser escolhido pelo COI para sediar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. Saiba quais são os prós e contras das Olimpíadas serem na Cidade Maravilhosa, o que precisa ser feito e o que já está pronto, o que pode ser benéfico e o que pode ser prejudicial após o evento.

Prós:

Entre os dias 27 de abril e 03 de maio, os organizadores da candidatura carioca receberam o COI. O orçamento proposto foi de aproximadamente R$ 29,5 bilhões, divididos em infraestrutura urbana, construções e reformas de instalações esportivas. Estes investimentos ficariam como legado para cidade e sua população.

As instalações esportivas construídas para os Jogos Pan-Americanos teoricamente deram ao Rio de Janeiro uma base para a proposta visando a Olimpíada. Segundo os organizadores da candidatura, 29% das instalações exigidas para os Jogos de 2016 já estão totalmente prontas, enquanto outros 24% precisam de modernização. Entre os locais prontos destacam-se o Maracanãzinho (vôlei), a Arena Olímpica (ginástica) e o estádio do Maracanã (cerimônia e futebol). No entanto, até mesmo esses locais necessitam de uma boa reforma para os Jogos.

Para garantir o fluxo e deslocamento prático e rápido dos envolvidos nos Jogos Olímpicos sem causar um colapso no trânsito da cidade, as autoridades prometem tirar do papel um projeto para o uso de ônibus em corredores exclusivos como parte de um investimento total em transportes de cinco bilhões de dólares. Além disso, as novas linhas de BRT (Bus Rapid Transit) devem ficar prontas até 2015 como planejado, integrando as quatro principais regiões de competições.

A poluição é inimiga de vários locais de instalações esportivas. A Baía de Guanabara está poluída há décadas. A Lagoa Rodrigo de Freitas, outro ponto alto das belezas naturais que receberá provas durante os Jogos, também precisa ser limpa. Mas um plano do governo federal prevê um investimento de quatro bilhões de dólares para a despoluição das águas, enquanto os organizadores prometeram plantar 214 milhões de árvores no Estado do Rio para neutralizar as emissões de gases causadores do efeito estufa geradas pelas operações dos Jogos Olímpicos.

Contras:

Das quatro concorrentes a sediar os Jogos de 2016, o Rio de Janeiro é a cidade indicada com menor infraestrutura previamente pronta e terá muitas promessas para cumprir.

A acomodação de turistas, trabalhadores, voluntários e atletas é um dos maiores problemas. No relatório de avaliação do COI, a proposta carioca foi a única a receber ressalvas sobre o tema, já que a maior parte dos quartos oferecidos ainda precisa ser confirmada. Pela proposta da cidade, serão 48 mil quartos disponíveis.

A má reputação devido ao insucesso do Complexo Habitacional dos Jogos Pan-americanos pode dificultar a estratégia que será a mesma do evento de 2007: mais de 25 mil estão localizados em três condomínos de edifícios que serão construídos em pontos diferentes da cidade e depois vendidos no mercado imobiliário, assim como a Vila Olímpica.

O histórico de gastos do Pan também preocupa. O orçamento inicial nos Jogos de 2007 teve aumento de 1.000% no final da competição (de R$ 400 milhões para R$ 4 bilhões), o que aumenta a desconfiança nos políticos, administradores, dirigentes e empresários mal intencionados.


Outra preocupação contra os Jogos Olímpicos no Rio são os projetos mal planejados. O Parque Aquático Maria Lenk (saltos ornamentais e pólo aquático), legado do Pan, está entre as instalações que precisarão ser modernizadas, mas ainda assim não terá o tamanho necessário para as provas de natação, que serão disputadas em um outro estádio a ser construído com capacidade para 18 mil pessoas. No caso de Madri, das 33 propostas de instalações esportivas, 23 já existem, oito precisam ser feitas e duas são temporárias.

Propostas ambiciosas de transporte para o Pan-2007 não foram cumpridas - como a extensão do metrô e o uso de barcas pela orla carioca -, o que provocou congestionamentos ainda maiores do que o comum pela cidade devido às faixas de trânsito exclusivas destinadas aos credenciados durante o Pan.

Problema recorrente nos últimos anos, o tema segurança preocupa bastante o COI. As favelas controladas por facções criminosas que disputam o controle do tráfico de drogas dividem a paisagem da cidade com os belos cenários naturais e bairros luxuosos. Nessas comunidades, centenas de mortes acontecem todos os anos em confrontos com a polícia.

Apesar de a maioria das instalações esportivas estar fora do alcance das favelas, dois eventuais ícones dos Jogos no Rio estão em áreas consideradas de risco: o Estádio Olímpico João Havelange, situado no subúrbio do Engenho de Dentro, e o próprio Maracanã (palco das cerimônias e do futebol), distante poucos quilômetros da favela da Mangueira, cenário de conflitos internos e operações da polícia contra o tráfico de drogas.